Colaboração, Trabalho em equipe e as Tecnologias de Comunicação:
Relações de Proximidade  em Cursos de Pós-Graduação.

CAPÍTULO II

COLABORAÇÃO E METÁFORAS COLABORATIVAS


"Se as pessoas podem compartilhar abertamente com os outros suas experiências, premissas e crenças em relação às suas expectativas do que iria acontecer ( o que o projeto objetivava produzir) e o que realmente aconteceu (os resultados da experimentação conjunta) a discrepância entre as duas pode ser percebida e, de forma confiável compreendida. Esse processo pode favorecer a percepção comum da natureza da questão e, se registrado em alguma forma de memória do grupo, pode dar informações aos futuros projetos colaborativos" (Ryan, 1996:145).


A colaboração é a base de uma parceria sólida e produtiva e ambas são essenciais para a realização de um projeto onde se espera uma construção conjunta em qualquer atividade humana. Assim, na educação escolar, a colaboração também é fundamental, e deve estar presente na parceria entre professores, entre professores e alunos e entre alunos e alunos.

Para caracterizar melhor o que entendo por colaboração, busquei dialogar com alguns estudiosos, com meus pares e alunos. Todas essas contribuições estão de alguma forma explicitadas neste texto.

2.1 Colaboração - conversa com os especialistas

Chamo conversa porque na verdade a leitura dos poucos textos encontrados sobre colaboração não foi uma leitura de absorção do que estava escrito, mas um diálogo, entremeado por pausas e buscas de outros textos ou de retorno a parágrafos já lidos no mesmo texto. Uso conversa, pois era como se os autores estivessem me respondendo a algumas de minhas questões ou formulando-me perguntas que me obrigavam a refletir e buscar a respostas em outros textos.

Constatei que ao mesmo tempo que HALL (apud SCHRAGE,1995:37) afirma que "há uma atração natural para colaborar. Talvez seja um dos princípios básicos da vida em substância", SCHRAGE comenta que a o pensamento intelectual ocidental parece não considerar a colaboração como um comportamento criador vital.

Em VYGOTSKY (1991) a colaboração é uma espécie de catalizador para que as crianças desenvolvam a capacidade de raciocínio ao usar com seus colegas e com o adulto, técnicas e estratégias de raciocínio ao solucionarem em conjunto algum problema, posto que o "curso do desenvolvimento do pensamento vai do social para o individual" (VYGOTSKY, 1991:18). As interações colaborativas podem contribuir para o desenvolvimento de processos cognitivos de seus participantes. Estes, ao interagirem de forma colaborativa, fazem negociações, compartilham materiais, produtos, observações, conhecimento anterior, desenvolvem uma construção conjunta do conhecimento.

Para desenvolvermos uma colaboração, temos que criar e manter relações que incluam interesses pessoais e sociais comuns entre nós e os demais parceiros que compõem uma densa teia de conexões interpessoais que, por sua vez, pode mesmo gerar outros projetos previstos.

Alguns critérios são básicos para o processo de que a colaboração se concretize em um projeto conjunto, a saber, entendimento pessoal, compatibilidade filosófica e visão compartilhada. O entendimento pessoal, que podemos conseguir através da auto-análise, se realiza quando cada participante se avalia e percebe o que pode oferecer e do que precisa, ao estabelecer o compromisso de colaboração. A compatibilidade filosófica engloba a confiança e os sentimentos que "alavancam ou neutralizam " um relacionamento pessoal e transcendem a realização de um projeto podendo ser determinantes em momentos de tensão. Confiança, respeito, interesse e comprometimentos são tão essenciais quanto a visão compartilhada, isto é, compatibilidade de valores e princípios comuns, perspectivas para o futuro, experiências semelhantes ou complementares e quase nenhum motivo de conflito. As parcerias colaborativas são sistemas vivos e podem, dependendo das circunstâncias crescer e desenvolver-se ou minguar e fracassar (KANTER (1994: 96-108). Depende de nós, seus participantes.

As regras de colaboração que devem ser seguidas para que a colaboração seja efetiva e a parceria seja bem sucedida podem ser diferentes para autores que estudam a colaboração e a parceria no campo dos negócios (SCHRAGE, 1990, KANTER, 1994:96-108), mas servem de referência para as que tratarei aqui no campo educacional e envolvem elementos como competência, objetivos comuns, espaço de criação, interdependência, integridade, diferentes formas de representação, investimento, jogo de representações, comunicação constante, integração, ambientes formais e informais, limites de responsabilidade bem definidos, divergência e argumentação, tecnologias e trabalho a distância, assistência externa, bem como o fim de uma colaboração.

2.1.1 Regras de Colaboração

As considerações sobre essas regras serviram de referências para a análise dos projetos estudados no capítulo IV.

Competência. A colaboração se dá quando os participantes de um projeto ou de uma ação coletiva compõem uma rede cujas inter-relações dependem de que cada um tenha alguma competência em relação ao trabalho que se vai desenvolver. Não se espera que a competência de todos seja a mesma nas mesmas áreas; ao contrário. É importante que as competências se complementem e que cada participante se enriqueça a partir da competência do outro. Cada um deve trazer uma contribuição significativa para a relação. E entendemos aqui competência nas mais diversas áreas e níveis – quer no aspecto formal, quer no aspecto de conteúdo.

Objetivos comuns. Para a colaboração se concretizar outro fator indispensável é que os participantes da ação tenham objetivos comuns. Na verdade, cada participante tem seus objetivos de longo prazo, próprios aos seus projetos individuais, mas há aqueles com os quais os objetivos do projeto coletivo se interrelacionam. Esta é uma questão de fundamental importância, pois se os objetivos são diversos, pode não se chegar a nenhuma construção significativa.

Interdependência. Para que a colaboração ocorra de fato, a dependência não pode ser unilateral. Todos os participantes precisam de todos, já que cada um traz valores, competências e habilidades próprios que contribuirão para o funcionamento eficaz do todo. Em um projeto colaborativo, cada parte do trabalho pode ser desenvolvida por um ou mais indivíduos, em consonância com o todo. De modo que, à medida que o projeto for sendo desenvolvido, as partes vão se integrando para a consecução final do mesmo. A interdependência desenvolve um sentido de responsabilidade do indivíduo em relação ao coletivo em que ele está inserido pois falhando uma parte, o todo sofrerá seus reflexos. Não é uma justaposição de resultados, mas uma conjunção constante de resultados que desencadeiam novas procuras e , muitas vezes, implicam em reorientações e relocações. Naturalmente, este fator não só supõe, mas reforça o espírito de responsabilidade individual e do grupo.

Limites de responsabilidade bem definidos. Sem funcionar como camisa de força, os projetos colaborativos precisam contar com a definição de papeis e das responsabilidades individuais. Se há uma interdependência entre as fases, entre as partes, entre as diversas funções para a realização do projeto, é fundamental que cada um saiba exatamente qual é o seu papel e qual é a sua responsabilidade; o que esses limites permitem e quais são os eventuais benefícios ou prejuízos inerentes a essas funções e responsabilidades. O conhecimento e a consciência de seu papel e da sua responsabilidade é essencial para a realização colaborativa. Mas só a responsabilidade individual não é suficiente. Faz-se necessária a integridade individual que se projetará na integridade do grupo.

Integridade. Respeito mútuo, tolerância e confiança são essenciais para a colaboração. Devemos buscar trabalhar com a excelência e não com a fraqueza de cada um. Os participantes devem se comportar de modo a justificar a confiança mútua. Não devem usar as informações conseguidas pelo grupo em proveito próprio e detrimento dos outros, nem buscar enfraquecer ou submeter uns aos outros. Não exigimos que todos participantes tenham amizade ou se estimem, mas é fundamental que se respeitem e trabalhem para o crescimento do grupo. MACHADO2 (1997:80-94) nos lembra que a tolerância se instala a partir do reconhecimento da existência do outro. Ao desejar colaborar como o outro, estou reconhecendo a existência do outro, e esta atitude deve ser acompanhada, também, da minha compreensão da perspectiva do outro, mais ainda, da assimetria que existe entre mim e o outro, da possibilidade de nos comunicarmos apesar de termos nossas características e nossos projetos individuais diversos. E é através dessa tolerância que respeitamos a diversidade e a incorporamos aos nossos trabalhos, investindo nosso tempo, nossa e dedicação na realização de uma ação colaborativa..

Investimento. Se os participantes são indivíduos íntegros, que se respeitam, que se compreendem e que não se consideram uns melhores do que outros, o investimento de cada um será proporcional ao do outro. E investimento, aqui, se entende por tempo, dedicação e comprometimento. A fala deve ser espontânea e simultânea, isto é, ouvir e falar. Saber falar, mas, sobretudo, saber ouvir. Conjecturar, argumentar, refletir com veemência e segurança são atitudes essenciais. Ao mesmo tempo, saber considerar os contra-argumentos, as demonstrações e as reflexões dos outros participantes, incorporá-las quando procedentes e reconhecer que as suas convicções naquele momento não são as mais apropriadas. Isso é investir na relação com integridade. Investimento este que tem como um de seus valores a informação.

Informação. Os participantes devem manter um fluxo simétrico de ação e informação constante, de modo que não haja apenas a contribuição com informação de apenas um dos participantes. A informação precisa ser discutida, analisada, processada pelo grupo que a transformara em conhecimento enriquecedor da ação colaborativa que o grupo estiver realizando. E informação, aqui, se refere não só aos dados técnicos, como tudo o que seja pertinente ao trabalho conjunto, até mesmo o conhecimento de conflitos. A antecipação de zonas de divergências, de obstáculos a serem contornados ou vencidos, de dificuldades imprevisíveis é informação fundamental para o planejamento e replanejamento de ações colaborativas.

Divergência e argumentação. A unanimidade não é uma característica positiva em uma ação colaborativa. Na verdade, da divergência e da argumentação, de uma dialética consciente podem nascer produtos ricos e significativos para cada um dos participantes. O fundamental é que a divergência seja considerada, que gere investigação, pesquisa, argumentação e contra-argumentação consubstanciada. Desse processo podem resultar novas ações ou produtos mais consistentes com os objetivos a serem alcançados. Dessa forma não haverá desintegração do grupo de participantes colaborativos.

Integração. Uma vez que os parceiros constróem amplas conexões entre si e desenvolvem tanto formas de trabalho interligadas como compartilhamento de informações e de seus conhecimentos específicos, tornam-se professores e alunos uns dos outros. Assim, toda a ação colaborativa, todo o projeto se desenvolve de forma integrada. Isso é fundamental para o bom andamento do projeto, pois a ausência inesperada, de qualquer um de seus integrantes pode, momentaneamente, ser minimizada com a contribuição dos demais por estarem integrados e, não só o projeto continua sendo realizado, como ao retornar, esse integrante será informado do andamento do projeto durante a sua ausência, podendo reintegrar-se sem problemas com sua competência e especificidade de participação colaborativa.

Comunicação. Essencial, nos projetos colaborativos, é a comunicação que se instala entre os parceiros. A comunicação que se dá através das mais diferentes representações têm que ser contínua sem que, necessariamente, seja constante e o tempo todo. A comunicação, como uma via de múltiplas entradas, permite que as construções pessoais sejam enriquecidas com as contribuições dos outros e que aquela integração esperada aconteça e que a interdependência seja mantida e todo o processo seja realimentado. Em projetos cuja comunicação é descontinua e superficial, as redundâncias e as ausências são muito constantes e o resultado não é o desejado. Essa constante comunicação pode ainda facilitar a criação se acontecer em espaços colaborativos.

Espaço de criação. Scrhager (1990) enfatiza a necessidade de se ter um espaço para a colaboração. Um espaço que servirá "como modelo e como mapa ...O espaço compartilhado serve como um teste de autenticidade para o ato da colaboração". Por exemplo, se a colaboração é a escritura de um livro, então o planejamento do livro é o espaço compartilhado, é ao mesmo tempo a instância que certificará que as competências de cada um somarão um todo muito mais significativo. É um espaço de manipulação da ambigüidade, de criação, de experimentação, de interação e de integração dos participantes da ação colaborativa. Um espaço em que cada um poderá trabalhar e criar com diferentes representações.

Diferentes formas de representação. Lingüística, visual, matemática, digital, as mais diversas representações são necessárias no desenvolvimento de uma ação colaborativa, em um projeto, em uma parceria. No espaço de criação, é muito importante que as pessoas joguem com vários tipos de representações. Muitas vezes, ao tentarmos solucionar um problema ou desenvolver uma tarefa a partir de uma representação verbal não chegamos a um bom resultado, mas ao usarmos um outro tipo de representação a solução aparece como de imediato. SNOW (1994:7) comenta que

"uma pessoa que parte da analise verbal para uma visualização espacial durante uma tarefa, muda a tarefa psicologicamente ... e se uma pessoa aprende a mudar de estratégia em uma tarefa pode não só começar uma nova tarefa com uma nova estratégia, mas também com a idéia de transferência de que a mudança muitas vezes ajuda. " As pessoas e as situações podem ter histórias de transferência significativas para ambas e para o projeto em que estão envolvidas. Uma das representações possíveis é a digital, realizada através do computador. Jogar com diferentes representações significa permitir-se experimentar as diversas linguagens a que se tem acesso. E nesse caso, homens e mulheres podem testar e brincar com suas habilidades e inteligências. No período escolar de nossas vidas, acostumamo-nos a praticar, quase que exclusivamente, as representações verbais e matemáticas, exercitando assim as nossas habilidades e inteligências lingüisticas e lógico-matemáticas. Mas, no nosso cotidiano, somos expostos e temos que usar nossas outras inteligências, tais como a espacial, a pictórica, a sinestésica, etc e essas inteligências se manifestam ou utilizam outras representações. Ao trabalharmos colaborativamente com outras pessoas, podemos usar nossas habilidades e inteligências mais desenvolvidas, brincando com outras representações que não a linguística e a matemática, e trocarmos essas experiências colaborando para que nossos parceiros e nós próprios possamos vivenciar essas outras competências e desenvolvê-las mais profundamente. GRANOT e GARDNER (1994) acreditam que essas colaborações permitem o desenvolvimento das múltiplas inteligências de cada um dos envolvidos. À medida que cada indivíduo se desenvolve em sintonia com os outros, todo o coletivo está também se desenvolvendo, e essa sintonia não ocorre só informalmente.

Ambientes formais e informais. A ação colaborativa não é uma ação que se desenvolva apenas em ambientes escolares ou empresariais. Espera-se que toda a atividade social, na família, na escola, na igreja, na sociedade, como um todo, tenha a marca da colaboração. Dessa forma, os projetos colaborativos devem prever seu desenvolvimento tanto em ambientes formais como em não formais. O importante é que homens e mulheres tenham aprendido a expandir suas habilidades em resolver problemas, criar situações de uma vivência harmoniosa e mais humana colaborativamente. Os projetos desenvolvidos em ambiente escolar não devem ser desconectados da realidade em que nós, seus participantes, vivemos. Uma via de mão dupla permite que tragamos, da realidade externa à escola, elementos para o projeto e que resultados ou descobertas encontrados nesses projetos se revertam para aquela realidade. E cada vez mais essa mão dupla se instala sem se preocupar com as barreiras da distância que podem ser vencidas pela tecnologia.

Tecnologias e trabalho a distância. As novas tecnologias computacionais interativas (como a telemática) permitem que homens e mulheres desenvolvam colaborações mútuas mesmo estando distantes espacialmente. Como vimos, o conceito de proximidade transformou-se profundamente durante todo o século XX. O telefone, o fax, os serviços de entrega de correspondência e SEDEX do correio regular já há muito permitem a colaboração a distância e, neste final de século, as redes eletrônicas se expandiram a tal proporção criando o ciberespaço,

"o universo de redes numéricas como local de encontros e aventuras (...) os modos originais de criação, de navegação no conhecimento e de relações sociais que elas permitem" (LÉVY, 1997:119). E o auxílio, o suporte, não fica mais restrita ao âmbito interno do projeto ou da ação. Cada vez mais se consegue alcançar o suporte externo.

Assistência externa. Assim como as competências individuais não se substituem e não são, isoladas, suficientes para que alcancemos alguns objetivos comuns, muitas vezes, faz-se necessária a participação de especialistas para a resolução de determinados entraves ou questões intrincadas. SCHRAGE (1995) enfatiza que colaboradores bem sucedidos constantemente solicitam informações e ajuda externa aos participantes do projeto. Ao tentarmos resolver todas as questões e dificuldades internas na tentativa de sermos auto-suficiente, podemos desviar esforços de áreas cuja atuação de cada um de nós é de fato efetiva e eficaz.

2.1.2 Colaboração , Interação e Aprendizagem

Quanto maior e mais intensa a participação colaborativa interativa em um projeto maior o desenvolvimento do conhecimento naquele específico domínio, já que acreditamos que as interações colaborativas afetam, influenciam e desenvolvem não só os processos cognitivos como também o conhecimento relacionado com a área trabalhada. Se a colaboração é mútua então há uma construção conjunta e os processos simétricos de desenvolvimento são equilibrados. Se a competência de um dos participantes é grande, as interações altamente colaborativas de outros participantes com ele podem acelerar o crescimento cognitivo em sintonia com suas necessidades e nível de compreensão (GRANOT & GARDNER, 1994: 179-187)

A interdependência, o sentido de responsabilidade perante o grupo e as habilidades sociais e interpessoais devem merecer uma atenção especial daqueles que desejam desenvolver a aprendizagem colaborativa, que para KAYE (1994:9-21) pode ser "a aquisição por parte dos indivíduos de conhecimento, habilidade ou atitudes que são o resultado de uma interação do grupo, ou dito mais claramente, uma aprendizagem individual como resultado de um processo de grupo (KAYE, 1992 apud KAYE, 1994:9-21).

CROOK (1996) enfatiza a importância que o conhecimento socialmente compartilhado tem para a aprendizagem. As interações colaborativas podem concorrer para a construção de conhecimento compartilhado e desenvolvimento da intersubjetividade, compreendida aqui como a "capacidade de ter afeto e emoção com os outros" (primária) e "de preocupar-se em estabelecer com os outros uma referência compartilhada com relação a objetos e circunstâncias externas" (secundária) ( CROOK, 1996:226).

É certo que GRANOT e GARDNER, assim como CROOK, fazem essas afirmações em relação ao desenvolvimento de crianças, entretanto, creio que posso expandir essas descobertas também para o relacionamento entre adultos, a partir de observação das interações colaborativas desenvolvidas durante os cursos que realizei e sobre o que discorrerei em no capítulo IV.

Se colaboração significa criar novos valores em conjunto e entendimento compartilhado, se as parcerias que envolvem colaboração necessitam de uma densa teia de conexões que aumenta a aprendizagem (KANTER, 1994:97), se a construção ativa do conhecimento, o ensino entre pares, e a retroalimentação motivadora são determinantes para a aprendizagem colaborativa, o professor, ao elaborar seu planejamento para mais um período escolar, não pode descartar a participação colaborativa de seus.

Dessa forma, a cada curso, formam-se coletivos que, colaborando mutuamente, constróem novos conhecimentos, agregando valor ao conhecimento já existente, tramam novas teias de relacionamentos e relações entre diferentes assuntos, densificando e aprofundando ainda mais a inteligência coletiva.

Ao usar as tecnologias de comunicação interativas ao longo da história, essas relações não se limitam ao entorno do professor. À medida que o professor participa de reuniões pedagógicas de forma colaborativa, o valor que ele agrega na construção com seus alunos pode enredar e compor novas teias com os valores agregados por outros professores. Se essas contribuições são registradas em artigos de livros ou periódicos, comunicadas em encontros, seminários, congressos, novos valores e outras redes de conexões estarão sendo construídos e comunidades de conhecimento ainda maiores estarão sendo enriquecidas. À medida que as tecnologias de comunicação permitem uma interação com um número maior de pessoas e com maior velocidade, os valores agregados podem ser maiores, podem ainda provocar uma qualidade de produção mais cuidada, uma reflexão compartilhada com resultados mais efetivos. Importante para que esse encadeamento, esse enredamento aconteça é que se estabeleçam de fato colaborações mútuas entre professor e alunos e entre alunos e alunos.

2.1.3 Trabalho de grupo e trabalho em equipe

Senti necessidade de esclarecer a diferença entre trabalho de grupo e trabalho em equipe a partir das leituras de especialistas e das respostas às minhas perguntas junto aos meus pares e alunos. Busquei não só na área de educação, mas, principalmente, na literatura de Administração de Empresas, esclarecimentos sobre o que na minha prática é muito claro e evidente.

Trabalho em equipe demanda colaboração com o significado que tenho explicitado e supõe, além da interdependência, responsabilidade e comprometimento, resultados de ação coletiva e conjunta conseguidos com coesão, cooperação, consenso, disciplina e empenho. Já o trabalho em grupo "confia no seu líder para a tarefa de atribuição de responsabilidades e de integração dos resultados dos trabalhos individuais" (KATZENBACH, 1998:xi).

2.2 Colaboração - a fala de meus pares e alunos

À medida que me aprofundava nessas minhas leituras e conversações sobre interações colaborativas, crescia a necessidade de saber o que meus pares e alunos pensavam sobre colaboração e decidi enviar-lhes, via correio eletrônico, três perguntas que me foram respondidas pela mesma via. Listei as expressões mais significativas em duas tabela (Tab. Col1 e col2) a partir da qual procurei chegara a algumas conclusões que explicitarei a seguir

2.2.1 Meus pares e/ou especialistas brasileiros e estrangeiros (Tabela 1).

Ao ler as respostas de meus colegas e/ou especialistas, à primeira pergunta "O que é colaboração ( em educação)?, pude inferir que colaboração significa para muitos "troca, intercâmbio, relação dialogal", "construção social do conhecimento através da interação", "trabalho conjunto tendo em vista o crescimento conjunto", "cooperação ao invés de competição", "uma forma de troca, pois quem colabora também aprende", para alguns é "um aconselhamento, uma contribuição ... emitida por alguém com mais experiência, conhecimento, vivência...". Há ainda entre esses os que a caracterizam como fundamental para o o trabalho multidisciplinar e/ou interdisciplinar, já que o "os problemas que se apresentam para o futuro profissional são cada vez mais complexos" e exigem abordagens multifacetadas.

Para esses professores, a colaboração não é unilateral, isto é, não caminha em uma única direção. Há compartilhamento de idéias, trabalhos e resultados ao invés de obediência de ordens superiores, há um caminho de duas vias, e os envolvidos na colaboração saem enriquecidos. Agregam algo novo vindo do outro aquilo que já possuem. "O todo é mais do que a soma das partes". E é neste sentido que tento desenvolver com meus alunos o ato colaborativo (capitulo IV).

Há algumas respostas que apresentam a colaboração como ajuda, doação, participação voluntária. Essa compreensão é perigosa para o trabalho educacional, pois não estabelece uma relação de compromisso entre as partes. Por um lado, a doação, a ajuda, o ato voluntário pode começar e terminar segundo a vontade do doador, de quem ajuda, de quem se voluntária sem se preocupar se a sua saída do processo afetará ou não a continuidade eficaz desse processo. Por outro lado, quem recebe ajuda, a doação, o ato voluntário, pode, com o tempo, passar a considerar isso como obrigação de quem doa, de quem ajuda. Em muitos projetos educacionais nas instituições públicas de ensino médio e superior, é muito comum encontrarmos essa situação. Quando professores, orientandos, pesquisadores, chamados de "colaboradores" não têm a sua participação e sua "colaboração" bem definidas em alguns projetos, com os objetivos e os critérios de colaboração muito claros, tornam-se espécie de "mão de obra gratuita" para a execução de projetos que reverterão benefícios apenas para o núcleos ou para os titulares dos projetos. E os centros de fomento ou de financiamento de pesquisas ou de desenvolvimento de projetos não limitam verbas para aquisição de equipamentos ou para instalações físicas, mas regulam e restringem verbas que propiciem o aperfeiçoamento dos recursos humanos envolvidos, uma vez que muitos dos que decidem sobre essas verbas, entendem que colaboração e trabalho colaborativo seja ‘doação de horas de pesquisa e de trabalho".
 
 

Quadro 1 Respostas de colegas brasileiros e estrangeiros (Mestrandos, Mestres e Doutores)
 

Pares/ Alunos O que é colaboração? Colaboração e trabalho em equipe são sinônimos? Por quê? Vocês acreditam que haja esse tipo de colaboração seja comum nos Cursos de Pós-Graduação? Por quê?
Doutor1  troca, intercâmbio, relação dialogal (PF), com vistas a um fim comum.  Não. Colaboração é co- atividade conjunta, solidária; labor- trabalho, realização para transformar, empenho criativo, práxis transformadora Não. Espaço de grande venalidade, de grande competição,
Doutor 2  construção social do conhecimento através da interação Sim, se o trabalho em equipe não significar apenas divisão de tarefas. Sim. E com o advento da Internet. Há um grande compartilhamento.
Doutor 3 entre pessoas do mesmo nível intelectual ou afetivo (parceria) ou entre pessoas diferentes (professor-aluno); em equipe (geralmente) ou não. Distingo equipe e grupo. Na equipe cada pessoa tem um papel importante; no grupo isso nem sempre acontece depende da proposta do curso, da forma de gerenciamento dele pelo professor e da relação que estabelece com os alunos. Minha experiência nos dois últimos anos foi muito rica em formas de colaboração presenciais e virtual. A maior parte dos cursos de pós são bastante tradicionais.
Doutor 4  trabalhar em conjunto tendo em vista o crescimento conjunto, seja em forma de aquisição de saberes, de competências, de valores, de comportamentos, seja em forma de construção de novos conhecimentos Sim, dificilmente há colaboração solitária. Pode haver contribuição unilateral, mas aí já se chama abuso (por parte do favorecido). Se colaboração pressupõe trabalho conjunto, só pode se dar na forma de trabalho em grupo (nem que seja uma dupla ou um grupo virtual, em tempos de Internet). nem sempre há trabalho colaborativo -principalmente se entra em campo o espírito de competição. Mas o trabalho de orientação e a realização de seminários pressupõem trabalho cooperativo.
Doutor 5  aprendizagem através da cooperação entre os alunos em lugar da competição Não são sinônimos mas para que haja trabalho em equipe a colaboração e condição necessária (mas não suficiente) a pos-graduacao na forma como e hoje incentiva o individualismo e a competicao. Algumas disciplinas, por iniciativa dos professores, trabalham com a colaboracao como recurso pedagogico, mas os programas de pos-graduacao no geral nao seguem essa linha.
Doutor 6  esse termo se aplica a grupos de trabalho ou de estudos, nos quais os membros interagem trocando informações para resolver um determinado problema ou atingir um determinado fim Sim, de acordo com a minha percepção os termos são equivalentes.  
Doutor  esforços conjuntos para que um objetivo educacional seja alcançado É óbvio que, se uma equipe está preparada apenas para boicotar ou dificultar a realização do objetivo de um grupo, não irá colaborar com ele, Desconheço se há trabalhos colaborativos na Pós-Graduação
Mestre1  identificação de uma dificuldade, falta de conhecimento, de impossibilidade de contextualização de um colega a consequentemente a doação de um saber que se possui Não. Trabalho em equipe é a soma de talentos e esforços individuais para um objetivo comum. Sim. Na pós-graduação, com a diversidade de vivências, diferentes formas de contextualização, maturidade dos envolvidos, a colaboração é mais presente. A construção do saber se dá pela somatória, incluindo-se aí a colaboração.
Mestre2  Objetivo comum e doação Não. Colaboração é ajuda; trabalho em equipe é profissional, com dependência um do outro. Depende da consciência de cada um. Se der colaboração, tem-se colaboração.
Mestre3  Ajuda, é contribuição para algo acontecer da melhor forma, A informática educacional é um caminho para consolidar o ato de colaborar Sim, colaborar é trabalho em comum de 2 ou mais pessoas. Até existe quando as pessoas se simpatizam uma com as outras, mas é difícil pois a competitividade é a mola propulsora do nosso sistema capitalista
Licenciado1  uma forma de troca, pois a pessoa que colabora também aprende. Como se, em colaboração, fizessemos algo juntos. Acho que nem sempre. Podemos colaborar sem termos de trabalhar juntos. No entanto, quando reunidos, pode ser um trabalho de equipe, isto é, um colaborando com o outro em estreita relação É comum, mas não de forma profunda, pois muitos temem que as idéias sejam copiadas, "roubadas"
Licenciado2  Trabalhar em conjunto, ajudar, doação. Trabalho em equipe pressupõe igualdade de condições ( que não ocorre na colaboração, que é mais informal) Equipe dá idéia de "time", de ideal comum, esforço comum, todos são responsáveis (na colaboração, o que colabora não tem grande participação na trabalho) NÃO acredito em colaboração em cursos de Pós-graduação
Licenciado 3  uma opinião, um aconselhamento, uma contribuição, sobre um determinado tema, emitida por alguém com experiência, conhecimento, vivência sobre o referido tema Acredito que não, pois colaboração tem um sentido mais amplo do que trabalho em equipe. Apesar de que, para um trabalho em equipe possa se desenvolver adequadamente, um dos requisitos é a colaboração ativa dos participantes além de outros requisitos tais como empatia, participação, integração, espírito de equipe etc. sim pois o que deve nortear a pesquisa e o estudo em cursos de pós-graduação é o desenvolvimento do espírito científico das pessoas e a vontade de participar ativamente dos trabalhos em desenvolvimento dentro das áreas de interesse.
Cuba Doctor  un resultado del desarrollo cientifico y tecnologico actual, pues los problemas que se le plantean al futuro profesional son cada vez mas complejos y es necesario abordarlos a traves de grupos multidiciplinarios no es lo mismo colaboracion que grupos de trabajo, este ultimo comprende los componentes personales, y la colaboracion tiene en cuenta estrategias y resultados. El trabajo de colaboracion al menos en mi experiencia si es comun en cursos de graduacion.
USA Doctor  a departure from a hierarchical view of work and/or education, sharing with colleagues (my equals) rather than carrying out orders (from superiors) not always. Sometimes, a team is controlled from above and so, although there is some degree of collaboration, there is also a structure in which roles from have assigned from outside (and above) instead of arising from the common labor of the group. But to the extent that the team developes its own structures and roles from within, then I would agree that it is synonymous with collaboration. It should be common, but I doubt that it is in most graduate programs.
USA Doctor  Working together to produce a focused objective. Yes, because you are drawing diverse talents to accomplish a common goal. Definitely. Graduate courses demand that a person broadens their perspectives to include other's knowledge whether they agree with them or not.
USA Doctor  Working together toward a common goal; the whole is more than the sum of its parts. In a collaboration there is no one way to do things, the team works for find the best way for the product. In my graduate program there has been at least one collaborative project in each course. I believe this approach is a result of the new paradigm of the information society and industry's need for workers in the 21st century. 
USA Master  Voluntary co-participation in the furthering of a project or goal. Collaboration implies voluntary involvement whereas team work can occur just because somebody ordered Graduate studies require nowadays to produce so much in so little time that collaborative workis being understood more and more as a necessity. 

 

As respostas à segunda pergunta, "Colaboração e trabalho em equipe são sinônimos? Por quê?", me trouxeram algumas questões para reflexão. Questões com as quais tenho me deparado em todos esses anos de experiência como docente. Quando aluna do curso clássico ( minha opção de Ensino Médio nos anos 60), estava sendo introduzida a técnica de trabalho de grupo nas escolas brasileiras. Dependendo dos objetivos e da visão educacional do professor, era muito eficaz, mas em alguns casos já acontecia o que acontece ainda hoje e que vem ressaltado em muitas das respostas à segunda pergunta. Trabalho de grupo ou trabalho em equipe acaba produzindo colchas de retalhos não harmoniosas ou trabalhos individuais com multi-autoria. Vejamos, algumas das respostas que por si só são significativas.

"Não, Colaboração é co -atividade conjunta, solidária, labor – trabalho, realização para transformar, empenho criativo, práxis transformadora" (Dr 1);

"Não,. Colaboração é ajuda, trabalho em equipe é profissional, com dependência um do outro"; (Mr1)

" Nem sempre, algumas vezes a equipe é controlada de cima e apesar de haver algum grau de colaboração, há uma estrutura na qual os papéis são designados de for apara dentro ( e de cima para baixo) ao invés de surgir do trabalho comum do grupo" (USA Dr1).

"Colaboração implica em envolvimento voluntário enquanto que trabalho em equipe pode ocorrer porque alguém ordenou" (USA Dr2).

A maioria das respostas considera o trabalho em equipe como uma atividade, geralmente, estruturada e independente da vontade de seus participantes.

Conjugo mais com aquelas respostas que consideram colaboração e trabalho em equipe como sinônimos.

"Se o trabalho em equipe não significar apenas divisão de tarefas..." (Dr2);

" Se colaboração pressupõe trabalho conjunto, só pode se dar na forma de trabalho de grupo..." (Dr4).

"quando a equipe desenvolve sua própria estrutura e suas diversas funções, de dentro para fora, eu concordo que colaboração e trabalho em equipe sejam sinônimos".

As respostas à terceira pergunta "Vocês acreditam que haja esse tipo de colaboração e que ele seja comum nos cursos de Pós-Graduação?", me deixaram preocupada. Em 80% das respostas, os professores (doutores, mestres e mestrandos) responderam que na área "há grande competição", "a maioria dos cursos é bastante tradicional", "há individualismo e competição", "duvido que haja na maioria dos programas de Pós". Muitos desses professores afirmam que têm tido experiências colaborativas com seus alunos em seus cursos e até indicam resultados de seus projetos, mas afirmam que não é o que acontece com a maioria dos cursos de Pós-Graduação que conhecem.

De 10 respostas, apenas duas apresentam segurança e convicção na afirmação de que

"os cursos de Pós-Graduação exigem que a pessoa amplie suas perspectivas para incluir o conhecimento de outras pessoas concordem com elas ou não";

"Eu acredito que esta abordagem (colaborativa) seja o resultado de um novo paradigma da sociedade da informação e das necessidades da indústria de trabalhadores no século XXI" .

Talvez, seja significativa a informação de que essas duas respostas foram dadas por professores estrangeiros. As experiências brasileiras com as quais tenho tido contato são em geral iniciativas individuais e solitárias nas instituições de Ensino Superior em São Paulo e em outros estados brasileiros.

Coloco-me um pouco mais, otimista, mas não muito, ao analisar as respostas de meus alunos dos cursos de Pós-Graduação.

2.2.2 Meus alunos dos Cursos de Pós-Graduação (Tabela 2).

As respostas recebidas equivalem a aproximadamente 25% das respostas esperadas. Enviei mensagem com as três perguntas para cerca de 40 alunos e 10 deles responderam (Tabela 2). Na minha consideração esse número de respostas é significativo, pois corresponde aos pensamentos manifestados oralmente nas aulas de avaliação dos cursos em que trabalhamos juntos.

Muitos alunos entendem colaboração como doação, ajuda desinteressada, sem compromisso, espontânea, implicando laços de afetividade. Houve mesmo uma aluna que ressaltou que, "o professor, é um profissional, que deveria trabalhar e receber justamente o seu salário por sua tarefa cumprida, de onde pude inferir que, para essa aluna, ao prestar colaboração o professor não estaria sendo profissional, mas fazendo um trabalho voluntário, não no sentido de ter vontade de fazer, mas no sentido de fazer algo sem retribuição, sem receber alguma forma de retorno. Percebi, ainda, que alguns desses alunos tinham uma idéia de colaboração descolada de suas atividades profissionais ou educacionais, quer como professores, quer como alunos. A minha experiência comprova essa postura, pois é muito comum que as instituições de ensino solicitem colaboração de seus professores em projetos pedagógicos, acreditando que os professores devam contribuir colaborativamente com horas de gerenciamento ou acompanhamento sem perceber qualquer tipo de remuneração ou compensação por esse trabalho, lembremos que – labora - significa trabalho.

Outros alunos caracterizam a colaboração como uma ação para atingir um objetivo comum: "o aproveitamento das competências de cada um direcionados a um interesse comum", " é interagir para florescer, ser solidário, partilhar da mesma proposta"; "trabalho comum com 1 ou mais pessoas criticando e/ou ampliando o trabalho (idéia) que o outro traz"; "é estar com o canal de comunicação aberto para receber e dar (em troca ou não) informações, conhecimento, dados, de forma espontânea". Para eles é uma ação que pressupõe "contribuição", "participação e envolvimento" que ajuda , é "uma troca entre educadores e educandos, despertando o gosto pelo aprender e ensinar e entre os próprios educadores, valorizando a ética profissional ", é "interação" , que ajuda a "desenvolver com maior eficiência as metas a serem atingidas, individual ou coletivamente" .

As respostas à segunda pergunta, Nas disciplinas que vocês trabalharam comigo, vocês acreditam que houve esse tipo de colaboração? Esclareçam seu sim ou seu não, confirmaram a idéia que esses alunos têm de colaboração. As expressões usadas para afirmar que houve colaboração no trabalho desenvolvido nas disciplinas que cursaram comigo revelam o que os alunos entendem por colaboração:

"Talvez entre os alunos quando um ou outro não podia fazer determinada tarefa, o outro fazia". "No mais, era a obrigação de cada um cumprir com a sua parte" . Colaboração, nessas frases, é entendida como ajuda, fazer pelo outro, não fazer com o outro. Indica uma dependência e uma incompetência ao invés de considerar a interdependência de competências. Nessas respostas, temos a sensação que o trabalho no grupo é individual e solitário.

Já nas respostas que se seguem, a inferência é outra:

"Todos traziam material, todos discutiam para se chegar a um consenso, um interferia na idéia do outro, sem que este outro se sentisse ofendido";

"A colaboração por mim observada foi quanto aos trabalhos em grupo, nós defendíamos as nossas idéias, e cada uma aceitava ou discordava, para um crescimento de uma idéia maior, global"; "estão sendo reunidos diversos talentos para a consecução de uma mesma meta",

"cada um defendia nossas idéias e cada um aceitava ou discordava para o crescimento de uma idéia maior,...".

"Houve muita colaboração: a sua colaboração se fez sentir em todos os trabalho que apresentamos, comentando, criticando, propiciando a cada um de nós um crescimento pessoal.

"Tivemos a oportunidade de realizar um trabalho colaborativo, a realização daquela página na Internet também foi um trabalho cooperativo".

Nestas respostas, colaborar significa trabalhar junto conjugando esforços e saberes diferentes, que se complementam, ou mesmo que entram em conflito e por isso exijam negociação para se chegar a um consenso. "O grupo era formado de diversos segmentos de pessoas que trabalhavam em diversas áreas da educação e fora dela também, a colaboração serviu não só no momento de entendermos Lévi, Postman, Gilberto Prado, como em compreender o sentido do curso".. "Sem dúvida houve muita colaboração, mesmo porque era um grupo multidisciplinar, portanto a colaboração era quase que compulsória" . A idéia presente nessas duas respostas é que colaboração supõe a participação de pessoas com visões diferentes, até mesmo de áreas diferentes que se completem. No entanto, o uso do adjetivo "compulsório" reforça a idéia de obrigação contida na afirmação.

Quadro 2 Respostas de alunos dos cursos de Pós-Graduação
 
 

  O que é colaboração ( em educação)? Nas disciplinas que vocês trabalharam comigo, vocês acreditam que houve esse tipo de colaboração? Esclareçam seu sim ou seu não. Colaboração e trabalho em equipe são sinônimos?
Aluno 1 Doação, compartilhamento, que media a comunicação entre pessoas que tem o mesmo interesse sobre determinado assunto, afetividade, laços Em algumas pessoas não foram estabelecidos laços e o trabalho a ser realizado foi feito com paixão somente por parte do grupo por parte do grupo. Houve, por parte de alguns componentes apenas a participação obrigatória e não uma doação/colaboração de experiências para com os outros integrantes do grupo. Sim. 
Aluno 2 É um trabalho em comum com 1 ou mais pessoas, criticando e/ ou ampliando o trabalho (idéia) que o outro traz Houve uma troca muito grande de informações e idéias. A colaboração daquele 1o grupo foi excelente. ... Todos traziam material, todos discutiam para se chegar a um consenso, um interferia na idéia do outro, sem que este outro se sentisse ofendido. Eram de fato, colaborações. mandávamos e-mail para você para tirarmos dúvidas e continuávamos a trabalhar. quando entrou a segunda leva, as tarefas começaram a ser distribuídas. Acredito que não. Quando há colaboração, surge um trabalho em equipe; mas, pode haver trabalho em equipe sem que haja colaboração. Há trabalhos em equipes que as tarefas simplesmente são divididas e não discutidas, acrescentadas de outras idéias úteis.
Aluno 3 Trabalhar na mesma obra, é uma troca entre educadores e educandos, despertando o gosto pelo aprender e ensinar e entre os próprios educadores, valorizando a ética profissional Houve muita colaboração, atenção e carinho, conduzindo o curso de forma a abrir novos horizontes, novas perspectivas de trabalho. Foi muito gratificante! Acredito que colaboração e trabalho em equipe são sinônimos. Ainda que vc preste alguma ajuda a alguém, em que não esteja trabalhando diretamente, vc está colaborando e, de certa forma, trabalhando em equipe. Se não houver colaboração , não existirá um trabalho em equipe
Aluno 4 participação e envolvimento Sim: creio que não houve uma entrega total da turma, por motivos de falta de tempo mas, a colaboração existiu parcialmente. Não
Aluno 5 Colaborar em educação é contribuir; são segmentos que ajudam desenvolver com maior eficiência as metas a serem atingidas, individual ou coletivamente Sim, principalmente na sua matéria nós crescemos, pois tivemos envolvidas num período de muita colaboração, o grupo era formado de diversos segmentos, de pessoas que trabalhavam em diversas áreas da educação e fora dela também, a colaboração serviu não só no momento de entendermos Lévi, Postman, Gilberto Prado, como em compreender o sentido do curso que estávamos fazendo naquele momento. Não são sinônimos. Pois podemos colaborar momentaneamente, porém não estar integrada ao trabalho em equipe. 
Aluno 6 Colaboração em educação é estar com o canal de comunicação aberto em duas vias, estar aberto para receber e para dar (em troca ou não) informações, conhecimentos, dados, de forma espontânea. A interação com um grupo é uma forma de colaboração. Nas disciplinas que trabalhamos com você, sem dúvida houve muita colaboração, mesmo porque era um grupo multidisciplinar, portanto a colaboração era quase que compulsória. Acho que colaboração é mais amplo que trabalho em equipe. No trabalho em equipe deve existir colaboração, mas para que haja colaboração não necessariamente o trabalho precisa ser em equipe. Colabora com meus alunos e com alunos de outros professores, independente da equipe ou grupo a que pertencem.
Aluno 7 mera ajuda, auxílio, prestação de contribuição sem interesse pessoal Houve sim colaboração durante o período em que estivemos trabalhando conjuntamente em suas aulas, tanto entre mestrandos como entre mestrandos e professora não são a mesma coisa porque enquanto naquela inexiste qualquer envolvimento ou compromisso do colaborador, neste há co responsabilidade e compromisso de toda a equipe devendo, antes de qualquer coisa, haver consenso e co participação.
Aluno 8 ato expontâneo de uma pessoa ajudar a outra, ou a grupo sem interesse algum. não é um dever, é um prazer, "o professor, é um profissional, que deveria trabalhar e receber justamente o seu salário por sua tarefa cumprida.  Não. Talvez entre os alunos quando um ou outro não podia fazer determinada tarefa, o outro fazia. O que eu pude sentir é que há uma certa disputa, uma não "abertura de jogo". No mais, era a obrigação de cada um cumprir com a sua parte Não. Porque colaborar é ajudar sem interesse, posso ajudar a alguém numa determinada tarefa da qual nunca ninguem saberá se eu ajudei ou não; não faço parte daquele trabalho.
Aluno 9 confunde-se parceria, o aproveitamento das competências de cada um direcionados a um interesse comum Nas duas ocasiões em que tive a oportunidade de ser sua aluna, acho que houve muita colaboração. a sua colaboração se fez sentir em todos os trabalho que apresentamos, comentando, criticando, propiciando a cada um de nós um crescimento pessoal., tivemos a oportunidade de realizar um trabalho colaborativo, a realização daquela página na Internet é também foi um trabalho cooperativo Algumas vezes o trabalho em equipe não significa colaboração. Principalmente quando o grupo estabelece que cada elemento da equipe ficou responsável por uma parte e cada parte fica independente, a colaboração ou na parceria não é possível detectar quem fez cada uma das partes. Todas têm um pouco de cada um dos elementos do grupo
Aluno 10 trabalho interdisciplinar, de uma forma séria, com troca de idéias e experiências, onde cada uma tenha disposição de aceitar a opinião do outro sem conceitos estabelecidos, é interagir para florescer, ser solidário, partilhar da mesma proposta Sim, bem, a colaboração por mim observada foi quanto aos trabalhos em grupo, nós defendíamos as nossas idéias, e cada uma aceitava ou discordava, para um crescimento de uma idéia maior, global, como sempre nós citamos Lévy, tentamos sempre buscar a inteligência coletiva não, no trabalho em equipe muitas vezes nem todos colaboram, apenas participam de uma forma ou de outra, com aquilo que sabem fazer. Colaboração é participação efetiva, é querer aprender junto com o outro para formar um todo.

A maioria dos alunos compreendem a colaboração como uma das atitudes necessárias para o trabalho com o outro quando interesses e objetivos comuns estão presentes. Não apenas a troca de experiências, mas o compartilhamento de descobertas, a reflexão conjunta, o exercício socrático da resposta com uma nova pergunta. Na prática, esses alunos são pessoas colaborativas e desenvolvem com seus pares e com seus alunos ações colaborativas.

A terceira pergunta para os alunos é a mesma que a segunda pergunta para meus pares, "Colaboração e trabalho em equipe são sinônimos? Por quê?". Das dez respostas, sete foram negativas, uma resposta estava em branco, uma resposta apresentava apenas a palavra sim e uma resposta era positiva e uma resposta. Nas respostas negativas, justificavam uns, que o trabalho em equipe é apenas distribuição de tarefas, sem discussão ou contribuição mútua. Para outros, uma vez que colaboração significa ajuda, doação, podendo mesmo ser anônima, é diferente de trabalho em equipe. segundo eles, exige compromisso, consenso e participação. O que respondeu positivamente acha que não pode haver trabalho em equipe se não houver colaboração.

Em paralelo, o que pude observar, ao ler com atenção e analisar as respostas é que a maioria dos alunos não tem muito claro para si o que é colaboração e por isso mesmo não conseguem exemplificar claramente a colaboração existente nas parcerias, projetos ou relações que desenvolvem com os outros. Percebi, também, que, quer no grupo de professores e especialistas, quer no grupo de meus alunos, se confunde muito o significado de "trabalho de grupo" e "trabalho em equipe".

Entendo que a colaboração só possa ocorrer em grupo, considerando o grupo como uma equipe, em que cada um tem sua função com vistas a um objetivo comum, a uma meta comum a ser alcançada por todos seus membros. Só ao analisar os documentos usados para esta pesquisa (capítulo III) dei-me conta de que há realmente uma confusão entre os termos, não só por parte dos alunos, mas também de educadores e pesquisadores. Essa confusão ficou ainda mais explicita, nas respostas recebidas de meus pares e de meus alunos. Concluo que não se tem muito clara essa distinção, porque em educação no Ensino Superior, é muito comum encontrarmos cada um defendendo seus objetivos e buscando alcançar a sua meta individual como se fossemos todos ou cada um indivíduos solitários, eremitas e/ou auto-suficientes. Essa também é uma das razões que me levou a explicitar o que entendo por trabalho em grupo e trabalho em equipe (p. 47 ).

A partir do momento em que o homem é um ser social, que vive em sociedade, a sua formação deve levar em consideração a necessidade de uma convivência que seja amigável, solidária, colaborativa. Dessa forma, o trabalho educacional tem que ter, além da atividade e reflexão individuais, momentos de trabalho em equipe e de trabalho de grupo para que esse indivíduo que sairá médico, advogado, engenheiro, dentista, economista, sociólogo, antropólogo, etc. saiba trabalhar em equipe, como profissional e participar de grupos sociais como cidadão, e em todas as situações ser solidário, comunitário e colaborativo.

Ao analisar as falas de especialistas, de meus pares e de meus alunos, concluo que há um elemento de fundamental importância que pode contribuir para provocar mudanças significativas nesse quadro. Trata-se dos ambientes onde essas relações interpessoais ocorrem. Precisamos criar metáforas colaborativas para que a colaboração, a parceria e a construção conjunta possam acontecer.

2.3 Metáforas Colaborativas: ambientes e tecnologias

Os ambientes e a tecnologia presente nesses ambientes têm muita importância no desenvolvimento de projetos colaborativos. A ação pode ficar comprometida em ambientes herméticos que privilegiem a ação individual e competitiva. Mas isso não significa que devamos abandonar a realização do projeto ao encontrarmos um ambiente não propício. Se entrarmos conscientes das dificuldades ou das características do ambiente, podemos antecipar ações para minimizar as dificuldades, uma vez que nem sempre podemos eliminá-las.

2.3.1 Ambientes colaborativos

À medida que temos novos ambientes que possam ser configurados de acordo com as necessidades específicas da ação ou do projeto, à medida que possamos contar com uma infra-estrutura de trabalho compartilhado, certamente, o desenvolvimento da ação colaborativa será otimizado.

Na minha busca na literatura de estudos que corroborassem com minhas crenças de que necessitamos desenvolver metáforas colaborativas, e que as tecnologias de comunicação podem ser implementadoras de ação colaborativa, encontrei CROOK (1996) que fala sobre a experiência colaborativa da aprendizagem em ambientes tecnologicamente ricos e SCHRAGE (1995) que fala sobre colaboração e esses autores me fizeram para e refletir: As tecnologias de comunicação são mediadoras de comunicação, não de colaboração.

"Usamos as tecnologia das mídias para compartilhar uma experiência ao invés de criarmos uma experiência compartilhada ... É a diferença entre passividade e participação, falar e conversar .... A habilidade de se expressar não é suficiente". (SCHRAGE, 1995:23). CROOK (1996:67) chamou-me a atenção para o fato de que na agenda das teorias cognitivistas e construtivistas não se encontra a educação como uma aquisição colaborativa. Enquanto "os cognitivistas focalizam as atividades que apoiam a prática, os construtivistas focalizam atividades que desenvolvam uma abstração reflexiva" (CROOK,1996:70). Ressalta por outro lado que a teoria sócio-interacionista levanta duas questões importantes para a aprendizagem: a mediação dos meios e a interação social. "A apropriação de meios de mediação é central para caracterizar as aquisições de aprendizagem. A interação social é crucial para apoiar os esforços para tais aquisições". (CROOK,1996:71-72) OS ambientes colaborativos são fundamentais para integrar a experiência de aprendizagem individual em um contexto rico de comunicação e entendimento compartilhado, devem ter espaço para interações interpessoais sem a mediação obrigatória de um professor tutor. (CROOK, 1996:76). Esses ambientes devem proporcionar situações de trabalho e orientação em que professor e aluno são parceiros na busca da solução de algum problema prático ou na reflexão sobre alguma questão teórica e onde há espaço não só para o desenvolvimento cognitivo, metacognitivo - refletindo sobre a própria aprendizagem - como também da intersubjetividade.

Um ambiente colaborativo bem desenhado pode permitir que todos os seus integrantes possam confrontar suas diversas perspectivas e interpretações bem como entender que "para cada objeto ou evento existem interpretações múltiplas. Essas interpretações podem ser dissonantes ou consonantes, mas refletem a complexidade natural que define os domínios do conhecimento mais avançados. Os ambientes colaborativos dão condições a quem aprende de identificar e reconciliar esses diversos pontos de vista a fim de resolver os problemas" (Jonassen e t al, 1993 apud KAYE, 1994:) .

Um ambiente colaborativo bem planejado integra as virtudes do texto impresso, o apelo visual da TV, e a potencialidade de manipulação de informação do computador. Cuidadosamente calibradas, as mídias colaborativas são auto-suficientes mas podem trabalhar produtivamente em rede. Dessa forma, grandes idéias nascem e tem oportunidade de crescer.

Os ambientes com mídias podem de fato ser ambientes colaborativos que projetam mudanças fundamentais nas ciências, nas artes, e na tecnologia.

Entretanto, professores e alunos podem transformar ambientes tradicionais áridos em ambientes colaborativos. A participação dos alunos na rearrumação do ambiente das tradicionais salas de aula já mobilizam de alguma forma esses mesmos alunos de forma positiva e até criativa se souberem porque estão rearranjando o ambiente e se forem estimulados a darem a sua contribuição no novo "design" do ambiente.

2.3.2 Tecnologias colaborativas

As ferramentas e tecnologias colaborativas terão um impacto profundo no modo como as pessoas criam como a TV teve no modo como as pessoas vêem. A arquitetura das mídias colaborativas ainda não encontraram sua comunidade de filósofos e artesãos, mas é somente uma questão de tempo. O meio pode ainda ser a mensagem, mas as mídias colaborativas redefinirão os significados de ambas (SCHRAGE, 1995: 23-25). Uma vez que tenhamos a idéia clara do que colaboração significa e o que se necessita para desenvolver ações e projetos colaborativos, poderemos transformar as tecnologias de informação e de comunicação em tecnologias colaborativas. Essas tecnologias, em particular a multimídia e a telemática, nos possibilitam a construção de ambientes propícios à interação e participação ativa.

A multimídia permite que os alunos criem produtos que expressarão suas idéias, concepções e crenças de uma maneira mais rápida, adequada sedutora do que as tecnologias tradicionais, integrando som, imagens e texto. Enquanto a telemática, permite a criação conjunta assíncrona (utilizando o correio eletrônico) e a síncrono através da utilização de softwares compartilhados e nesse caso a distância não é mais um obstáculo. Tecnologias de informação e de comunicação que se transformam em tecnologias colaborativas se aplicadas a parir de uma abordagem de aprendizagem ou ação colaborativa.

No capítulo IV, ao descrever as ações que desenvolvemos, meus alunos e eu, procuro explicitar de que forma os princípios, ambientes e tecnologias que acabo de analisar estão ou não entrelaçados e presentes, refletindo sobre a importância do fazer e do refletir sobre o fazer colaborativo.
 
 
 
 

Autora: Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo
Colaboração, Trabalho em equipe e as Tecnologias de Comunicação: Relações de Proximidade  em Cursos de Pós-Graduação. Tese de Doutorado - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2000. 
Orientadora: Profa. Dra. Vani Moreira Kenski .

 


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