Colaboração, Trabalho em equipe e as Tecnologias de Comunicação:
Relações de Proximidade  em Cursos de Pós-Graduação.

CAPÍTULO III

PARCERIA COLABORATIVA  COM ALUNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
 

"Nos Cursos de Pós a experiência de colaboração depende da proposta do curso, da forma de gerenciamento dele pelo professor e da relação que estabelece com os alunos. Minha experiência nos dois últimos anos foi muito rica em formas de colaboração presenciais e virtuais"(Morán, 1999)

 
 

Neste capítulo, apresento a metodologia de uma pesquisa sobre parcerias colaborativas desta pesquisadora com seus alunos de Pós-Graduação
Stricto Sensu e Lato Sensu com ações mediadas ou não pelas tecnologias de comunicação.

3.1 A Pesquisa

Os resultados das pesquisas educacionais sobre novas abordagens de ensino mediado ou não pelas tecnologias de informação e de comunicação encaminham para procedimentos difíceis de serem implementados na maioria das escolas. Entretanto, esses resultados apontam para práticas que me entusiasmavam. Motivada por esses relatos, procurei superar dificuldades e realizar atividades docentes que buscassem despertar o interesse e a participação ativa dos alunos através de práticas colaborativas com o auxílio ou não das tecnologias .

Desta forma, iniciei cursos e disciplinas em que as discussões eram realizadas a partir de situações verdadeiras pertinentes às realidades vividas tanto pelo professor quanto pelos alunos. Muitos dos alunos - professores de cursos de graduação - se comprometiam na busca do seu conhecimento a examinar criticamente a sua ação em sala de aula e passavam a documentá-la para analisá-la e melhorá-la. Decidi partir para uma pesquisa reflexiva sobre a minha prática que poderia vir a ser uma contribuição para a atividade docente em cursos de Pós-Graduação.

Optei, então, pela pesquisa qualitativa reflexiva tendo como perspectiva a história de vida profissional com o recorte da minha vivência enquanto professora de cursos de Pós-Graduação de Stricto e Lato Sensu.

Desenvolvi, inicialmente, um diálogo interior, estabelecendo quais seriam as questões que me interessariam ver analisadas nesse momento. Entre as muitas que se apresentavam, limitei-me às questões referentes à colaboração, à participação ativa e à construção conjunta que, na minha prática, estão intimamente ligadas à integração das tecnologias de comunicação na mediação educativa.

A partir dessa delimitação, passei à seleção dos documentos - material didático utilizado nos cursos e produção dos meus alunos - com os quais um novo diálogo se realizaria. À medida que a seleção e a análise desses documentos aconteciam, um terceiro diálogo se instaurava, um diálogo com alguns teóricos e com alguns especialistas que trabalhavam essas questões em termos gerais no Brasil e no exterior. Esse diálogo era necessário tanto para me aprofundar nos pontos em que me sentia insegura quanto na busca de esclarecimentos ou de corroboração às minhas descobertas. Em paralelo, continuava a estabelecer diálogos com meus alunos e com meus pares na minha prática docente, até mesmo durante a redação final desta tese.

Esta pesquisa tem como objetivo ajudar outros professores perceberem como o trabalho colaborativo ajuda-nos na mediação da prática pedagógica e provoca o crescimento de todos os envolvidos nessa prática.

3.2 Sujeitos

Os sujeitos desta pesquisa são alunos de dois diferentes grupos: o grupo I, formado pelos alunos das disciplinas Multimídia e Comunicação Educativa, Laboratório de Educação a Distância e Redes de Comunicação e Processos Educacionais, do programa de Pós-Graduação de Mestrado em Tecnologias Aplicadas à Educação de uma universidade particular em São Paulo; o grupo II, formado por alunos de Filosofia e Tecnologia, do programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação e Tecnologia de uma universidade particular no litoral de São Paulo. Que serão caracterizados a seguir.

Caracterização dos grupos

Os sujeitos desta pesquisa, já definidos como alunos de cursos de Pós-Graduação tem como ponto comum atividades ligadas à educação escolar, quer atividade docente, propriamente dita, quer atividades de coordenação pedagógica ou de administração escolar. Há algumas especificidades entre os dois grupos que descreverei a seguir.

O grupo I é composto de 75 alunos, inscritos em turmas de 25 alunos na disciplina obrigatória "Multimídia e Comunicação Educativa", nos primeiros semestres de 1996, 1997 e 1998. Desses mesmos alunos, oito alunos (2 de 1996, 2 de 1997 e 2 de 1998) se inscreveram na disciplina optativa "Laboratório de Educação a Distância" , no segundo semestre de 1998 e dez alunos (1 de 1997 e 9 de 1998) se inscreveram na disciplina eletiva "Redes de Comunicação e Processos Educacionais" , no primeiro semestre de 1999.

O Grupo II tinha inscrito no primeiro dia de aula, em 1998, 18 alunas e 2 alunos. Os dois alunos trancaram a matrícula após tomarem conhecimento do caráter mias pedagógico do que técnico do curso e a partir da segunda aula cursaram 18 alunas, das quais duas desistiram no final por problemas graves de saúde. Encerrada minha disciplina, sendo coordenadora desse curso de Lato Sensu específico, continuei a acompanhar as 16 alunas via telemática o final do curso, sendo responsável pela correção das monografias de fim de curso (setembro de 1999).

No grupo I, a maioria dos alunos estava na faixa de 30 a 50 anos (Tabela 1) enquanto no grupo II, o maior número de alunas estava na faixa de 40 a 50 anos. Este é um dado interessante, pois a procura do Mestrado em Educação a partir de 1996 deve-se mais às exigências que o MEC passava a fazer em relação à formação dos professores do Ensino Superior e à imposição das instituições a seus professores que se titulassem dentro de um determinado período de tempo. Já, em relação ao grupo II, os cursos de Lato Sensu são mais procurados por profissionais que desejam se atualizar e aperfeiçoar em suas áreas de atuação. A oferta desse curso de Tecnologias da Comunicação Aplicadas à Educação atraiu professores, coordenadores e diretores do Ensino Fundamental e Médio que desejavam se capacitar nessa área cada vez mais relevante na educação. De qualquer forma, nos dois grupos, havia um número bastante pequeno de professores recém-formados. No grupo I, todos os seis alunos da faixa de 25 a 30 anos foram pressionados a matricularem-se no Programa de Mestrado pela instituição em que ensinavam. Por outro lado, os alunos maiores de 50 anos, em número menor, também indica mais uma pressão da necessidade da titulação do que o desejo de atualização. O que não significa que tanto mais novos como os mais velhos não quisessem de fato se atualizar e se aperfeiçoar.

Tabela 1 Caracterização dos alunos: Faixa etária
 
Idade
Grupo I
Grupo II
25 a 30
6
2
31 a 40
26
4
41 a 50
30
10
51 a 60
10
0
> 60
3
0
Total
75
16

Quanto à formação acadêmica dos alunos do grupo I, ela é bastante heterogênea (Tabela 2). Alguns alunos tinham duas graduações (Letras e Pedagogia, por exemplo) outros já haviam feito cursos de Lato Sensu pois já ensinavam em programas de Graduação há muito tempo. No grupo I, as áreas de engenharia e pedagogia apresentam maior concentração de professores. Isto se explica por duas razões principais: Os de pedagogia, por ser um curso de Mestrado em Educação, os de engenharia, porque a instituição firmou um convênio com a Escola Técnica Federal oferecendo bolsas para os professores que desejassem fazer o Mestrado na instituição. Dentre os professores da Escola Técnica Federal que se matricularam no ano de 1996, além dos engenheiros, estavam ainda um professor de Música, um de teatro, de Física e de Matemática.

Tabela 2 Caracterização dos alunos: Formação acadêmica
 
Formação
Grupo I (3tx25)
Grupo II
Administração de Empresas
8
0
Arquitetura
1
0
Artes (Teatro/ Música)
2
0
Ciências Contábeis
3
0
Direito
4
0
Educação Física
4
0
Economia
0
1
Engenharia
11
0
Física
2
0
Fisioterapia
3
0
Fonoaudiologia
1
0
História
1
0
Letras
8*
4
Matemática
6
4
Medicina/ Biologia
1
1
Pedagogia
16**
5
Processamento de Dados
3
1
Psicologia
2
1
Turismo
3
0
Total
75
18
* 4 têm Pedagogia ** 4 têm Letras, 1 tem História, 1 tem Filosofia

No grupo II, há uma concentração quase equivalente entre Pedagogia (entre elas uma diretora e uma coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental e Médio), Letras e Matemática

Na Tabela 3, podemos verificar que no grupo I a maioria dos alunos atuavam no Ensino Superior, muitos atuavam no e nas mais diferentes áreas, enquanto no grupo II, a concentração dos alunos atuando no Ensino Fundamental e Médio.

Tabela 3 Caracterização dos alunos: Atuação Profissional
 
Nível Educacional
Grupo I
N. % 
Grupo II 
N. %
Ensino Fundamental 1a a 4a
1
1,34
4
22,23
Ensino Fundamental 5a a 8a
0
0
7
38,88 
Ensino Médio
4
5,34
6
33,34 
Ensino Médio Técnico
21
28,00
0
0
Ensino Superior
47
62,66
1
5,55
Treinamento e RH
2
2,66
0
0
Total
75
100
18
100

Constatamos, assim. a partir das Tabelas 2 e 3, que os sujeitos desta pesquisa são, em sua maior parte, professores com formação nas mais diferentes áreas do conhecimento; professores das mais diversas disciplinas do Ensino Médio Profissionalizante, fonoaudiólogas, fisioterapeutas, engenheiros (as), advogados (as), artistas, diretores (as) de Ensino Fundamental, analistas de sistemas. Atuam na área de educação formal ou informal, escolar ou profissional, têm um interesse em comum, a educação e inscreveram-se nos referidos cursos por causa do tema Educação e Tecnologia.

A maioria deseja melhorar sua prática e preparar-se para atuar no Ensino Superior ou no Desenvolvimento de Recursos Humanos, nas mais diversas áreas, na docência, na pesquisa, na organização e na administração de cursos, na elaboração de materiais didáticos ou no desenvolvimento de programas de Educação a Distância. Alguns tinham como objetivo manter seus empregos e/ou ascender na carreira acadêmica.

3.3 Documentos

Utilizei como documentos para a pesquisa um questionário, roteiros de observação individual e grupal das atividades de grupo, fotografias tiradas em situações de trabalho, uma videogravação, relatórios de trabalhos individuais e em grupo, correspondência eletrônica e trabalhos realizados com diversas mídias.

Questionário Roteiros, Fotografias e Videografia. O questionário (anexo 1) me possibilitou colher informações de como esses sujeitos entendem conceitos ligados à educação, comunicação e tecnologia, qual é o grau de familiaridade( naquele momento) com as tecnologias de comunicação. Os roteiros de observação e de avaliação me auxiliavam na tarefa de desenhar o perfil de meus alunos durante o curso e para a minha pesquisa.

Produção dos professores-alunos. Durante os cursos, os participantes fizeram produções individuais e coletivas como alunos e como professores, que me ofereceram elementos para desenvolver inferências sobre seu discurso e sua prática. Essas produções incluem resenhas, sínteses, plano de aula com utilização de uma ou mais (diferentes) mídias, projeto de pesquisa, apresentações multimídicas, "home-pages", etc.

3.3 Ambiente

Uma das variáveis entre os grupos das duas instituições foi o ambiente onde se realizaram as atividades pedagógicas com os alunos.

Uma das instituições me ofereceu sala de audiovisual e laboratórios com acesso direto à Internet, disponibilizados em um computador para cada aluno e salas comuns, estrutura onde se pode desenvolver um trabalho em equipe. A outra instituição oferecia salas de aula, com paredes nuas, ventiladores barulhentos, carteiras enfileiradas, em algumas salas presas ao chão, quadros de giz, com aparelhos de TV e vídeo, de baixa qualidade, controlados a partir de uma central, distribuidora da imagem a ser trabalhada em sala de aula. O laboratório de multimídia disponibilizado a partir de agendamento prévio, além de oferecer um acesso à Internet em velocidade muito lenta não permitia o armazenamento em disquetes do resultado da pesquisa ou do material criado através de aplicativos de processador de texto ou de multimídia. Este era de fato um paradoxo, uma vez que se apregoa a liberdade e a possibilidade de socialização do saber pela Internet, responsáveis que se prendem ainda à estrutura dos herméticos CPDs (Centros de Processamento de Dados) continuam a responder pela coordenação dos atuais laboratórios de Informática e dos serviços da Internet nas instituições de Ensino Superior. Essas pessoas criam diversos impedimentos a professores e alunos de Pós-Graduação ( o que não dizer em relação aos professores e alunos dos cursos de Graduação) para o livre acesso e utilização dos serviços da Internet.

Essas diferenças de ambientes tiveram influências determinantes nos resultados das atividades e nos próprios projetos como apontarei no capítulo V.

3.4 Procedimentos

Para chegar ao resultado final desta tese, inicialmente, estabeleci uma conversa com autores que já havia visitado em outros momentos de minha vida profissional e nos cursos que me valeram créditos, tanto no programa de Mestrado como no de Doutorado. Essa conversa foi sendo aprofundada à medida que eu trabalhava na pesquisa. Delimitei meu tema e selecionei os documentos, já referidos que eu utilizava na minha prática docente e que poderiam me auxiliar na pesquisa, e defini outros, como as "home-pages", criadas, individual ou coletivamente , pelos alunos.

Determinei, em paralelo, qual seria o grupo de sujeitos sobre cuja atuação desenvolveria minhas reflexões. Ao iniciar o levantamento de documentos e a releitura de especialistas, decidi não limitar minhas reflexões ao estudo dos alunos do Mestrado em Educação, mas estendê-lo aos alunos de um dos diversos cursos de Pós-Graduação e Extensão que venho ministrando desde 1996, um curso de Pós-graduação Lato Sensu, Tecnologia aplicada à Educação. além desses dois cursos, procurei me valer da experiência, das lembranças e de registros de outros cursos, uma vez que muitos dos comportamentos, situações, descobertas eram recorrentes e a grande maioria dos alunos eram educadores – professores, pedagogos, psicólogos, engenheiros, médicos, advogados - atuando junto a alunos e outros professores.

Durante todo o semestre letivo, em cada turma, os sujeitos haviam produzido resenhas (individuais) de textos recomendados para leitura semanalmente. Na sala de aula, participavam de atividades individuais, em equipes e em um só grande grupo. A participação de cada aluno era considerada (tanto no seu desempenho individual como no trabalho em equipe) após cada aula o que me permitia uma avaliação somativa de sua aprendizagem. Essa avaliação revelava que havia reforço de algumas concepções, crenças, habilidades e atitudes e mudança de outras. Algumas dessa participações foram videogravadas ou registradas em fotografias analógicas ou digitais que serviram de documentos para a análise de certas situações.

Concentrei-me na hipótese da colaboração, participação e construção conjunta otimizadas pelas novas tecnologias de comunicação e voltei-me, novamente para o material já lido e coletado com um olhar mais profundo a partir desta perspectiva.

Realizei a análise dos documentos selecionados a partir das categorias comprometimento com o curso, colaboração, trabalho em equipe e utilização eficiente das tecnologias – multimídia e telemática.

Finalmente, parti para a redação final desta tese a partir de um olhar mais reflexivo sobre todo o material lido, classificado, selecionado e analisado levando em consideração não só o trabalho colaborativo com meus alunos, mas também com meus pares nas duas instituições em questão.

No próximo capítulo, explicito de forma detalhada a atuação de alunos e professores indicando se houve ou não comprometimento, colaboração e construção significativa conjunta e de que modo as tecnologias contribuíram ou não para a melhoria do ensino.
 

Autora: Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo
Colaboração, Trabalho em equipe e as Tecnologias de Comunicação: Relações de Proximidade  em Cursos de Pós-Graduação. Tese de Doutorado - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2000. 
Orientadora: Profa. Dra. Vani Moreira Kenski .

 


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