Nos relatos e análises apresentados neste capítulo, parto do pressuposto de que as Escolas são organizações voltadas à prestação de serviços profissionais, intencionais, de educação básica de crianças, adolescentes e adultos de um país. A ação pedagógica escolar, voltada à apreensão de conhecimentos básicos sobre a vida e história dos seres humanos neste mundo, deve caracterizar-se pela interação, integração e relacionamento comunicacional bidirecional entre professores e alunos na construção conjunta desses conhecimentos.
É ingênuo exigir-se das Escolas - e dos professores e profissionais responsáveis por elas - o serviço de, sozinhas, educar "integralmente" as pessoas do país. Outras instituições sociais educacionais (família, centros culturais, igreja, centros de produção de mídias , associações) devem, também, contribuir nessa tarefa. As Escolas devem colaborar com essas parcerias, por meio de um trabalho competente e realista. Evidentemente, ao assumirmos a relatividade da ação educacional escolar, por ocorrer durante uma certa parte da vida das pessoas (por aproximadamente apenas quatro a seis horas por dia, durante um período de 12 a 20 anos de suas existências), não nos dispensa de efetivarmos, nas escolas de educação infantil, fundamental e média, um ensino e aprendizagem de muito boa qualidade quanto a conhecimentos básicos sobre a natureza e a cultura da sociedade. A Pedagogia é a Ciência que estuda essas práticas educativas, sobretudo as mais intencionais como as desenvolvidas em Escolas.
Os processos e redes comunicacionais podem ajudar os profissionais das escolas em seus serviços educacionais. Aliás, é importante lembrar que já existe um tipo de conceito de "rede" referente às organizações escolares, por exemplo, em nosso país: redes públicas municipal, estadual e federal de ensino; redes particulares (ou comerciais, privadas) de ensino. Entretanto o que se percebe é que essas redes não apresentam as conexões que apresento como fundamental no conceito de "rede" que emprego neste trabalho. Volto a lembrar que "rede", nesta obra, implica em compartilhamento, participação, troca entre os "nós" da rede; observando as redes de ensino, públicas ou privadas, indagando: estariam enquadradas dentro deste significado de rede? É necessário acrescentar esta dimensão de maior troca de informações, pensamentos, experiências educacionais naquele significado de rede de ensino e criar ou ampliar condições também telemáticas nas redes escolares em um ensino e aprendizagem contemporâneos e de cada vez melhor qualidade.
A pesquisa sobre projetos pedagógicos telemáticos, já existentes em escolas, assumidos aqui como objeto de estudo para a realização deste trabalho, seguiu, conforme apresentado no capítulo 1, uma trajetória de busca de dados que informassem sobre atuações de professores em projetos pedagógicos telemáticos. Os dados compilados e que são objeto da descrição analítica deste capítulo foram coletados durante o ano de 1995 e os primeiros meses de 1996 através de relatos em revistas especializadas, em listas da WWW e da Internet, de respostas às entrevistas, a questionários entregues pessoalmente durante o FLUREC 95, enviados pelo correio ou pela Internet e de observações de professores envolvidos em projetos que eu própria coordenei. Exemplares de roteiros e questionários que utilizei para coletar informações sobre projetos pedagógicos telemáticos escolares encontram-se nas últimas páginas deste relato (Anexo 1C).
Enfrentei uma grande dificuldade em receber retorno dos questionários enviados pela Internet. Sabemos que esse fato, também, ocorre quando pesquisadores solicitam o retorno de respostas por correio, por intermédio de outras pessoas ou deixam para recolhê-las em outros momentos diferentes da época de distribuição dos questionários. Um outro dificultador é o fato de que o desenvolvimento de projetos pedagógicos telemáticos em escolas é uma prática recente e seus registros escritos ainda são insuficientes. A disponibilidade de informações nos serviços da Internet vem crescendo nos últimos meses mas, assim mesmo, ainda de forma genérica e incipiente. Entretanto, ainda assim considero fundamental o estudo de alguns desses projetos a partir das condições atuais de divulgação dos mesmos. Entretanto, houve questionários que foram respondidos e enviados pelo correio eletrônico no mesmo dia. Entre esses alguns indicavam locais na World Wide Web em que eu poderia buscar mais informações. Com alguns pesquisadores, a troca de informações sobre o seu trabalho e sobre o desenvolvido na Escola do Futuro - Centro de Pesquisas de Novas Tecnologias Aplicadas à Educação da Universidade de São Paulo tornou-se comum.
Organizei os projetos pedagógicos telemáticos em escolas, aos quais tive acesso por meio da coleta realizada por esta pesquisa, em dois grupos: 1) os desenvolvidos em países não latino-americanos e 2) os desenvolvidos na América Latina, em especial no Brasil. Dentre os do segundo grupo, destaco dois dos quais participo mais de perto. Examinei-os, tentando reorganizar as informações e indicadores dos mesmos, a partir das seguintes questões-roteiro:
a) quanto às escolas, localidades e épocas de desenvolvimento dos projetos telemáticos: que tipo de escolas são? de que locais com que outros locais? de que níveis de ensino: pré-escolar, fundamental, médio, médio técnico, ou superior? São escolas de Ensino Médio, formadoras de professores para o ensino pré-escolar ou fundamental de 1a a 4a séries? São escolas de Ensino Superior formadoras de professores em cursos de Licenciaturas, Pedagogia? Qual a época da realização do projeto telemático? Quais as diferenças, semelhanças, ausências entre esses projetos telemáticos quanto a esse item "a"? Quais problemas enfrentaram ou enfrentam?
b) quanto às áreas de conhecimento humano e objetivos educacionais escolares ligados aos projetos telemáticos: que disciplinas são as mais ou menos trabalhadas nos projetos telemáticos? Quais tópicos dos conteúdos dessas disciplinas foram trabalhados? Quais são os objetivos e metas educacionais e comunicacionais desses projetos? Quais as semelhanças, diferenças e ausências? Quais os problemas encontrados e enfrentados?
c) quanto às mídias e aos equipamentos usados nessas comunicações telemáticas escolares: que mídias, informatizadas e não-informatizadas foram ou são usadas? com que agrupamentos e articulações? Quais os equipamentos utilizados? Que serviços específicos a cada mídia eram explorados? Quais as semelhanças, diferenças e ausências? Quais problemas de ordem técnica e referentes aos conteúdos da área de conhecimento humano foram encontrados? Como foram enfrentados?
d) quanto aos alunos atuantes nessas comunicações telemáticas: quantos alunos, de que faixa etária, de que localidades, qual o nível-sócio econômico? Quando e onde atuaram ou atuam? Que conceitos, habilidades os alunos pareciam estar desenvolvendo frente a que conteúdo das áreas do conhecimento ? Que conhecimentos pareciam se constituir como básicos para o entendimento do mundo pelos alunos? Por que? Quais atividades de comunicação telemática foram desenvolvidas pelos alunos? Com quem? Com que modos de relacionamentos comunicacionais com os professores ? E com os coordenadores dos projetos telemáticos? Quais as semelhanças, diferenças, ausências e perspectivas se apresentaram nesse item? Que problemas os alunos enfrentaram? Que problemas em relação aos alunos os projetos telemáticos pareciam apresentar?
e) quanto aos professores atuantes nessas comunicações telemáticas escolares: quantos professores, de que faixa etárias, de que localidades? Quando e onde atuaram ou atuam ? Que atividades de comunicação telemática foram desenvolvidas pelos professores? Com quem? Como se mostraram no relacionamento comunicacional junto aos alunos ? Mostraram explicitar quais conceitos, atitudes, habilidades pretendiam ajudar seus alunos a desenvolver? quais conhecimentos básicos pretendiam mobilizar para o entendimento do mundo por seus alunos? Que aspectos particulares dos conteúdos mobilizaram nesse processo comunicacional telemático escolar? Eles explicitaram que métodos, procedimentos e avaliações educacionais escolares e comunicacionais desenvolvem junto aos seus alunos? Que características comunicacionais os professores mostraram apresentar em seus relacionamentos profissionais com os coordenadores desses projetos telemáticos escolares? Que características comunicacionais aparecem por parte dos coordenadores com esses professores? Que semelhanças, diferenças, ausências, perspectivas quanto a esse item "e" foi possível desvelar via relatos desses projetos? Que problemas referentes aos professores esses projetos pedagógicos telemáticos parecem indicar?
f) quanto a outros aspectos presentes e/ou ausentes nessas comunicações telemáticas escolares e não contemplados pelas questões anteriores: Que outras particularidades apresentam? Que outros nexos? Que parcerias desenvolvem e com quem? Que fontes financiadoras são explicitadas? São realizações acompanhadas por práticas de pesquisa científica ou não? De que tipo?
Destaco, então, as quatro categorias que nortearam minha análise: a) épocas, tipos e localização das escolas onde se realizaram os projetos pedagógico telemáticos selecionados; b) áreas de conhecimento humano e objetivos educacionais privilegiados nesses projetos; c) mídias e equipamentos mediadores das comunicações nesses projetos; d) modos, métodos de atuações de professores e alunos nos projetos em questão. Optei por essas categorias neste trabalho pelo fato de que elas contemplam tanto os componentes que se articulam em processos de Comunicação Escolar quanto de Pedagogia, Didática, Metodologia de Ensino e de Aprendizagem em Escolas, Em outras palavras, essas categorias educacionais e comunicacionais enraizam-se em um contexto sócio-histórico, de várias tendências, e devem conectar-me e possibilitar percursos em diversas direções através dos seguintes "nós" presentes nas aulas e cursos escolares : a) onde e quando; b) sobre o que, para quê e por quê; c) com que textos, linguagens e materiais; d) quem com quem e com que métodos, procedimentos, atividades, julgamentos avaliativos.
Tais "nós" e tramas componentes de cada um dos projetos e processos comunicacionais e educacionais telemáticos estudados são aqui relatados no correr do texto e não separados rigidamente por tópicos referentes às categorias. Acredito garantir assim um rigor, em uma descrição e análise de leitura mais agradável.
Com base, então, nessas quatro categorias de análise escolhidas para este trabalho, passo a explicitar as características e indicadores que consegui observar nos projetos pedagógicos telemáticos em questão. Outrossim, é importante salientar que as caracterizações e revelações obtidas a partir desta análise são provisórias e têm um caráter relativo e parcial, uma vez que as indicações apresentadas por mim não retratam os projetos por inteiro, mas apenas a partir da minha leitura dos dados disponibilizados, coletados e analisados. De qualquer forma, essa leitura, ainda que parcial, pode nos ajudar a refletir sobre a questão das práticas comunicacionais telemáticas escolares de professores junto aos seus alunos e nos ajudar em proposições de aperfeiçoamento das mesmas nas localidades em que atuamos bem como possibilitar análises sob que enfoque são relatadas tais experiências.
3.1.1 Projetos Cibernéticos na Pré-escola (Flórida/EUA)
Eu procurava pelo projeto De Olinda a Olanda, que descreverei mais adiante neste trabalho, através de um serviço de busca booleana, por palavras-chaves, disponibilizado no World Wide Web, na Internet, e surpreendi-me ao receber informações sobre Olinda Elementary, uma escola em Miami na Flórida. Conectei-me com a página da WWW que trazia informação sobre os projetos realizados por essa escola, dentro do "Cyber Projects from Dade County Public Schools" (1995:WWW) e, imediatamente, enviei uma solicitação de maiores informações à professora Elissa GERZOG que prontamente respondeu dando detalhes dos projetos em que ela estava envolvida.
Em 1995, o Projeto Cibernético, Spirit School Project, desenvolveu-se em Miami, Florida, na escola Olinda Elementary, escola pública, com alunos de pré-escola, de 5 e 6 anos, coordenado por Elissa H. Gerzog, uma professora "convencida de que a telecomunicação é uma importante conscientização que deve ser disponibilizada aos alunos para prepará-los para o futuro" (GERZOG,1996:correio eletrônico). Além desse objetivo, GERZOG quis começar a desenvolver o pensamento crítico.
Os alunos são estimulados a usarem as cores da escola às sextas-feiras, com o objetivo de desenvolver um sentido de comunidade e um espírito escolar. O projeto coloca seus alunos em contato com o mundo através de coleta de informações sobre as cores e os mascotes de outras escolas. Outros projetos levantaram, como o Native American Project, nomes de tribos indígenas, temperatura em uma específica semana no meio do inverno e nomes de animais perigosos.
Toda a informação recebida por correio eletrônico é colocada num programa de banco de dados e os alunos podem classificar as informações de diferentes formas: por cores e escolas com as mesmas cores da escola ou outros grupos de mesma cor, escolas com o mesmo mascote, escolas que tem o mesmo nome em diferentes regiões. Desenvolvem as habilidades e competências próprias à sua idade, mas já ampliando sua visão local para uma extensão muito maior e colaborando com outras crianças pelo mundo. GERZOG recebeu respostas dos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Finlândia, Guam, Nova Zelândia, Africa do Sul, e Reino Unido.
As cores da Olinda Elementary são vermelho e branco e suas flâmulas e bandeiras nessas cores têm um mascote, um delfim. Os alunos descobriram, por exemplo, que as cores das escolas mais comuns são o azul royal, o vermelho, o púrpura e a cor de prata e de ouro, e que uma escola em Pearl City, no Havaí tem a mesmas cores e mesmo mascote que Olinda Elementary. Já os mascotes mais comuns ou são animais fortes e ferozes ou soldados (guerreiros ou cavaleiros, também fortes). Aprendem Geografia, ao localizar de onde vêm as mensagens, Ciências, quando discutem sobre os animais ou sobre as diversas temperaturas, História quando discutem que tipo de soldados são os mascotes: patriotas ou cavaleiros ou quando aprenderam sobre uma tribo Navajo através de um "avô" índio que os "adotou" e lhes ensinou sobre sua história e sua cultura, sobre Artes Visuais quando estudam e comparam cores e formas. GERZOG orientou os alunos de 5 e 6 anos a montarem um grande mapa na parede, onde um computador grande, recortado de uma revista, traz uma indicação da escola deles e outros computadores menores, também, recortados de revistas ( e ligados entre si e ao maior por cordões) trazem os nomes das localidades que se correspondem com eles.
Por ocasião do dia de Ação de Graças, a Profa. GERZOG estimula os alunos a procurarem informações sobre onde os nativos americanos vivem hoje. O projeto trouxe respostas de mais da metade dos estados estadunidenses e as crianças puderam aprender os nomes de muitas das tribos mais conhecidas (Hopi, Navajo) ou menos conhecidas (Abenaki and Havasupai). O projeto ajudou os alunos a tornarem-se "comunicadores efetivos" ao navegarem na tecnologia de comunicação à busca de informações orientada pela professora. "Um dos alunos enviou um endereço na World Wide Web onde outros alunos poderiam encontrar muita informação sobre os índios americanos. Essa informação incluía imagens, vídeos e áudio não disponível na biblioteca da escola. Um índio americano, da tribo Navajo, foi a uma escola primária só para apanhar um poema para compartilhar com os alunos da Olinda Elementary. Os alunos gostaram muito de aprender, Hey Diddle Diddle , na língua Navajo" (GERZOG, 1995:WWW). Chegam a receber mensagens de 40 a 45 estados americanos e de 3 a 4 continentes (da América do Sul, eu fui seu primeiro contato).
A professora GERZOG salientou que algumas vezes recebe de 10 a 20 respostas, outras vezes chega a 100 resposta a uma solicitação. Uma das dificuldades que se apresentam é que devido ao fato das crianças não saberem ler, ela tem que manipular todas essas mensagens e trabalhar o seu conteúdo com as crianças, ficando difícil para responder a cada um. Em resposta à minha pergunta se tinha colaboração de outros professores , GERZOG respondeu "Me alone. They don't show even interest" (Eu, sozinha. Eles nem mesmo mostram interesse) (GERZOG, 1996:correio eletrônico 2).
Um outro projeto que GERZOG vem desenvolvendo já há dois anos, é o "Monsters". É um projeto via Internet, também realizado na Olinda Elementary School, na pré-escola , em que as crianças de 5 a 6 anos têm de formar um monstro juntando as partes que vem de várias escolas pelo mundo. Por ter que medir línguas, contar dedos das mãos e dos pés, as crianças começam a ter noções de aritmética. Como cada parte vem de uma região diferente, elas começam a ter noções de Geografia. As orientações para juntar as partes dos monstros vem escrita por correio eletrônico, daí começam a perceber também a importância de ler e escrever. Cerca de 5000 crianças trocam fotografias e partes dos monstros de 20 outras escolas. Cada escola desenha um monstro e depois de trocar o seu desenho com outras escolas, eles escolhem e constróem um monstro do tamanho da sala de aula. Para finalizar, eles "escrevem" uma história sobre o monstro para as outras classes.
Os participantes desse projeto, a professora e seus alunos , em Olinda Elementary, são atuantes e a construção do conhecimento é feita em conjunto com a orientação do professor e a colaboração de parceiros distantes e, além de ampliar a perspectiva espacial, o vocabulário, as significações, o imaginário, promove respeito à diversidade cultural.
Os projetos são realizados na sua maior parte utilizando o correio eletrônico mas os alunos também acessam o World Wide Web que com suas possibilidades gráficas e sonoras permite que as crianças da pré escola compartilhem as informações com outras crianças pelo mundo.
Estes projetos podem ser realizados por professores do ensino pré-primário e que desenvolvem conhecimentos e atitudes de aprendizagem básicas nas crianças através de práticas comunicacionais.
Segundo GERZOG (1996:), as crianças aprendem a ser "trabalhadores cooperativos" ao se conectarem na rede e realizarem as tarefas.
Através do relato desse projeto, verifica-se que a atuação do professor é pessoal. Essa atuação ainda solitária desta professora de uma pré-escola estadunidense com relação aos seus colegas de escola, mas nem tanto em relação a colegas de escolas de outras localidades, parece indicar o desenvolvimento de uma rede comunicacional mais interescolas desses professores responsáveis por uma educação escolar da infância. Entretanto, a professora mostra sentir falta, também, de uma trama comunicacional intraescola com seus colegas. Depreende-se que não há uma política de orientação e atualização tecnológica do professor como uma prática geral na escola, uma vez que os outros professores, além de não participarem, não mostram interesse algum. As iniciativas como as de Elissa Gerzog são comuns em outros tipos de projetos e atuações na educação não só brasileira como em outras partes do mundo. No capítulo 4,volto a refletir sobre esse ponto.
3.1.2 Conectando Escolas do Ensino Fundamental e Médio do Ocidente e do Oriente - (Rússia e Estados Unidos)
Nos anos 80, o uso de computadores na União Soviética (como em muitas outras regiões do mundo ainda hoje) era visto do ponto de vista computacional e não comunicacional. Com a abertura do mundo soviético para o Ocidente, computadores pessoais e modems foram introduzidos e muitos alcançaram as escolas, atraindo cientistas e professores para interligar informática, telecomunicação e educação.
Eis alguns exemplos de textos de professores russos em busca de interligações informáticas:
Eu sou uma professora de Inglês de nível médio em Moscou e estou muito interessada em telecomunicação em educação.
Haveria alguem com o mesmo interesse que quisesse se corresponder comigo... Aguardo noticias logo.
Marina Bucharina
2) Hurrah! Nosso Apple IIgs está ligado na nossa escola. Agora nós podemos nos comunicar com o mundo inteiro sem sair da sala de aula. Escreva para nós o mais rápido possível.
A equipe da escola 1173, Moscou.
Este projeto chamou-me a atenção por envolver a atuação dos professores desde o início.
Em 1990, a Escola 1173 e outras 30 escolas (que não são explicitadas quais e de que níveis são) conectaram-se, gratuitamente, ao mundo, graças a um projeto que se iniciou com a atuação de Eugene Velikhov, presidente da Academia de Ciências Soviética que promovia o uso das novas tecnologias na educação. Estabeleceu uma conexão com os Estados Unidos (SMMT - San Francisco/Moscow Teleport), patrocinado por Henry Dakin do Instituto de Pesquisas de Washington ao mesmo tempo que Velikhov lançava um Projeto Educacional Experimental para o qual convidou especialistas em computação e cientistas para criar um "modelo educacional com base na tecnologia computacional emergente" (BERENFELD, 1993:59), e com objetivo de implantar um educacional soviético-americano.
Já em 1988, a Peter Copen Family Foundation e Academia de Ciências Soviética apoiavam o "Kids E-mail" que conectava 12 escolas soviéticas com 12 escolas públicas Nova York. Uma outra cooperação foi estabelecida após visita de Seymour Papert do MIT, Robert Tinker e Sylvia Weir, da TERC, Monica Bradsher da National Geographic Society (NGS) e John Whitely da Universidade da California.
Apesar da resistência de professores russos, BERENFELD e um grupo de cientistas aproveitaram o contato com a TERC que introduzia as inovações educacionais e juntaram-se ao Star Schools Project, pois acreditavam que os programas com base nas telecomunicações poderiam aperfeiçoar a educação. Era um momento decisivo para aquele grupo da comunidade educacional soviética pois as escolas conseguiram comunicar-se com as escolas americanas apesar das tentativas de censura por parte do governo soviético.
O Projeto Escolar Experimental e o INT (Instituto Moscou para Novas Tecnologias), mais tarde, tinha como objetivo inicial, segundo BERENFELD (1993:60), convencer professores , alunos e os responsáveis pela indústria que a telecomunicação educacional era política, econômica e tecnologicamente possível nas escolas soviéticas. Para vencer as barreiras foram colocados computadores nas escolas e professores e alunos orientados a usá-los para telecomunicação, mas faltava-lhes a necessária familiaridade além de não haver uma tradução dos termos de informática para o Russo. Professores e alunos aprendiam a manusear o computador e a se comunicar via telemática sem entender o processo informático. Além disso, a incompatibilidade de software e hardware de diversos tipos aumentava a dificuldade da implantação da telemática educacional.
Com a introdução de computadores PC 386 e modems, instalou-se um BBS (sistema de quadro de avisos) que possibilitava os serviços de correio eletrônico, teleconferência e troca de arquivos de dados ao mesmo tempo que as escolas recebiam algum recurso financeiro. A INT apoiava a implantação com oficinas pedagógicas locais tanto com alunos como professores, desenvolvimento de software e guias de telecomunicações. A TERC coordenou com a INT projetos telemáticos entre 12 escolas russas com 90 escolas de 17 outros países envolvendo estudo sobre poluição do ar e clima, por exemplo Na verdade, os projetos sobre meio ambiente estimulavam a participação de professores e alunos pois permitia-lhes debater um assunto que dizia respeito à realidade em que viviam, no que se referia à reciclagem de lixo ou à poluição do ar e da água.
Uma vez que os professores tinham que desenvolver novo currículo, novos programas e metodologias, devido a mudança de regime político, a telemática lhes oferecia a oportunidade de comunicação com seus pares em outras partes do mundo.
No Projeto "Pensamento Global", professores russos e estadunidenses trabalharam com professores e alunos de escolas russas, americanas e espanholas.
As principais dificuldades da implantação dos projetos pedagógicos telemáticos era a falta de equipamento devido ao seu alto custo. A INT estudou a possibilidade do uso de seu computador estar ligado a equipamento de rádio-amador, nas escolas, para desenvolver telemática, principalmente, nas escolas da zona rural, devido ao seu baixo custo, estudou-se também a possibilidade de redes via satélite. Muitas escolas, quer na zona urbana, quer na rural não possuíam equipamento, logo professores e alunos tinham que se deslocar para poder participar dos projetos.
Em síntese, estudando esse projeto "Conectando Escolas do Ocidente e do Oriente - Rússia e Estados Unidos", segundo minhas categorias de análise, observo que as informações são superficiais e recaem sobre detalhamentos técnicos, de equipamentos e estratégias, mais ligados a divulgação dos projetos mas que não nos informam exatamente que escolas, de que níveis e de que localidades específicas se comunicaram sobre o quê e com quem. Não há objetivos pedagógicos bem definidos. Não se encontra, também, um planejamento e um cronograma a ser seguido. Em todo o relato a preocupação maior está em descrever as possibilidades que os serviços das telecomunicações associados à informática podem trazer para a educação, mas as informações sobre as aplicações são genéricas e abrangentes. A ausência de um planejamento pedagógico para a implantação da telemática educativa leva a uma ocorrência desordenada e esporádica de comunicações. Do ponto de vista educacional, parece não terem ocorrido mudanças significativas e definitivas na prática escolar. De qualquer forma, indica um momento de transição, de uma educação fechada entre quatro paredes, que descobre na comunicação a distância uma possibilidade de enriquecimento da prática pedagógica.
3.1.3 Alunos de língua portuguesa, em escolas de Ensino Fundamental, fazem uma 'Cultural Collage' (Canadá, Estados Unidos, Portugal e Brasil)
Do dia primeiro de março ao dia 24 de maio de 1996, desenvolveu-se o projeto A Cultural Collage : Projeto telemático envolvendo professores e alunos de língua portuguesa como primeira, segunda ou outra língua, coordenado por David Dodick, aluno de pós-graduação da Universidade de Toronto Canadá e por Manuela Nero, Professora de Língua, da Alexander Muir Public School, Toronto, no Canadá. Participaram: escolas brasileiras - o centro binacional de ensino de Inglês, CCBEU, Centro Cultural Brasil Estados Unidos, de Santos, e uma professora e seus alunos do Departamento de Letras Modernas, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, em São Paulo; escolas portuguesas - Escola Alexandre Herculano (AH) de Santarém, Colégio Acadêmico (CA), de Lisboa, Luso Inglês (LI), de Custoias, Escola Secundária de Eça de Queirós (EQ), de Lisboa e Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho (JC); escolas canadenses - Alexander Muir/Gladstone Public School (AMG) e St. Luke Separate School (SL), ambas na cidade de Toronto, Ontario e escolas americanas - Multicultural Magnet School (MMS), em Bridgeport, Connecticut; McManus Middle School (MS) em New Jersey, Fairview High School (FH) em Boulder, Colorado e Lowell High School (LH), em Lowell, Maryland.
O projeto teve a participação de alunos de 13 e 14 anos, em trabalho colaborativo em grupos de 3 a 5 alunos, tendo cada um, um correspondente em outro país. A língua portuguesa foi a língua comum, mas havia a troca de textos em Inglês, também. Conforme dados apresentados na WWW, dos 171 alunos participaram do projeto "A Collage Culture - in Portuguese" (Uma Colagem Cultural - em Português), 21% ( 35 alunos) eram brasileiros; 33% (57 alunos ) eram alunos portugueses; 18% (31 alunos) eram canadenses e 28% (48 alunos) eram estadunidenses. A Figura 3 mostra a "home-page’do projeto "A Collage Culture - in Portuguese" na WWW.
Os professores participantes, orientadores do projeto nas suas escolas, coordenaram o cumprimento do planejamento e do cronograma organizado pelos professores David Dodick e Manuela Nero. Participaram 7 professores de Portugal, 3 professores do Canadá, 6 professores dos Estados Unidos e 5 professores no Brasil (duas - uma do CCBEU-Santos e outra da USP- diretamente e outras 3 subordinadas à coordenadora do CCBEU)
O objetivo desse projeto era usar as telecomunicações para fazer com que os alunos conhecessem aspectos culturais, sociais, históricos de outros adolescentes falantes de língua portuguesa, bem como de adolescentes de outras partes do mundo. A questão era: será que eles tem sonhos, expectativas de vida, hábitos comuns? Como outros projetos que analisaremos no decorrer deste capítulo, os jovens, principalmente, dos 10 aos 15 anos sentem uma necessidade em agrupar-se e, agora, com a possibilidade de comunicação intercontinental, descobrir outros jovens que tenham as suas mesmas aspirações, predileções. Aí reside um grande filão para professores despertarem seus alunos para a prática comunicacional como meio de construir seu conhecimento conjuntamente. Ao mesmo tempo, estimulando um despertar do pensamento crítico e o repensar de valores.
As primeiras mensagens trocadas, por correio eletrônico, completavam a frase "Eu sou assim ". A próxima mensagem deveria descrever a escola de cada participante, com informações sobre a comunidade, não só em forma de texto, mas também com fotos. Em seguida, cada aluno descrevia um seu dia típico. A essa descrição individual seguia-se
Figura A -"Home-page’do projeto "A Collage Culture" na WWW
uma coletiva em que os alunos falavam de seus interesse, preferências e atividades comuns. Os alunos deveriam fazer apresentações para a sua classe, para a escola e até para a comunidade se o desejassem. Os trabalhos de arte textuais foram incluídos na "World Wide Web ".
O projeto envolveu o trabalho de coordenação de orientação de professores e o trabalho colaborativo dos alunos em grupo. O projeto possibilitou que os alunos escrevessem sobre si e sobre a sua comunidade em verso e prosa, despertou alunos para criações artísticas que serão publicadas como "Cross-Cultural Collage - 1996".
Entre os participantes desse projeto, encontra-se o Centro Cultural Brasil Estados Unidos, da cidade de Santos, que o desenvolveu, depois de ter assimilado as orientações recebidas no ano de 1995, no projeto "Is there a Hemispheric Youth Culture?" descrito mais adiante.
Os professores do CCBEU-Santos reuniam-se com seus alunos uma vez por semana para orientá-los na seleção do assunto e redação das mensagens já que o objetivo era o uso da língua estrangeira num contexto autêntico. As mensagens foram enviadas via correio eletrônico. Esses professores constataram que não parecia haver o mesmo envolvimento dos professores da escola com quem se correspondiam. Orientados pelos professores os alunos prepararam um material com fotos, postais e textos que foram enviados via correio regular mas não obtiveram nenhum retorno, uma vez que as escolas em Portugal entraram em férias no final de maio, início de junho, além das mensagens diretamente relacionadas com o roteiro enviado pelo coordenador do projeto, do Canadá.
Este projeto serve de referência aqueles que desejam elaborar um projeto telemático, pois apresenta uma preocupação organizacional muito grande, indispensável, para a realização com sucesso do projeto, em relação ao planejamento inicial, que envolveu o prof. Dodick e a Profa. Manuela Nero. O planejamento foi cuidadoso e metódico, apresentando passo a passo, orientações (tanto em Inglês como em Português) para que professores em qualquer parte do mundo pudessem coordená-lo. Trouxe, ainda, um cronograma de datas para que as mensagens não se distanciassem no tempo e causassem frustrações, entretanto a sua execução, que não dependia mais só dos coordenadores, ficou comprometida.
Ao contrário, do que veremos a seguir, a atuação de muitos dos professores no projeto "Culture Collage", parece ter se restringido a "mandar" os alunos escreverem as mensagens, recolhê-las e enviá-las ao responsável por colocá-las na Internet, ou acompanhar os alunos ao laboratório para que eles as escrevessem. Alguns professores nem mesmo responderam às mensagens de seus colegas acusando o recebimento de material visual enviado pelo correio regular. No relato referente a atuação dos professores santistas se apreende que os professores estiveram acompanhando os alunos, estimulando-os a discutir, a ver qual era a melhor redação, o que era mais interessante enviar. Não controlavam ou "dirigiam" os alunos, antes, estavam ao lado para orientá-los e estimulá-los.
3.1.4 Professores atuantes com alunos de 8a série do Ensino Fundamental em projeto telemático (Dinamarca)
Um dos relatos que me chegaram pela rede em resposta ao questionário enviado pela Internet, foi o de Bent KARKOV, da Dinamarca. Através da lista : "KIDLINK List: For Adult Leaders of KIDLINK Youth" descobri que Bent Karkov procurava escolas parceiras para desenvolver projetos mútuos com objetivos de correspondência entre grupos de 22 alunos jovens, de 14 a 15 anos, usando Inglês como segunda língua, trabalhando projetos cobrindo interesses e necessidades mútuos, podendo os alunos, eventualmente, participarem de projetos de estadia com famílias nos respectivos países. Os projetos deverão ser desenvolvidos em 96/97.
KARKOV respondeu, prontamente, enviando-me informações sobre os projetos que eles desenvolvem na Frisholm School, uma escola no interior de Jutland na Dinamarca.
O projeto tem a participação de alunos de duas classes diferentes de oitava série, com cerca de 44 alunos(22 em cada sala) de 14 a 15 anos e seus professores (dois em cada sala). Os alunos estudam Inglês desde a quinta série, três vezes por semana. KARKOV observa que o sistema escolar dinamarquês vai da série 0 (pré-escola ) à 10a (KARKOV, 1966:13/07/96).
O objetivo principal do projeto é fazer com que os alunos usem a língua inglesa em situações reais através de troca de cartas com quem eles podem vir a estar por uma semana. A atuação dos professores de classe e não, necessariamente, dos de língua inglesa se faz junto aos pais e aos alunos no planejamento e no acompanhamento do projeto. "They are the main responsibles for the whole project, though, and are active during the whole project in many different but traditional teacher roles" (Eles são os principais responsáveis por todo o projeto, portanto, são atuantes durante todo o projeto em muitas funções diferentes daquelas de professor tradicional). Enviei uma mensagem a Bent Karkov, inquirindo tanto sobre o sistema educacional dinamarquês, como sobre quais seriam as funções não tradicionais dos professores nesse projeto.
O projeto já existe há dez anos com uma escola na Holanda, mas devido a alguns problemas de participação com essa escola, os professores decidiram parar. Não tivemos informação sobre esses problemas. Ocorre-me, porém, que podem se referir aos mesmos problemas que alguns dos nossos professores sentem em relação às escolas parceiras de outras regiões, e países, que não têm a participação efetiva dos professores na realização do projeto pedagógico telemático e, portanto, a atuação do aluno é mais superficial e sem compromisso, frustrando, como veremos nas descrições de alguns projetos do Ensino de Humanidades via Telemática da Escola do Futuro da USP, professores e alunos que buscam atingir os objetivos propostos no início do projeto. Entretanto, como os resultados das trocas e das visitas foram muito significativos, os professores não desistiram de realizar novos projetos, ao contrário, resolveram convidar outras escolas na Alemanha, República Czechia, Finlândia, Lituânia e Espanha, que já se manifestaram aceitando o convite e estão em fase de preparação, e estão decidindo se aumentam ou não uma participação de um número maior de classes (KARKOV, 1996:13/07/96).
Podemos observar nas declarações de KARKOV que, ao contrário dos relatos de outros coordenadores, como BERNHARDT (1996:, no seu artigo sobre o "Is there a Hemispheric Youth Culture"), que descreverei mais adiante neste capítulo, ele enfatiza a participação e a responsabilidade do professor no acompanhamento e na realização do projeto. Para mim, isto é significativo, pois deixa entrever a postura teórica do coordenador ou do pesquisador. Durante muito tempo, a educação foi centrada no professor e no ensino. Particularmente no ensino de línguas, outras abordagens (comunicativa, funcionalista, naturalista, etc) passaram a centrar a atenção no aluno. O professor passou a atuar em um segundo plano, pois a aprendizagem do aluno é que era o foco. Defendo uma abordagem, mais integradora e comunicacional construtivista, conforme conceituação explicitada no Capítulo 2, em que haja integração entre ensino e aprendizagem de professores e alunos num trabalho construtivista conjunto, em que a comunicação entre as partes não privilegie nem um, nem outro, mas o processo que se desencadeia dessa educação comunicativa que se estabelece na construção conjunta.
3.1.5 Telemática e Aprendizagem Interativa em escolas de nível superior (West Virginia/EUA)
Este projeto já se configura muito diferente do anterior, tendo sido desenvolvido, em Ensino Superior, por três setores da Marshall University (College of Education, Instructional Television Services e Computer Center) com a colaboração da West Virginia Satellite Network para promover aprendizagem a distância interativa no estado de West Virginia (EUA); entretanto, envolve centros também interessados em aperfeiçoar a telecomunicação educativa.
Procurou-se usar as redes de computadores na tentativa de se estabelecer um grau de interação e atividade entre professor e alunos que estariam, todos, em locais distantes uns dos outros. Os alunos eram de 11 lugares diferentes, cada um com uma conexão ao sistema de redes de computadores maior. A maior distância era de 250 milhas norte/sul e 175 milhas este/oeste. Um total de 44 alunos, 26 terminais no primeiro semestre e 62 alunos e 33 terminais no segundo semestre, então em 10 locais diferentes. Seus objetivos foram: ligar-se a uma rede maior através dos sistema VAX (grande porte), interação com os professores e com outros alunos, propiciar que os alunos entrassem com seus dados, usassem programas aplicativos de estatística, por exemplo, e corrigissem e interpretassem suas análises de dados. Os alunos, além de se comunicarem entre si e com o professor, via rede, se comunicavam via áudio e assistiam a televisão e, como os engenheiros desenvolveram um sistema especial, com os programas INSTRUCTOR/ATTEND e CONTRL, tudo que era jogado no computador podia ser visto na televisão: "Os alunos podiam assistir o professor demonstrar um procedimento no computador via satélite e, imediatamente, entrar com comandos nos seus terminais" (BANKS, 1994, 497). Também, tudo que era apresentado no computador do professor, era simultaneamente mostrado em todos os terminais em todos os locais e o professor poderia enviar dados para cada aluno de forma que, ao mesmo tempo em que ele, os alunos estariam acessando a rede, permitindo ainda que eles pudessem interagir através de um arquivo exibido tanto no computador do professor quanto no do aluno. Uma outra vantagem, também, era a possibilidade do aluno poder ter seu trabalho mostrado para os outros alunos na tela da TV e, pelo áudio, falar sobre o que estava fazendo.
Uma característica desse tipo de curso não encontrada nos cursos de longa distância por TV apenas, é a demanda do apoio e da orientação do professor, extraordinariamente grande. Uma constatação desse curso por um engenheiro de transmissão foi de que "a tenacidade e o conhecimento de computação" para lidar com os problemas técnicos por parte do professor é que impediram o fracasso do curso. O professor Steven R. Banks é um professor associado da College of Education que usou os programas acima mencionados e a telemática para trabalhar com alunos a distância o seu programa regular. Constatou-se, também, a necessidade de um "facilitador com experiência no uso do equipamento e dos programas era essencial (BANKS, 1994, 497-499).
Aqui se apresenta um ponto fundamental da nossa análise mais adiante, que é o novo papel do professor. A função de orientador, de apoiador, na construção do conhecimento do aluno. Todo o equipamento permitia que os alunos tivessem acesso à informação, mas o desenvolvimento de estratégias, habilidades e capacidades para um estudo autônomo necessitavam de uma orientação inicial de professores. Por outro lado, a telemática educativa vem suprir uma falta no sistema de ensino a distância tradicional que era a interatividade dos alunos entre si e com o professor.
Houve problemas, logísticos, técnicos e de uso errado. Os computadores eram usados depois das 17 horas para evitar sobrecarregar o computador de grande porte com a análise de dados, um problema que realmente aconteceu foi a variedade de níveis de competência no uso do computador que era muito grande e a competência do pessoal de suporte, também variava e, justamente, nos lugares onde havia menor competência por parte dos alunos , também havia pouca competência pelo pessoal de suporte. Uma outra dificuldade é que o equipamento (hardware) e os programas (software) também eram muito diferentes de um local para outro.
Há pouca informação sobre que conteúdo estudaram, que estratégias utilizaram, que conceitos desenvolveram. Pouco se fala sobre a atuação do professor desse ponto de vista. Os relatos dessa como de outras experiências enfocam geralmente as condições físicas e operacionais relegando a um segundo plano as questões de ordem pedagógica e educacional.
Há ainda que se atentar para a superação das dificuldades ocorridas uma vez que o professor tinha conhecimento suficiente para vencê-las. Entretanto, este é um ponto básico, a ser considerado, pois o novo papel para o professor não o de ser um técnico de informática e acumular dupla função, mas com conhecimento bastante para ser um usuário eficiente e exigente. O campo educacional surge como uma nova área para o profissional de informática dar suporte ao usuário, no caso o professor e o aluno. É essencial que os programas de formação de professores pré- serviço e em serviço atentem para que os profissionais de informática que vão acompanhá-los também recebam essa mesma orientação para que ambos saibam até onde vai a competência e responsabilidade de cada um e para que ambos possam trabalhar colaborativamente para a aprendizagem dos seus alunos e a sua própria.
3.1.6 Telemática e o Desenvolvimento da Consciência Européia em escolas de Ensino Superior e Médio (Irlanda e Noruega )
Há vários projetos sendo realizados a nível de Ensino Superior, mas faltam detalhes mais significativos. Como me referi, no início deste capítulo, agora é que começam a aparecer relatórios sobre essas experiências. O que descrevo a seguir interessou-me por ser uma troca entre Ensino Superior e Ensino Médio sobre um tema que envolve pré-concepções e que foram alteradas.
O uso da telemática entre alunos de pós-graduação da Universidade de Ulster, na Irlanda do Norte e alunos de 16 anos de escola de Ensino Médio, na Noruega, tendo por base História e outros dois temas do currículo comum: Tecnologia de Informação e Educação para Entendimento Mútuo é descrito por AUSTIN (1995:227-235), coordenador desse projeto.
Os alunos de pós-graduação da Universidade de Ulster (futuros professores de História) tiveram a oportunidade de verificar como a sua história era ensinada na Noruega através da troca de correspondência por correio eletrônico e fax com alunos da escola secundária de Oslo (Hosletoppen Skole).
Os alunos dessa escola responderam perguntas tais como: "Quais as suas impressões sobre a vida na Irlanda do Norte ?, Qual a importância da religião na vida de vocês? Que história vocês estudam na escola?; Quantas escolas com religiões mistas há na Irlanda do Norte?; É perigoso ir para a escola a pé?
Alguns dos pontos importantes realçados por AUSTIN se referem, por exemplo, à negociação entre professores da sala da escola da Noruega e o tutor de História da Irlanda do Norte, entre os alunos de pós-graduação e os alunos da escola secundária para chegarem a quatro grupos referentes à política, questões sociais, escolas e educação e, por fim, vida cotidiana. Negociaram também, o cronograma a ser seguido para as trocas de informações.
A diferença de idade não provocou problemas e os grupos sentiam-se confortáveis uma vez que havia um propósito a ser compartilhado. Observou-se um cuidado especial com a linguagem, já que no caso da mensagem eletrônica não há a possibilidade da linguagem corporal, gestual e expressões próprias da comunicação presencial. Para os futuros professores irlandeses, esse projeto foi fundamental na construção da sua compreensão do que é educação.
Pude constatar que o relato de AUSTIN corrobora observações referentes há outros projetos no que se refere a esclarecer mal-entendidos sobre questões históricas, sociais ou lingüísticas.
Em todos os projetos descritos, há uma série de ausências que podem servir de campo para as reflexões que desenvolverei no capítulo 4. Todos esses projetos foram escolhidos por terem alguma atuação de professores e serem projetos que apresentavam alguns pontos particulares que servirão de material para a reflexão sobre as redes de comunicações e as atuações de alunos e professores numa integração comunicativa educativa.
Iniciou seu trabalho com correio eletrônico, fazendo os futuros professores , (alguns já lecionavam), lerem e enviarem mensagens pelo correio eletrônico e terem acesso às páginas do Netscape. Segundo ELLIOT (1996:80), os alunos começaram a localizar tópicos do curriculum com o qual trabalhavam em sala de aula e planos de aulas que eles imprimiam, por não terem computadores em casa, durante uma hora de acesso à Internet. Na verdade, os planos de aula era o que eles mais imprimiam. Aos poucos descobriram, também, páginas referentes a lazer que eles preferiam.
Aos 29 alunos de sexta-série do Ensino Fundamental, acompanhados de seus dois professores e três dos alunos de "Computers in Education" da Faculdade de Educação, ELLIOT orientou dando-lhes uma hora de acesso nos dezesseis computadores disponíveis no laboratório. Os professores e monitores puderam observar que os alunos desenvolviam as habilidade de busca de informações na WWW, mas não tinham muita paciência para a impressão das imagens selecionadas. Outra observação feita por ELLIOT (1996) é de que quando uma palavra que foi lançada para busca não funciona, os alunos pulam para outra escolha ao invés de procurar um sinônimo. Neste ponto é que a participação do professor se faz necessária, orientando-os para essas alternativas.
Outra observação que ELLIOT (1996) fez, referem-se aos temas que os alunos pesquisaram quando lhes foi dado, ao final da aula, tempo para busca do que lhes interessasse em termos de recreação, entretenimento e esportes. Desde vampiros a "rock music" e "ovni". "Duas garotas digitaram "nus" antes que um professora-aluna desligasse a máquina até que elas concordaram em ficar dentro dos limites previamente estabelecidos".
Todos os participantes responderam questionários dos quais se concluiu que os alunos não têm dificuldades a não ser a "demora" na recuperação de imagens pelo computador. ELLIOT (1996) chama a atenção para o desenvolvimento de habilidades para a pesquisa, as mesmas que eram necessárias em uma biblioteca. O papel do professor se faz indispensável, também, nessa área, mas percebe-se que ele próprio precisa aprender ou reaprender essas habilidades.
As oficinas pedagógicas de ELLIOT permitem que os futuros professores acompanhem as descobertas dos alunos e façam as suas próprias descobertas para transformar a Internet numa mídia para a comunicação educativa na escola.
Muitos dos projetos pedagógicos telemáticos envolvendo "pen pals" nos Estados Unidos, Canadá, Portugal, e em outros países acontecem com parceiros de escolas brasileiras. Mas não há uma atuação efetiva do professor. Nos projetos que acabo de descrever, busquei enfocar a atuação do professor como elemento necessário e essencial junto ao aluno para a construção da comunicação educativa efetiva. Tal atuação docente parece encontrar-se ainda velada ou desvelando-se mais lentamente que a de seus alunos.
Em muitos centros, a participação do professor mostra-se, ainda, voluntária desvinculada de objetivos e atuações mais duradouras e coletivas nas escolas. Muitos projetos, como já foi mencionado, são patrocinados por agentes externos à escola , não criando, na verdade, uma pertinência do projeto em relação ao corpo docente. Essa situação certamente, deve reverter-se pouco a pouco.
3.1.8 Pesquisa, Desenvolvimento e Educação no Ensino Superior (Zimbabwe/Africa)
A Universidade de Zimbabwe decidiu iniciar um projeto de uso de correio eletrônico para poder oferecer a seus alunos e professores as possibilidades de se atualizarem e comunicarem-se com seus colegas no exterior. Há falta de professores de materiais atualizados para se trabalhar com um grande número de alunos, nas escolas de Ensino Fundamental, Médio e, mesmo, superior. Em janeiro de 1995, Zimbabwe só possuía conexão de correio eletrônico com os países que a rodeavam, África do Sul, Moçambique, Botswana, Malawi, Namíbia e Zâmbia, sendo provida por dois sistemas distintos: a) Fidonet, nas máquinas MANGO (para as organizações não governamentais), HEALTHNET ( para a área da saúde) e ESANET (para a área acadêmica). Essas máquinas estavam ligadas à Internet na África do Sul por uma linha discada de 14.400bps ( que deveria ser conectada várias avezes ao dia);p b) uma conexão UUCP (Zimbix) da UZComputer Center, ligado à Internet pela Rhodes University, também na África do Sul. Os acessos também eram feitos através de linha discada, em três linhas com terminais espalhados pelo campus da universidade. Já se pode concluir que as comunicações eram bastante sofríveis, se se considerar o tipo de equipamento.
Entretanto, o serviço de correio eletrônico tornou-se amplamente usado pelos pesquisadores, professores e alunos. Os projetos educacionais Global Laboratory, da TERC de uso do correio eletrônico supriram várias escolas em Harare, Zimbabwe, com computadores, software e modems além de cursos de capacitação de professores para participarem com seus alunos dos projetos que investigam as mudanças climáticas e as questões ambientais. BUXTON (1995,67-71) informa que muitas missões religiosas e organizações não-governamentais instalam-se nas zonas rurais instalam linhas telefônicas e usam o correio eletrônico para comunicar-se; poderia haver uma cooperação entre essas instituições e as escolas locais para que elas também possam participar dos projetos pedagógicos telemáticos não só para colocar alunos em contato com outros alunos, mas para atualização dos professores. Ressalta que há a necessidade da formação de uma "massa crítica" local, e o correio eletrônico pode ajudar nessa formação.
3.1.9 Outros projetos sem informação suficiente para serem descritos
Desde 1993, temos conhecimento que muitos projetos telemáticos se desenvolveram em Portugal, dentro de um programa de implantação de informática educativa, o EDUCOM. Os dados que me foram disponibilizados não foram suficientes para descrever esses projetos; entretanto, têm-se conhecimento através das listas que os alunos e alguns professores portugueses têm participado de projetos com escolas ao redor do mundo.
Resumindo, na relatividade dos dados a mim disponibilizados até agora (outros dados, com certeza, existem), os oito projetos pedagógicos telemáticos em escolas de países não latino-americanos aqui descritos caracterizam-se no seu conjunto, principalmente, assim:
a) quanto ao quando, que nível escolar, de onde com quem onde: os projetos têm acontecido nos últimos cinco anos, nos diversos níveis de educação escolar: desde a educação infantil até os cursos de pós-graduação, e não se restringem apenas a um mesmo nível, tendo por exemplo, os alunos de pós graduação da Irlanda interconectando-se com os alunos do Ensino Médio da Holanda, ou os futuros professores , alunos da Faculdade de Educação e alunos da 6a série do Ensino Fundamental. Isso demonstra que a comunicação educativa telemática acontece para além dos limites dos níveis educacionais e para além das fronteiras nacionais, uma vez que os problemas que suscitam o interesse dos alunos podem e devem ser relacionados com sua realidade mas são na sua essência transnacionais.
b) quanto ao sobre o que, para quê, e por quê: os projetos apresentaram os seus objetivos explicitados mais em relação à vontade de um aperfeiçoamento da telemática educativa, do que em relação à prática comunicacional , de levar os alunos a se comunicarem com outros alunos, especialistas Alguns projetos não explicitaram claramente quais eram os objetivos específicos. Dos oito projetos, todos indicavam o objetivo de se comunicarem com pessoas de outras cultura; três tinham por finalidade a pesquisa e a troca sobre aspectos culturais de seus interlocutores; um desses projetos enfatizava o trabalho na área de ciências e um com enfoque na história do país e na visão do estrangeiro sobre sua história. Todos apresentavam muita preocupação com as dificuldades técnicas e de operacionalidade.
c) quanto aos materiais, linguagens/textos informáticos: os projetos pedagógicos telemáticos estudados neste trabalho, até o momento, se utilizaram de pesquisa e comunicação textual nas suas trocas telemáticas. Alguns professores , em projetos que envolvem a língua materna ou estrangeira indicam que a linguagem textual é redimensionada pelos alunos , que por estarem escrevendo a um leitor real, se preocupa com a precisão semântica, com a ortografia e com a sintaxe. Alguns projetos, como o de Truro, Nova Scotia, os alunos têm acesso a WWW e podem fazer pesquisa, não só com texto, mas também com a linguagem audiovisual e os alunos têm tempo para a pesquisa educativa e para entretenimento, buscando sítios de histórias de terror, vampiros, "rock music" etc.... Na maioria dos projetos, o correio eletrônico é utilizado para a troca telemática. Em países como Zimbabwe,, tem-se acesso só ao correio eletrônico, e a linguagem textual; em algumas escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio em Portugal, o equipamento estava alocado à escola pelo projeto de informática educativa, ao terminar o projeto, as escolas ficaram sem os modems e passaram a se comunicar por correio regular. Neste caso, houve uma transferência de uma prática bem sucedida com nova tecnologia de comunicação para uma tecnologia tradicional, uma vez que o que contava, não era a tecnologia, mas a prática comunicacional pedagógica que se estabeleceu entre os professores das escolas participantes.
d) quanto aos professores atuantes, alunos atuantes, modos educativos e comunicacionais de atuação: a atuação dos professores em alguns dos projetos pedagógicos telemáticos estudados implica na aprendizagem e descoberta das possibilidades da Internet junto a alunos, como no projeto de Truro, Nova Scotia, ou em programas de formação. Não é só na Olinda Elementary School que se encontram professores como Elissa Gerzog. Muitos professores em outros projetos pedagógicos telemáticos em todo o mundo têm iniciativa e atuam solitariamente junto a seus alunos, nas suas escolas, planejando, executando, avaliando e divulgando um projeto. Nas situações em que o projeto pedagógico telemático faz parte de um planejamento educacional mais significativo, programas de formação contínua de professores colocam-nos praticando a telemática e descobrindo as suas aplicações nas diversas áreas de conhecimento. Nas experiências esporádicas e temporárias entre adolescentes de regiões diferentes, o professor tem apenas a função de coletor de mensagens, e, às vezes, nem mesmo essa. Se essa prática é coordenada por um elemento de uma escola ou de uma outra instituição externa, muitas vezes, o professor nem se dá conta de que seu aluno a pratica.
As atuações dos alunos de pós-graduação e dos alunos da escola de nível Médio da Holanda, indicam que, como já me referi, é possível se fazer um trabalho sério, entre níveis de escolaridade diferentes se os elementos dos grupos envolvidos tiverem claros seus objetivos e respeitarem seus interlocutores e a história de vida que cada um traz consigo. A aprendizagem se dá e descobre-se uma nova forma de trabalho colaborativo.
Na Nova Scotia, os alunos tiveram a oportunidade de trabalhar com o correio eletrônico e navegar pelo Netscape. A sua atuação, não só como um indivíduo que se comunica (trocas de correio eletrônico), mas como um aprendiz que pesquisa. Aprenderam junto com os professores a fazer busca, usando as "search engines" da WWW, às quais já me referi no capítulo 2.
Analisarei, a seguir, alguns projetos na América Latina e no Brasil, em que verificaremos se ocorrem as mesmas situações e comprometimentos que nesses já apresentados.
3.2.1 Projeto Enlaces - em escolas de ensino fundamenta, Médio e superior (Chile);Há uma grande efervescência na América Latina, incluindo o Brasil, mas as informações sistematizadas sobre essas experiências são raras. Em abril de 1995, na cidade de São Paulo, por ocasião da realização do FLUREC - Fórum Latino Americano de Uso de Redes de Computadores na Educação e Cultura -aproveitei as respostas à pesquisa solicitada junto à inscrição e fiz um levantamento, para identificar projetos que poderiam interessar-me neste estudo. A maioria dos projetos telemáticos em andamento e relatados eram projetos de Ensino Superior voltados à pesquisa e não à comunicação educativa escolar, propriamente dita. Não me aprofundei nesses projetos de pesquisa, por não serem alvos do meu estudo. Entretanto, vale a pena informar que no grupo de trabalho, referente ao Ensino Fundamental e Médio (de primeiro e segundo graus) em que participei como mediadora, havia 4 representantes de Secretarias Municipais de Educação, 25 representantes de escolas particulares, 2 coordenadores de escolas públicas estaduais, 1 aluno de universidade estadual, 11 professores de universidades federais, 1 representante de universidade estrangeira, 2 representantes de escolas de línguas, 3 representantes de escolas de Informática e 1 representante de uma editora de livros. A preocupação básica se referia à introdução da Informática Educativa e dos projetos pedagógicos telemáticos nas escolas de Ensino Fundamental, Médio e Superior como ferramenta e mídia e não como um componente integrante de projetos e processos de comunicação curricular. As instituições educacionais carecem de orientação adequada para a implantação da informática em suas escolas, desde a compra de equipamento adequado. Outra preocupação dos participantes se referia à formação de recursos humanos e à capacitação de professores para a manipulação e gerenciamento dessa ferramenta e nova mídia disponibilizada aos muitos alunos em suas casas e já dominada por eles. Alguns desses participantes já experienciam a Internet em suas atividades enquanto pesquisadores; outros iniciaram algum tipo de atividade com seus alunos de forma intuitiva e estão muito interessados em implementar essa atuação num contexto pedagógico mais sistematizado e de acordo com uma metodologia apropriada. Todos foram unânimes em considerar a capacitação dos professores pela ação, mostrando-lhes formas de utilização da telemática no seu trabalho pedagógico cotidiano.
3.2.2 Fiestas Folclóricas, Psicologia, Ecologia, Comunicaciones en español, em escolas de Ensino Fundamental e Médio (Peru e outros países latino-americanos);
3.2.3 Incorporação da Telemática na escola de Ensino Fundamental (Guatemala);
3.2.4Projetos pedagógicos Telemáticos iniciais em Ensino Fundamental (Bogotá e Bucamaranga/Colombia);3.2.5 Trocas telemáticas iniciais em Ensino Fundamental e Médio (Ceará, Pernambuco/Brasil);
3.2.6 De Olinda a Olanda - Professores e alunos do ensino fundamental reconstróem a História de Olinda (Pernambuco/ Brasil);
3.2.7 Internet em Escolas de Ensino Fundamental e Médio - um exemplo: Viajando no Espaço Cibernético (Salvador/ Bahia/Brasil);
3.2.8 Projetos Pedagógicos Telemáticos em Formação inicial em escolas de Ensino Médio (Magistério) e em serviço de professores de Ensino Fundamental e Médio e Superior (RJ);
3.2.9 Projetos pedagógicos telemáticos diversos com professores e alunos de escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio e de Educação Especial (Santa Catarina e Rio Grande do Sul/Brasil);
3.2.10 Francês Instrumental Ensino a Distância em escola de Ensino Superior Projeto Piloto PUC/COGEAE (São Paulo/Brasil);
3.2.11 Projeto Pedagógico Telemático no Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da USP-FE/USP(São Paulo/Brasil)
Analisando respostas ao questionário de inscrição dos participantes no FLUREC, encontrei projetos pedagógicos telemáticos em desenvolvimento em países da América Latina como o "Projeto Enlaces", do qual obtive mais dados, mas outros projetos na Argentina, Costa Rica, Venezuela, dos quais tenho conhecimento de existência, não tive dados suficientes para uma análise mais detalhada.
3.2.1 Projeto Enlaces - em escolas de Ensino Fundamental (Chile)
Uma das respostas ao questionário do FLUREC, de que me utilizei, foi mandada pelo Prof. Dr. Pedro Hepp, da Universidade de la Frontera, Chile, sobre o Projeto Enlaces.
O projeto se propõe a instalar, no período de 1993 a 1997, uma rede educacional com 100 escolas e 10 instituições relacionadas à educação. A parte física da rede se constitui de computadores pessoais com modems e software de comunicação via telefônica e via rádio para dar apoio curricular e apoio ao professores para um trabalho colaborativo interescolar. Outro objetivo é o de ter Centros de Informática Educativa (CIE) com equipamentos, programas e pessoal preparados para dar suporte à rede das escolas através de apoio aos projetos propostos, avaliação e produção de software e orientação técnico-pedagógica às escolas da rede. Desenvolver atividades experimentais em 3 escolas experimentais é um dos outros objetivos do Projeto Enlaces.
No período de 1991-1992, foi desenvolvido o software La Plaza. A praça é, não só no Chile, mas em toda a América Latina, o ponto de encontro da comunidade, onde as pessoas se reúnem e compartilham suas alegrias e tristezas. Essa metáfora permite que professores e alunos podem se encontrar e desenvolver sua aventura no mundo da aprendizagem telemática. Conforme informações de HEPP (1993:2-10), esse projeto preparatório foi desenvolvido apenas em 4 escolas de Ensino Fundamental: 3 escolas em Santiago, uma escola em Albuquerque, Novo México, com outras duas instituições, a Universidade Católica do Chile e a Apple Computers.
A figura 4 mostra a tela inicial, na WWW, desse software que permite alunos e professores do mundo todo se comunicarem, naturalmente, apresenta-se em espanhol. A partir das entrada "Museo", "Centro Cultural", "Correo", do "Kiosco" os alunos e professores podem ter acesso às ferramentas computacionais e de telemática. Podem usar as comunicações locais, regionais, nacionais e internacionais e participar de projetos educativos e conseguir software para uso em seus computadores). A introdução desse software nas escolas começa apor uma apresentação para os professores para que eles se acostumem e se familiarizem e muitas das suas dúvidas foram esclarecidas usando o próprio software através do "Correo" que permite acesso ao correio eletrônico pela rede de computadores; aí há espaços para professores, alunos, editores dos boletins
Figura B - Software La Plaza para navegar na WWW
informativos e para os monitores (professores de cada escola que foram especialmente capacitados para administrar e animar a rede e o software). O "Kiosco" é a metáfora que permite o acesso a informação em boletins informativos, revistas em quadrinhos e histórias educativas, e onde tanto alunos como professores podem construir sua própria revista.
O "Museo" permite o acesso a um banco de dados de software educacional e professores e alunos podem solicitar o software e experimentá-lo em seu computador, ou obter informações sobre os mesmos e onde adquiri-los.
O "Centro Cultural" é onde os alunos e professores trabalham em projetos pedagógicos telemáticos colaborativos, participam de listas de discussão e constróem suas aplicações multimídicas.
Esse software está disponível na WWW (cujo endereço se encontra no alto da figura 4) e permite a qualquer pessoa de qualquer parte do mundo utilizá-lo.
Em 1995, 81 escolas e 19 instituições chilenas já estavam conectadas à Internet. As escolas públicas receberam 3 computadores PC, 1 impressora, 1 modem e 1 aparelho CD-ROM e o software multimídico "Plaza" desenvolvido para auxiliar a atuação dos professores com os computadores. O projeto tem se preocupado em analisar a situação de cada escola com sua realidade própria, suas possibilidades, seus desafios. Os bons resultados atingidos são creditados aos diretores e professores por sua atuação conjunta na implantação dessa rede. O Projeto Enlaces tem como estratégia de implantação: a) dar apoio; b) promover a capacitação; c) dar assistência periódica; d) realizar reuniões técnicas; e) documentar a implantação.
Já foram criados dois CIEs, um na UFRO (Universidade de la Frontera), com 600m2 e contando com uma equipe de professores , engenheiros de telecomunicações e de software, psicólogos, projetistas gráficos e outros profissionais da área, no projeto "Enlaces"; outro CIE, na Pontifícia Universidade Católica, no Departamento de Ciências de la Computación, em Santiago e VillaRica. Em Temuco, já estava instalada a primeira escola experimental.
Tem-se como perspectiva aumentar a atuação até o final do projeto, instalação de outras escolas-piloto para avaliar a tecnologia antes de sua disseminação e inserir a tecnologia nas escolas de capacitação de professores
3.2.2 Fiestas Folclóricas, Psicologia, Ecologia, Comunicaciones en español, em escolas de Ensino Fundamental e Médio (Peru e outros países latino-americanos)
Recebi um dos questionários respondidos pela professora Cecília Montes, do Colégio América del Callao, em Lima, no Peru.
Relatou-me que estão desenvolvendo quatro projetos pedagógicos telemáticos: "Festividades - Fiestas Folckloricas", "Psicologia", "Ecologia" e "Comunicaciones en Español".
O projeto "Festividades - Fiestas Folckloricas" conta com a participação de 4 professores e 120 alunos , envolvendo a realidade nacional e têm como parceiros o Colégio Nacional José Pedro Varela, do Uruguai, Centro de Ciências de Sinalao e Computo para Niños DESCA-UNAM, ambos do México.
O projeto "Psicologia" envolve 2 professores e 120 alunos da área de Psicologia e parceiros do Departament of Psichology, da Rutgers University Camden, NJ dos Estados Unidos, além de outros psicólogos e especialistas estadunidenses, do psicólogo Rene Gempp e outros psicólogo e sociólogos do Chile.
O projeto "Ecologia" envolve 4 professores e 120 alunos discutindo problemas da realidade nacional com parceiros do Santiago College, do Chile; Colégio Andrews, do Brasil; Instituto Episcopal San Cristobal, do Panamá e San Miguel de Allende, Gto. do México.
O projeto "Comunicaciones en Español" envolve 3 professores e 360 alunos discutindo questões de língua e literatura com parceiros do Santiago College e Escuela F-55 Marcela Paz. Puren, do Chile; Silvana Serrano, da Argentina e Grisselle L. Principe - Ohio, dos Estados Unidos.
A comunicação entre alunos e alunos além de comunicação entre alunos e especialistas torna-se enriquecedora, pois amplia-se o quadro de conhecimento sobre outras culturas e a base para as reflexões sobre as questões envolvidas, posteriormente, em sala de aula. "O fato de ter amigos da mesma idade que passam por experiências ajuda a que o projeto por si só seja motivador para os alunos" (MONTES, 1996:correio eletrônico)
Um dos maiores sucessos conseguidos com os projetos telemáticos, ainda segundo MONTES, é que os alunos tomam consciência das diversas realidades e culturas presentes na América Latina.
A maior dificuldade apresentada por MONTES, que é uma professora de Informática, em relação a esses projetos é a resistência que os professores das diversas disciplinas demonstram em manter contato com os integrantes dos projetos.
3.2.3 Incorporação da Telemática na escola de Ensino Fundamental (Guatemala)
Na Guatemala, em 1994, a comunicação telemática era realizada através do serviço de correio eletrônico, em ligação via UUCP, em chamada para os Estados Unidos. Ainda assim, a Universidade de Valle de Guatemala introduziu na sua escola experimental de Ensino Fundamental, o Colégio Americano de Guatemala, o uso da telemática para completar os programas tradicionais, iniciando um projeto sem tempo definido. Participam de projetos internacionais como o Kidlink e o Kidsnet (da National Geographic Society). Observaram que os alunos têm se conscientizado de que o mundo é maior que a sua comunidade e começam a entender melhor as diversidade de costumes e de condições de vida. Percebem, também, que estão se comunicando com outros alunos de muitas partes do mundo e se preocupam em redigir com cuidado gramatical na sua língua e em aprender Inglês para se comunicarem com outros alunos que não falam espanhol. FURLAN (1994:correio eletrônico) ressalta que o projeto conta com o entusiasmo de alguns professores que servem de "catalisadores para induzir o resto do corpo docente para que experimente" essa nova tecnologia.
Encontram dificuldade, uma vez que até 1995, não tinham acesso a Internet, mas já indicavam um planejamento para que a companhia telefônica nacional colocasse a disposição das escolas os serviços da Internet. Outras dificuldades encontradas referem-se à falta de apoio das autoridades educacionais e a necessidade de capacitação dos professores para poderem incorporar essa tecnologia em sua prática pedagógica comunicacional.
O que se percebe, também, na Guatemala, é que as iniciativas de projetos pedagógicos telemáticos partem de grupos ligados à Universidade e, como em outros países latino-americanos, se defrontam com a necessidade de convencer os foros competentes da importância de uma política educacional modernizadora, não só equipando as escolas de Ensino Fundamental, Médio e superior, mas acompanhada e, talvez antecipada pela capacitação de professores na apropriação dessas tecnologias dentro de uma filosofia comunicacional educacional de valorização dos indivíduos e da comunidade local como participantes de uma grande rede transnacional, porém, mantendo suas características próprias e especificidades.
3.2.4 Projetos pedagógicos Telemáticos iniciais em Ensino Fundamental (Bogotá e Bucamaranga/Colômbia)
Desenvolve-se na Faculdade de Ciências da Educação,
Universidade de la Salle, em Bogotá, Colômbia, um projeto
denominado "Programa de informática y Comunicación Escolar:
El Uso Pedagógico de Nuevas Tecnologias" que é uma proposta
de construção de um Modelo Metodológico, de acordo
com sua coordenadora Luz Amparo Martinez.
O projeto se propôs a trabalhar em uma fase inicial, em uma entidade
particular em Bogotá, sem fins lucrativos, com um universo de 800
alunos e 55 professores ; a segunda fase, desenvolveu-se em 8 escolas de
Ensino Fundamental, 4 públicas e 4 particulares em Bogotá,
Madrid, Candinamarca e Bucamaranga, num total de 800 professores e 8000
alunos.
O trabalho proposto se fundamenta em 5 pressupostos básicos com os seguintes enfoques: a) humanista - centrado no professor, desenvolvendo-lhe a confiança, criatividade, autonomia, auto-estima; b) integral e transdisciplinar; c) investigativo (pesquisa e apresentação de resultados); d) prático - produto concreto de imediata aplicação na sala de aula; e) comunicativo - trabalho colaborativo. Seis sub-projetos se interrelacionam e aplicam esses fundamentos em programas de formação e capacitação em todos os níveis da escola , criação de uma micro-empresa para comercialização dos produtos finais com o computador, desenvolvimento de software de controle administrativo e pedagógico; utilização da telemática.
Houve um processo de inicialização e socialização
do modelo que provocou um repensar de ações pedagógicas.
Segundo MARTINEZ (1994, 1-3), em 1995,
70% dos professores das instituições envolvidas já
estavam capacitados, dos quais 60% já utilizava o computador tanto
em tarefas administrativas ( usaram-no com cerca de 600 alunos ) quanto
pedagógicas (tarefas de criatividade com 200 alunos do Ensino Fundamental)
e, em abril de 1995, desenvolviam tarefas com software de desenho e processador
de texto com alunos da 1a a 5a séries do Ensino Fundamental.
O trabalho focaliza o desenvolvimento de projetos pedagógicos
de aula incorporando as novas tecnologias. O professor é o protagonista
que identifica um problema educativo e busca uma solução
técnico-pedagógica em "equipe interdisciplinar, num processo
de investigação que apoia e sustenta o desenvolvimento do
produto ou solução técnico-pedagógica "(MARTINEZ,
1994, 3).
Em abril de 1995, o projeto colocou em funcionamento 18 projetos pedagógicos
nas diversas disciplinas de Ensino Fundamental, Médio e Superior.
Desses projetos alguns que interessam a este trabalho e sobre o qual
recebi alguma informação são: "O adolescente e seu
mundo"; "Bogotá, mi ciudad", "Empresa de servícios", todos
com alunos de escolas de Ensino Fundamental em Bogotá e Bucamaranga.
O projeto "O adolescente e seu mundo" orienta o aluno de modo a conhecer
o que ele pensa da família, da escola e da amizade. Possui um banco
de histórias criadas pelos próprios alunos e escritas anonimamente.
já no projeto "Bogotá, mi ciudad", os alunos desenvolvem
um guia cultural de Bogotá, a partir de um mapa da cidade com descrição
dos bairros e o que é significativo nesses bairros para quem tem
poucos recursos, escolhidos pelos próprios alunos.
3.2.5 Trocas Telemáticas Iniciais em Ensino Fundamental e Médio (Ceará, Pernambuco, Bahia/Brasil)
Além desses projetos telemáticos acima referidos, alguns outros encontram-se em germinação, ou em início, em nosso país, o Brasil.
Das respostas aos questionários entregues durante o FLUREC, em abril de 1995, obtive informações sobre a atuação do projeto da RNP incentivando instituições educacionais a desenvolverem projetos na Internet. Em resposta ao questionário, Jerry LOMBARDI, pesquisador da RNP, informou sobre os objetivos de um projeto que se refere ao envolvimento de profissionais da área de Humanas e Ciências Sociais, um bom campo de trabalho de professores e alunos. Desenvolver projetos de pesquisa sobre os aspectos sócio-culturais do uso das redes ; utilizar os recursos das redes e incentivar o seu uso para a produção das pesquisas; divulgar os resultados das pesquisas; manter linhas de comunicação ativa entre os pesquisadores de temas comuns sintetizam esses objetivos. LOMBARDI informou que os resultados têm sido muito limitados, mas que as pesquisas individuais também o são. Esta é uma área de fundamental importância e requer a mudança de paradigma de educadores e pesquisadores em relação à comunicação e à divulgação dos dados das pesquisas e das realizações pedagógicas telemáticas em desenvolvimento. Senti, nessa minha investigação uma dificuldade muito grande em relação a obtenção de informações de projetos em andamento e trabalhos não publicados.
Considerando-se que a atuação de professores nessa área comunicacional telemática, requer um maior empenho na formação desses professores para um trabalho em rede, no sentido de compartilhar descobertas e conhecimento, são necessários o registro, a disponibilização de dados e resultados de pesquisas sobre essa formação. Neste final de século, em que a existência das redes de computadores vem levando à descentralização das fontes de conhecimento e nos possibilitando vislumbrar uma socialização do saber, é inaceitável defrontarmos com ausências de registros e relatórios, documentando e divulgando projetos e processos que telemáticos em educação escolar.
Algumas pesquisas sobre a utilização da Internet nas escolas começam a aparecer. COSTA e XEXEO (1996:46-48) fizeram um levantamento com escolas através do correio eletrônico e também tiveram pouco retorno, mas concluíram seu trabalho com 18 escolas. Depreenderam dessa pesquisa que "83% das escolas entraram na Internet neste último ano". O serviço mais utilizado pelas escolas é o do correio eletrônico, mais recentemente, a "WWW", seguido de "telnet" e "FTP". A maioria desses projetos em nosso país são patrocinados e promovidos por instituições e agências governamentais, universidades e empresas de informática. São os coordenadores dessas instituições que apresentam os objetivos e as linhas diretivas dos projetos. Infelizmente, em muitos desses projetos, os pesquisadores trabalham apenas com os alunos e só envolvem professores voluntários, não criando nas escolas uma cultura para a multiplicação desses projetos. De modo que quando esses agentes externos se vão das escolas, os projetos não continuam.
O Nordeste do Brasil se revelou em minha pesquisa um campo de germinação
de trabalhos pedagógicos telemáticos estimulante. No Ceará,
em Pernambuco, na Bahia, há trabalhos sendo realizados, em telemática
educativa, mas novamente, os dados são difíceis de serem
conseguidos. A universidade Federal do Ceará, por exemplo, tem uma
"home-page" na WWW, entretanto, dificilmente, consegue-se acessá-la.
O tempo de resposta ao pedido de conexão é muito grande.
Quando se entra, é difícil de localizar as descrições
dos projetos.
Nos questionários recebidos, os dados enviados estavam incompletos,
pois muitos desses projetos ainda estão sendo instalados. Não
obtive respostas a alguns questionários e às mensagens enviadas
por correio eletrônico.
No Ceará, em uma escola particular, alunos da 3a série do Ensino Fundamental (Primeiro Grau) à terceira série do Ensino Médio (Segundo Grau) têm participado de trocas telemáticas com Portugal, orientados pelos professores , sobre figuras históricas enviado suas colaborações para o Dicionário Virtual indicando palavras com significados próprios da língua portuguesa falada no Brasil, diferentes dos significados da língua falada em Portugal, ou em outras nações de língua portuguesa; fazendo pesquisas sobre vikings e cangaceiros, trocas realizadas com alunos da Noruega. Segundo relato sucinto enviado por PESSOA, pesquisador da Universidade Federal do Ceará, coordenador do projeto telemático da escola em questão, em resposta a questionário da FLUREC, as maiores dificuldades se referem ao tempo disponível para o envolvimento no projeto e a língua estrangeira. Como resultados, indica um grande envolvimento dos alunos. Constatei através do testemunho desses professores durante o FLUREC, que o trabalho é desenvolvido com os alunos, voluntários; como atividade extra-classe e com professores, também, voluntários. Parece não haver uma sistematização da formação dos professores para essa atuação. Novamente, aqueles mais dinâmicos, disponíveis são os que se comprometem com essas atividades que também não se constituem como prática pedagógica da escola, mas como atividades temporárias e periódicas. Em contraposição, encontrei poucos, mas significativos, projetos em que professores e alunos atuam conjuntamente para um objetivo comum, como alguns projetos desenvolvidos na em Pernambuco e na Bahia.
De Pernambuco, recebi respostas da equipe do Prof. Paulo Gileno Cysneiros e dele próprio sobre o projeto A Apropriação da Informática pela Escola Pública, coordenada por CYSNEIROS, numa escola pública municipal do Recife. As atividades de planejamento começaram em 1994 na escola, mas as atividades com computadores só se iniciaram no segundo semestre de 1995. Foram, inicialmente, envolvidos os professores , alunos , supervisoras e a direção como um todo. A equipe coordenadora do projeto passou a vivenciar a comunidade escolar nos seus diversos aspectos. As disciplinas escolhidas para começar foram Português, Matemática e História. Os alunos participantes eram os das três turmas de oitava série do Ensino Fundamental da Escola Arraial Novo do Bom Jesus, da rede municipal de Recife (CYSNEIROS, 1995:correio eletrônico).
As dificuldades foram várias, tanto em relação ao envolvimento da direção da escola quanto à falta de apoio da rede. No trabalho desenvolvido com os alunos , procurou-se "dar mais ênfase ao ensino das disciplinas de Português e Matemática em detrimento ao puro tecnicismo no uso do computador", assim, segundo MIRTES (1996:correio eletrônico), o projeto teve um resultado positivo.
O projeto pedagógico telemático De Olinda a Olanda, também em Pernambuco é descrito em um item à parte, pois os dados coletados permitem uma maior detalhamento e pode fornecer indicadores para alguns projetos telemáticos mais específicos.
3.2.6 De Olinda a Olanda - Professores e alunos do ensino fundamental reconstróem a História de Olinda (Pernambuco/Brasil)
Um projeto telemático muito interessante desenvolvido, usando a BBS Cidadão do Futuro, no Brasil, é o "De Olinda à Olanda - Navegando com o Boi Voador na Internet ". Esse projeto foi coordenado pela Ars Consult em conjunto com a Sociedade Nordestina de Ecologia, "uma organização não-governamental, dedicada ao estudo e preservação dos recursos ambientais da região".
Os alunos das escolas públicas e particulares do Estado de Pernambuco envolvidas no projeto realizaram pesquisas, executaram trabalhos para uma exposição, e encenação no monte dos Guararapes, Pernambuco, no dia 27 de outubro de 1995 sobre o período holandês no Brasil. As instituições acima se propuseram a orientar as escolas e os professores através de uma consultoria em história, ecologia e informática e promovendo a comunicação por rede de computadores. O projeto teve um cronograma que se iniciou com uma apresentação dos participantes, respondendo a duas perguntas através da BBS Cidadão do Futuro: Quem somos nós? Como imaginamos que era o mundo, meu país e minha cidade há 350 anos atrás?
A pesquisa em questão se desenrolou a partir de quatro aspectos
básicos sobre o período holandês: físico-ambiental,
político, sócio-cultural e econômico.
As fontes de informações básicas foram disponibilizadas
às escolas pelas instituições promotoras do projeto
através de um hipertexto básico, de roteiros de visitas a
museus e sítios históricos, de bibliografia básica,
contatos com Portugal e Holanda, filmes e vídeos, além da
troca de informações pela BBS Cidadão do Futuro (Anexo3B)
Uma outra etapa foi a produção coletiva e individual. A coletiva era organizada através de cinco atividades: a pesquisa, manifestação ecológica, baile a caráter, exposição de produtos e encenação. As opções para a produção individual eram muitas: textos, fotografias, gravuras e desenhos, multimídia, jornais e textos de rádio, roteiros, cenários e telejornais, etc. Os alunos , orientados pelos seus professores puderam escolher conforme o seu estilo de aprendizagem , sua competência maior e sua preferência em que grupo desenvolveria o trabalho coletivo qual seria a sua produção individual. Houve a elaboração de mural com textos, criação de jornais, confecção de roteiros, leitura de textos, onde os alunos com maior competência lingüística se comprometeram. Já os programas de rádio da época, encenação e videogravação, dramatização, apresentação de músicas e danças folclóricas, construção de maquetes, plantio de sementeiras, exposição de fotos, gravuras e desenhos, e outras atividades reuniram aqueles alunos com competências tais como a musical, a pictórica, a espacial, a cinestésica-corporal, a interpessoal e a intrapessoal.
Os alunos trocavam mensagens sobre o que pesquisavam pelo correio eletrônico da BBS Cidadão do Futuro. Fotos, imagens, gráficos, mapas, eram entregues aos coordenadores para que fossem digitalizadas e enviadas pela rede de computadores. Todo o trabalho foi orientado no sentido de haver uma troca de informações entre as escolas participantes e escolas e bases de dados internacionais.
Uma exposição coletiva dos trabalhos realizados e a troca de correspondência via computadores fecham o projeto, GODOY, coordenadora do projeto mostrou, no EDUCAR, Congresso de Ensino a Distância, em São Paulo, em junho de 1996, álbuns com documentação desse trabalho, incluindo fotos da encenação da Batalha de Guararapes no local mesmo em que aconteceu e de um grande baile típico do período da presença dos holandeses no Brasil. Professores e alunos estudaram questões pertinentes à sua história numa abordagem valorativa, redescobriram sua cultura, desenvolveram atitudes científicas em relação à reconstrução do passado e a sua interpretação e despertaram a sua sensibilidade para a apreciação da produção artística dessa época. Ficaram todos muito estimulados que dispuseram-se a continuar e planejar um próximo projeto telemático, "Por mares nunca dantes navegados".
3.2.7 Internet nas Escolas em escolas de Ensino Fundamental e Médio - um exemplo: Viajando no Espaço Cibernético (Salvador/Bahia/Brasil)
No início do segundo semestre de 1996, em Salvador, na Bahia, o projeto Internet nas Escolas (consultor, Sérgio Fialho; assessora técnica da Secretaria Municipal da Educação, Fátima Brandão) tem como objetivo integrar escolas municipais públicas à Internet. Conta com 20 alunos de escolas de Ensino Médio, 3 professores de escolas de Ensino Fundamental, 17 professores de escolas de Ensino Médio como participantes atuantes. Pesquisadores da Universidade Federal da Bahia estão dando suporte à Secretaria Municipal de Salvador para essa implantação. De acordo com informações de Sérgio Fialho, através da lista EDUCA_L e da Kidleaderportuguese, essa implantação está sendo iniciada com a capacitação de professores nas novas tecnologias e nos propósitos associados a elas. Encontram-se na primeira fase, cuja meta é ter em 25 escolas de Ensino Fundamental e Médio, pelo menos 1 professor dedicado e capacitado com um grupo de 5 a 15 alunos, num total 25 professores e de 375 alunos conectados a Internet até dezembro, participando de alguma atividade na rede KidLink. Três dessas escolas já estão em atividade com alunos e professores de 16 escolas já conectadas a rede estão sendo capacitados. (com previsão de alcançar, em dezembro de 1996.
Esse projeto objetiva a viabilização da interação da comunidade escolar com os serviços da Internet "contribuindo para democratizar o acesso a tecnologia e ampliar os meios de trabalho de professores e alunos. Esta é uma fase de formação de grupos de professores multiplicadores. Prepara-se o grupo inicial de cada escola para que seja difusor da cultura de uso dos recursos da Internet, e, estimulador de outros professores para a utilização desses recursos em apoio à sua prática comunicacional educativa em sala de aula. Professores e alunos atuantes já se utilizam do correio eletrônico, "talk" e "Netscape ", e estão inscritos na rede KidLink. FIALHO (1996b:correio eletrônico) informa que as principais dificuldades se referem ao suporte ao funcionamento dos computadores nas escolas, equipamento não atualizado. Outra dificuldade aponta para a necessidade da integração da informática em uma proposta pedagógica da rede de ensino. Entretanto, aguardam, no momento, os laboratórios aprovados pelo CNPq para 13 escolas. FIALHO (1996a: correio eletrônico) afirma que se sente incentivado em continuar devido à receptividade que os professores têm manifestado e que os alunos fortalecem sua auto-estima e melhoram a qualidade de produção de texto, o hábito da leitura e da pesquisa.
Ainda segundo FIALHO (1996b, correio eletrônico), desenvolvem, ainda, um grupo de estudo com professores da rede municipal em parceria com a Universidade Federal da Bahia para "compreender melhor a sociedade, nesta cultura tecnológica" e "para aprofundar o debate sobre a introdução da tecnologia na atividade escolar".
Os dados sobre o projeto Viajando no Espaço Cibernético foram conseguidos através da KIDLEADRportuguese, a partir de um relatório de atividades desenvolvidas durante as férias de na Escola Municipal Dr. Alexandre Leal Costa, em Salvador, um dos exemplos desse trabalho descrito neste item.
Dez alunos de 7a e 8a séries do Ensino Fundamental, durante o período de dezembro de 1995 a fevereiro de 1996, num total de 28 horas de atuação de professores e alunos, sob a coordenação de Gabriela Guimarães Nascimento, professora de Artes e Lynn Rosalina Gama Alves, Supervisora Pedagógica dessa escola. Professores e alunos aprenderam os conceitos básicos referentes à Internet, ao Kidlink e ao Dicionário Virtual, projeto da KIDCAFEp, para criação com palavras em português e seus significados no Brasil, em Portugal e em outros países de fala portuguesa. Inicialmente, elaboraram as respostas às quatro questões básicas, necessárias para a inscrição para participarem do "Response" e do Kidcafep (Quem sou eu? O que quero ser quando crescer?) Como eu quero o mundo? e Que estou fazendo para isso? A seguir, enviaram mensagens de agradecimentos para as pessoas de outros países que lhes deram as boas vindas na rede. Houve, ainda, troca de mensagens entre os adolescentes. Uma atividade mais dirigida e que teve a orientação dos professores foi o levantamento, discussão e registro das palavras para o Dicionário Virtual (o mesmo que teve a participação dos alunos do Ceará, já citado neste capítulo). Outro serviço da Internet que foi usado pelos participantes foi o "talk" (dialogo dos alunos através da rede). As coordenadoras ressaltaram que houve grande interesse e envolvimento por parte dos participantes que atuaram até o fim do projeto (NASCIMENTO E ALVES (1996:correio eletrônico).
As dificuldades que se apresentaram relacionaram-se a existência de apenas um computador, falta de espaço físico, para se realizar as aulas com prática da rede, falta do domínio da língua inglesa, em que quase toda a comunicação na Internet se realiza. Entretanto, consultados numa avaliação do projeto, houve desejo de continuar a usar a Internet e a sugestão para compra de mais microcomputadores.
As trocas desses professores são uma constante nas listas de discussão Kidleaderportuguese e EDUCA-L, a cujo projeto, me refiro no próximo item.
3.2.8 Projetos Pedagógicos Telemáticos em Formação inicial em escolas de Ensino Médio (Magistério) e em serviço de professores de Ensino Fundamental e Médio e Superior (RJ)
O Colégio Andrews, escola particular de Ensino Fundamental, e Médio (Magistério), o Colégio Estadual Ignácio Azevedo do Amaral, escola pública de Ensino Fundamental e Médio são as instituições promotoras desse projeto sob a responsabilidade da pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Gisela E. T. de Clunie. Desse projeto pedagógico telemático participam professores das escolas promotoras, professores de escolas de Ensino Fundamental e Médio de todo o país e do exterior e professores e professorandos do 3o ano de Ensino Médio (Magistério).
O projeto objetiva manter uma lista de discussão, via Internet, entre profissionais de Educação sobre "As Novas Tecnologias da Informação na Educação"; colocar os seus participantes em "contato com os recursos de telemática ; estimula a pesquisa, a comunicação e a troca de informações, facilitar, via Internet, acesso às fontes de informação ; discutir as implicações das novas tecnologias de informação na educação ; identificar estratégias de incorporação de novas tecnologias nos processos de ensino-aprendizagem ; identificar os diferentes projetos e programas de Informática Educativa que estão sendo desenvolvidos no Brasil e como estão sendo implementados" (CLUNIE, 1996: correio eletrônico)
Algumas dificuldades têm se apresentado, tais como a falta de conhecimento de informática dos participantes, mas que têm sido solucionados com períodos de capacitação. Os resultados alcançados, segundo CLUNIE, inclui a criação da lista EDUCA-L, através do software "majordomo", onde há uma efervescência de discussões, trocas de experiências, questionamentos, sugestões com participantes de diversos estados brasileiros e de outros países "com diferentes realidades educacionais e experiências enriquecedoras. CLUNIE, ainda, indica a necessidade da participação das escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio participarem dessa e de outras experiências similares para estarem mais em contato com as novas tecnologias de informação.
Quadro 5 - Mensagem Telemática
da lista Educa-L
From ramizul@ufba.brWed Jun 12 18:47:19 1996
Date: Wed, 12 Jun 1996 17:33:15 -0300 (GRNLNDST) From: Luzimar de Sousa Luz <ramizul@ufba.br> To: educa@nc-rj.rnp.br Cc: edutel-l@vortex.ufgrs.br Subject: Questionamentos Oi pessoal da lista! Eu estive ha pouco tempo num workshop sobre tv escola
na Bahia e pelo
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Em 1995, Gisela CLUNIE, Regina Lima, ambas do Colégio Andrews e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bélgica Caballero, do Instituto Episcopal San Cristobal e Ana Glória Hernandez, da Universidade Tecnológica do Panamá, ambas do Panamá, promoveram o projeto "Meio Ambiente e Poluição Ambiental". Participaram 2 professores e 18 alunos de escolas de Ensino Fundamental e Médio e as 2 pesquisadoras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Esse projeto tinha como objetivo fazer com que os alunos, de ambientes culturais diferentes se comunicassem e trabalhassem colaborativamente com um tema de abrangência mundial como é o Meio Ambiente e Poluição Ambiental. Como objetivos específicos deveriam estabelecer relações entre grau de desenvolvimento e a degradação do meio ambiente; identificar os principais agentes poluídores; políticas nacionais de preservação do Eco Sistema, estudar casos de poluição ambiental no Brasil e no Panamá, procurar/criar soluções para esses problemas.
Algumas das dificuldades relacionadas com os problemas de comunicação CLUNIE (1996:correio eletrônico): acesso à rede, sobrecarga de tráfico das telecomunicações; calendário de atividades escolares (provas, outros projetos, feriados), muitas atividades extra-curriculares nessas escolas dificultando a atuação contínua dos alunos.
Nesses dois projetos, percebemos uma preocupação básica no primeiro em relação à não só quanto à capacitação dos professores para integrar as novas tecnologias de informação e de comunicação à pratica comunicacional educativa escolar, como também, criar um foro de debates para conscientização dos professorandos e dos professores de Ensino Fundamental e Médio. Entretanto, na descrição do segundo projeto, senti a ausência de detalhes sobre a participação, atuação mesmo de professores e alunos. Mais ainda, somente dois professores participando desse projeto, segundo os dados disponibilizados. Embora tenha já me referido a essa questão em outros projetos, voltarei a ela no capítulo 4: e a atuação dos professores nos projetos pedagógicos telemáticos?
3.2.9 Projetos pedagógicos telemáticos diversos com professores e alunos de escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio e de Educação Especial (Santa Catarina e Rio Grande do Sul/Brasil)
Dentre as respostas recebidas via correio eletrônico constam informações sobre o projeto pedagógico telemático "Hipernet - Rede para nós outros", em Florianópolis-SC (Anexo 1B). A Hipernet é formada por professores da rede municipal, a maioria dos municípios de Santa Catarina, envolve qualquer área do conhecimento e mantém intercâmbio com as escolas: Escola Técnica Federal de Santa Catarina, Escolas da Secretaria de Educação de Brusque, Escola Autonomia de Florianópolis, Escolas da Secretaria de Educação de Florianópolis, EDUGRAF (UFSC) e está em desenvolvimento com a Secretaria Municipal de Educação de Biguaçu, Secretaria Municipal de Educação de Timbó, UNEN (Escola Técnica Federal de Santa Catarina) de São José e outras.
Os resultados até agora alcançados se referem à "manter uma rede autônoma, a custos mínimos, sem patrocínio de grandes projetos, sem financiamento direto ou exclusivo do Estado. Cada NET (Núcleo de Exploração/Aprendizagem via Telemática) cuida de seu próprio funcionamento, e todos os NET's juntos garantem o funcionamento dos Fóruns Púbicos Hipernet, com acesso livre, público e gratuito de qualquer cidadão" (FERNANDO, 1996:correio eletrônico).
Embora não seja meu objetivo tratar especificamente de projetos pedagógicos telemáticos em Educação Especial, pois caberia toda uma pesquisa específica, visto a riqueza de possibilidades que se abre nessa área, não posso deixar de citar alguns no Rio Grande do Sul Telemática na Educação Especial: uma nova alternativa para portadores de necessidades especiais (Paralisia Cerebral), coordenado por Lucila Maria Cosi Santarosa e Elisabeth Bastos Duarte e Telemática na Educação Especial: uma nova alternativa para portadores de deficiência auditiva, coordenado também pela Profa. Santarosa e por Themis Silveira Lara, no programa EDUCOM, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ambos os projetos visam o uso da telemática, em especial o correio eletrônico, no processo de desenvolvimento cognitivo, sócio afetivo dos portadores de necessidades educativas especiais.
Outro projeto pedagógico telemático nessa área que se tem notícia é o da rede informática EDUNET, iniciado em 1991, através do sistema de Radio Packet (utilizando freqüências de radioamador) possibilitou a comunicação telemática sem a instalação de linhas telefônicas, ligando o LEC-UFRGS (Laboratório de Estudos Cognitivos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Porto Alegre-RS, a escolas públicas de Ensino Fundamental em Novo Hamburgo e Caxias do Sul. A Profa Dra Lea Fagundes e sua equipe desenvolverem um projeto telemático com objetivos de motivar a aprendizagem , promover a interdisciplinaridade e discutir as novas tecnologias e educação envolvendo 25 crianças de escola pública de Educação Infantil (pré-escola) e 30 de escola particular de Educação Infantil (pré-escola) e contando com a participação de coordenadores e professores. Os professores e alunos se comunicaram através do serviços de correio eletrônico, conversa em tempo real (talk) e teleconferência da Internet.
Entre as maiores dificuldades segundo FAGUNDES e AXT (1993:119-133), estava a falta de familiarização com o computador. Como resultados apontou a participação ativa dos alunos , tendo como perspectiva uma participação mais efetiva dos professores.
3.2.10 Ensino de Língua Estrangeira - Projetos Pedagógicos Telemáticos em escolas de Ensino Superior : Projeto Piloto da PUC/COGEAE e Electronic Creative Writing da FFLCH/DLM/USP (São Paulo/Brasil)
No final do ano de 1995, a PUC/COGEAE desenvolveu um projeto piloto do qual participei como sujeito, para o ensino de francês pela BBS. A Profa. Beatriz Maria Fairbanks de Sá e um grupo de professores da PUC colocaram no ar esse curso para aprendizes de vários níveis que interagiram entre si e com a professora Beatriz. Acessando a PUC/COGEAE através de uma linha discada ligada a um computador e a um modem, na casa do aprendiz. Cada aprendiz recebeu um kit para possibilitar a comunicação com a BBS, um código e uma senha para o período do curso que iniciou-se em fins de outubro passado e foi até 15 de dezembro. A interação entre os participantes foi bastante significativa, desenvolvendo-se um apoio dos que tinham mais proficiência na língua, suprindo informação e correção muitas vezes antes da resposta da professora.
As dificuldades que se apresentaram se referem ao tipo de software disponibilizado para a comunicação que não era compatível com outros software de processamento de texto, por exemplo. Também, por se tratar de um experimento, verificou-se que alguns textos eram produzidos com software que os tornavam extensos, dificultando assim a transferência para a máquina do aluno, pois por serem grandes os arquivos levavam um tempo mais do que o razoável para sua transferência. Esse projeto demonstrou que técnicos de informática e professores , coordenadores pedagógicos precisam planejar projetos pedagógicos telemáticos em conjunto, pois as dificuldades técnicas podem inviabilizar toda uma preparação pedagógica e comunicacional frustrando seus participantes.
Na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo, a Profa. Mary Cecília Bacalarski, trabalhou com seus alunos do segundo ano e com três professores do curso de Inglês, do Departamento de Letras Modernas no projeto de "Electronic Creative Writing" que incluía os tópicos "Types of Writing" e "Creative Writing". Participou, também, do projeto "Cultural Collage" a que me referi na primeira parte deste capítulo. Nesse projeto, trabalhou com seus alunos de Habilidades Lingüísticas III, Escrita, também no curso de Inglês, do Departamento de Letras Modernas da USP e com vários professores.
Segundo BACALARSKI (1996, correio eletrônico), os alunos se mostraram muito motivados, não reclamavam de tarefas para casa como faziam quando tinham que escrever nas aulas de redação tradicionais. A qualidade de suas redações melhorou, pois eles gostam de escrever "para pessoas que são reais, que são falantes nativos de Inglês e gostam de ajudá-los a aprender Português (como já me referi antes, BACALARSKI era a responsável pelo projeto "A Cultural Collage", do Canadá, e os alunos canadenses e estadunidenses escreviam em Português). Entretanto, essa professora informa que enquanto os alunos se mostravam entusiasmados e com vontade de aprender, a maioria dos seus colegas, professores , era resistente e, algumas vezes, até agressivos, pois não vêm a "escrita eletrônica" como parte dos estudos acadêmicos. Outra dificuldade enfrentada refere-se ao suporte tecnológico e à qualidade dos equipamentos do Laboratório de Computação que "deixam muito a desejar".
No Estado de São Paulo, os projetos educacionais envolvendo as mídias são muitos mais isolados e solitários. Na área de projetos telemáticos na Educação, só muito recentemente, a partir dos anos 93, tenho encontrado alguma informação. As universidades têm acesso às redes eletrônicas mas a maioria de seus pesquisadores só a utilizam na área de pesquisa solitária. Como mostra a tese de FERREIRA (1995), não é exclusividade do Instituto de Física, que a utilização dos serviços da redes de eletrônicas não seja ainda tão utilizado. Descobri, participando dos congressos, seminários, encontros, na área de educação que muitos dos professores universitários da UNESP,. UNICAMP, USP desconheciam ter um código de usuário com possibilidade e permissão de acesso a BITNET e mais recentemente à Internet. Muitos alunos de pós-graduação também têm esse direito e também ignoram o fato.
Entretanto, da mesma forma, em todas essas instituições acadêmicas, encontram-se pesquisadores, professores e pós-graduandos que já utilizam as redes eletrônicas para comunicação não só pessoal, mas para ensino e pesquisa. Não me detenho em outros projetos, pois os dados que me foram disponibilizados não são suficientes para uma análise mais profunda, mas incorporam as reflexões que farei no final deste capítulo em relação aos projetos pedagógicos telemáticos estudados.
3.2.11 Projeto Pedagógico Telemático no Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da USP (FE-USP) (São Paulo/Brasil
A seguir, relato um outro projeto brasileiro do qual participo e que se encontra em andamento na Faculdade de Educação da USP. Destaco-o, neste capítulo, por referir-se à Formação Inicial de Professores, alunos em curso de Pedagogia e por conectar-se ao principal enfoque desta dissertação que são atuações de professores em redes comunicacionais. Tais atuações docentes devem ser aprendidas desde os cursos de graduação que os formam para a profissão de professores comunicadores.
A produção de comunicação sobre TV e Educação, via Internet, por alunos de Pedagogia do qual participei em 1995, mostrou alcances e limites de uma experiência iniciante. No segundo semestre de 1995, como monitora da disciplina "Educação e Meios de Comunicação ", ministrada pela Profa. Dra Maria Felisminda de Rezende e Fusari, no curso de Pedagogia, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, desenvolvi, com seus alunos dessa disciplina, um projeto de comunicação via Internet. Os alunos discutiram comunicação e a recepção da mídia TV e estavam elaborando um projeto de interferência em sala de aula através da qual integrariam essa mídia com duas outras de sua escolha. Refletiram sobre a preparação do projeto e discutiram o desenvolvimento do mesmo com alunos telespectadores freqüentando escolas de Educação Infantil, Fundamental e Médio em São Paulo. Planejaram transformar aspectos desse estudo em "bilhetes pedagógicos" que deveriam ser enviados a outros estudantes de Pedagogia. O objetivo principal do meu projeto-piloto era ajudar esses alunos a se comunicarem com outros alunos de graduação, e do Ensino Médio de Magistério, e com usuários de lista de discussão em que participassem professores do Ensino Fundamental e Médio para debater as suas idéias, sobre o tema: "TV, alunos e professores", apresentadas nos bilhetes pedagógicos e as leituras recomendadas durante aquele curso bem como as descobertas feitas em seus projetos. Outro intuito foi o de ajudar alunos de Pedagogia no aprendizado de analises, seleções e resgate de informações significativas, criteriosas, fundamentais e necessárias para sua formação e para uma vivência social equilibrada, criadora e positiva.
Participamos do projeto, além da Profa. Fusari, eu, 35 dos 83 alunos matriculados na disciplina, dos quais 14 eram alunos do curso de Pedagogia vespertino e 4 professores da rede públicaem serviço, 8 alunos do curso de Pedagogia noturno e 9 professores da rede pública em serviço.
Durante o curso em andamento, ministrado pela Profa. Maria Fusari, o
projeto pedagógico telemático iniciou-se com uma palestra
minha ilustrativa, esclarecendo conceitos, termos específicos, serviços
e ferramentas disponíveis para essa comunicação telemática
e para a pesquisa.
Tivemos que resolver problemas de ordem administrativa e técnica
para efetiva realização e continuidade do projeto, ou seja,
a prática de comunicação telemática por professorandos
na Internet. Várias foram as dificuldades que se apresentaram desde
o início do 2o semestre de 1995 para a concretização
do trabalho de comunicação telemática com os alunos
da disciplina "Educação e Meios de Comunicação
", da graduação em Pedagogia na FE-USP uma vez que, na Universidade
de São Paulo, uma vez o acesso ainda não estava disponibilizado
aos alunos de graduação e apenas os de pós-graduação
contavam com poucos locais de onde pudessem acessar os serviços
disponibilizados pela "uspnet"; além disso, na Faculdade de Educação
da USP, os laboratório de computadores para acesso dos alunos estava
recém-desativado devido às reformas que estavam sendo realizadas
no prédio. Uma vez reativado, junto a Biblioteca, já no meio
do 2o semestre, não havia acesso a "USPNET", portanto, não
poderíamos utilizá-lo para as nossas sessões. A partir
de julho, as salas dos professores foram interconectadas à "USPNET",
de modo que da sala da Profa. Dra. Maria Felisminda de Rezende e Fusari,
responsável, pela disciplina "Educação e Meios de
Comunicação", pudemos enviar algumas mensagens preparadas
pelos alunos em sala de aula sob orientação da Profa Márcia
Barbosa (também orientanda dessa professora) a outros professores
e às listas de discussão e recuperar as mensagens dos alunos
para documentação do projeto.
A Profa Maria Fusari conseguiu os códigos de usuário e as senhas para os alunos participarem do projeto até 13/12/95 e, também, uma permissão para utilização do Laboratório de Informática da FFLCH para as sessões de acesso à Internet, pois aquele laboratório era conectado à "USPNET". Duas datas foram agendadas para esse acesso; assim, somente no dia 6 de novembro/95, a Profa Fusari e eu tivemos uma sessão com os alunos do período do diurno e do noturno no laboratório da FFLCH. Por esse trabalho de comunicação prática na Internet ter ocorrido em apenas um dia do último mês letivo do ano, apenas 47% dos 75 alunos que freqüentavam o curso compareceram para essa prática telemática. A porcentagem de participação poderia ter sido maior se houvesse mais dias de acesso e mais facilidade, uma vez que todos já haviam produzido seus bilhetes pedagógicos sobre "Comunicação Televisiva, alunos e professores ". Os 35 alunos participantes puderam abrir seu correio eletrônico, receber as mensagens que já estavam ali, enviadas pelos alunos do curso secundário de Magistério da EESG Prof Architiclino Santos, do Parque Continental, da Profa Márcia Barbosa, aluna de pós-graduação em Didática da FE-USP. Outras mensagens eram aquelas veiculadas na lista EDUCA-L, uma lista de discussão para se tratar de problemas de educação, em particular ligados às aplicações tecnológicas. A Profa. Márcia Barbosa havia enviado uma mensagem colocando o questionamento de uma professora em relação a problemas de recepção televisiva por crianças. No dia 27 de outubro, alunas de Magistério secundário das escolas Col. Andrews e C. E. Ignacio Azevedo do Amaral do Rio de Janeiro e responderam as mensagens que foram lidas no dia 6/11 pelos participantes do projeto.
As preocupações e contradições da maioria das mensagens veiculadas nessa lista de discussão relacionadas com a solicitação da Profa. Márcia eram as mesmas surgidas nas discussões em sala de aula sob a coordenação da Profa. Maria Fusari, bem como às enviadas pelas alunas do curso secundário de Magistério da Profa. Márcia Barbosa. As mensagens foram enviadas especificamente para os alunos do 3o ano do curso de Pedagogia: da FE-USP, participantes deste projeto. No Anexo 4, elas estão transcritas exatamente como recebidas pelo correio eletrônico.
Essas mensagens demonstram a preocupação das alunas do curso secundário de Magistério em relação às influências da TV, à qualidade de informação e o acesso a essa informação pelas diferentes classes sociais. Percebe-se que a questão da recepção está subjacente. Essas alunas discutem em suas mensagens questões educacionais e questões sociais. Percebe-se que ainda não é muito claro o conceito que elas têm de comunicação, o que vai clarificando cada vez mais ao longo do semestre.
Mas a discussão, a reflexão não se mostrou imediata. Isso porque, depois de lerem as mensagens, os alunos de Pedagogia precisaram, primeiro, familiarizarem-se com os comandos para poder acessar a Internet, escrevendo mensagens curtas e enviando-as uns para os outros dentro do laboratório da FFLCH-USP. Encaminharam as mensagens recebidas para outros endereços eletrônicos, responderam as mensagens das alunas do secundário Magistério e aos alunos de Comunicação , enviaram-nas a outros colegas com seus comentários, aprenderam a salvar e a transferir os arquivos salvos para as máquinas que estavam usando.
O objetivo, lembro eu, era fazer com que esses futuros professores debatessem, com outros futuros professores, as inquietações que haviam sido levantadas no decorrer de seu curso com a Profa Fusari, na elaboração e aplicação de seus projetos, percebendo as possibilidades dessa nova mídia. Entretanto, percebemos que, nesse primeiro contato, havia mais um compreensível interesse inicial em dominar a máquina e o fascínio pela possibilidade de comunicação imediata era grande. Como o número de máquinas era inferior ao número de alunos , eles se agruparam em número de três diante de cada máquina e se alternavam no acesso à Internet. Assim, a qualidade reflexiva dos alunos de Pedagogia sobre "Comunicação Televisiva, Alunos e Professores" mostrou-se melhor elaborada nas apresentações e discussões em sala de aula, face-a-face, do que a distância, via Internet. Através de um trabalho contínuo com os alunos de Pedagogia, com certeza, as qualidades expressivas e reflexivas podem se aperfeiçoar tanto em mídias e mediações presenciais quanto a distância.
Um aspecto de colaboração é ressaltado em relação à comunicação via Internet. Alguns alunos auxiliavam outros menos familiarizados com o computador e faziam as correções necessárias, em tom amigável quase como numa brincadeira, não inibindo a capacidade de expressão do interlocutor.
Alguns alunos desse curso da Pedagogia experimentaram o programa "talk", que lhes permitia conversar com outro usuário em tempo real, recebendo a resposta na tela do computador. Embora todos estivessem no mesmo laboratório, usaram essa técnica como se estivessem em um local muito distante. Outros experimentaram a conexão através do Gopher, nesse primeiro contato navegando pelos menus para se familiarizar com esse programa. Outros, usando o programa "telnet", disponibilizado pelo CCE na máquina "cat", conectaram a Biblioteca do Congresso Americano e buscaram informações sobre as obras de Jorge Amado, Clarice Lispector e José Sarney..
Já no final da sessão os alunos passaram a concentrar a sua atenção no conteúdo das mensagens e a perceber que tipo de mídia estavam começando a conhecer. Eis, por exemplo, a mensagem da aluna Patrícia:
Quadro 6 - Mensagem Telemática da aluna do curso de Pedagogia da FE-USP, no dia da oficina pedagógica sobre Internet, no Laboratório de Informática da FFLCH/USP, em novembro de 1995
Prezadas colegas,
Suas preocupacoes sao extremamente plausiveis e o tema
educacao e meios
Patricia de Oliveira
|
Essa mensagem demonstra que houve uma reflexão mais profunda e que as leituras e discussões realizadas em sala de aula alcançaram seus objetivos, pelo menos em parte dos alunos.
Como alguns alunos não compareceram por diversos motivos, como citado anteriormente, ainda que fizesse parte do curso, a participação nessa experiência, voltei, então, em sala de aula, a refletir sobre o trabalho em rede e a necessidade de se assumir essa atitude também na formação de professores para a comunicação e uso das mídias.
Devido a problemas técnicos, as mensagens escritas pelos alunos da Profa Maria Cristina da Silva, do primeiro ano do Curso de Comunicações da Universidade Santa Cecília de Santos para os alunos de Pedagogia da FE-USP só puderam ser enviados no dia 16/11 e foram entregues, aos alunos de Pedagogia, impressos, pois, embora estivessem disponibilizados em seu correio eletrônico, eles não tiveram mais oportunidades de acessá-lo. No Anexo 4, estão as mensagens enviadas, onde se constatam as preocupações dos alunos de Comunicação da Universidade Santa Cecília de Santos, em relação às questões levantadas, muito semelhantes aquelas indicadas pelos alunos de Pedagogia da FE-USP:
Poucos alunos puderam voltar ao laboratório, uma vez que já era final de semestre e a entrega de trabalhos e preparação para as provas ocupavam-lhe muito do seu tempo livre. Tem que se lembrar que a maioria dos alunos do diurno e os alunos do noturno trabalham além de estudar e, portanto, o seu tempo para atividades não agendadas no currículo é escasso. A mesma situação apresentou-se em relação aos alunos para os quais as mensagens foram enviadas.
Diante das dificuldades que se apresentaram, do trabalho realizado e dos resultados conseguidos, considero o projeto, nessa sua fase de implantação, bem sucedido. Uma continuidade já está programada para o segundo semestre de 1996, levando-se em consideração todas as questões apresentadas. Outros educadores podem planejar e executar experiências semelhantes tendo como objetivo orientar os futuros professores na escolha e na aplicação otimizada das mídias que estarão sendo utilizadas na prática escolar. É indispensável que se faça um planejamento com base na realidade local e se tente antecipar dificuldades e obstáculos para procurar a sua solução de modo que o projeto possa se concretizar. Um cronograma de trabalho e uma avaliação constante e contínua são essenciais para o desenvolvimento do projeto. As mudanças de rumo são necessárias, devido às contingências, mas não comprometerão o projeto se feitas em tempo e criteriosamente.
Resumindo, a partir dos dados conseguidos e analisados até o momento, caracterizo-os conforme se segue:
a) quanto ao quando, que nível escolar, de onde com quem onde: os projetos pedagógicos telemáticos latino-americanos, estudados neste trabalho se dividem em dois grupo, um dos que foram desenvolvidos, nos últimos quatro anos, por equipes de pesquisadores ligados às Universidades: Centros de Computação ou Faculdades de Educação, mas preocupados em introduzir as novas tecnologias de informação e de comunicação, em especial, a telemática como um recurso a ser usado pelos professores de escolas de Ensino Fundamental e Médio, numa tentativa de solucionar os problemas educacionais como evasão e repetência. O do Chile, insere-se numa política mais específica de informatização, que vai desde a colocação de equipamentos nas escolas, passa pela criação de Centros de Informática Educativa e escolas pilotos e, também, se preocupa com programas de capacitação de recursos humanos; o da Colômbia, ligado à Faculdade de Ciências da Educação, tem um projeto educacional mais amplo, em que a informatização e a telemática, são componentes, inseridos numa proposta pedagógica comunicacional de capacitação e valorização do professor. Os projetos pedagógicos telemáticos são nacionais com ligações no exterior. O outro grupo, Guatemala e Peru, tem os projetos pedagógicos telemáticos como iniciativas individuais de professores dos Colégios Americanos desses países, não apresentam um programa educacional mais amplo e participam de projetos pedagógicos telemáticos já existentes na Internet internacionalmente, embora procurem desenvolver o estudo de temas locais para a comunicação internacional.
Quanto aos projetos brasileiros, tendo em consideração as categorias deste item, também, podemos separá-los em grupos distintos. Os projetos pedagógicos telemáticos que são planejados dentro de uma proposta de mudança de paradigma educacional, iniciam-se em escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio, em parceria com escolas particulares de Ensino Fundamental e Médio e, em geral, a partir de propostas desenvolvidas dentro de uma universidade, por professores e pesquisadores já comprometidos com um novo paradigma de comunicação e educação ; apoiadas por secretarias de Educação, como em Pernambuco (A Apropriação da Informática pela Escola Pública), na Bahia (Internet nas Escolas), no Rio de Janeiro (lista EDUCA-L). Esses pesquisadores começam os projetos pedagógicos telemáticos, com um número pequeno de escolas, de professores e alunos. Preocupam-se em monitorar, documentar o projeto, avaliar o processo em andamento para poder fazer as alterações necessárias e chegar a um certo modelo para formar multiplicadores para, então, ampliar a sua implantação na rede pública. A participação cada vez maior de professores inscritos em listas de discussão e usando o correio eletrônico, desde que a Internet comercial se instalou no Brasil, em dezembro de 1995, vem agilizando a operacionalidade dos projetos pedagógicos telemáticos nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. Essas mesmas facilidades não foram encontradas pelos pesquisadores ligados à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no período de 1991 a 1994, mas a sua experiência tem servido de orientação para os novos bandeirantes das infovias eletrônicas brasileiras.
Outro grupo de projetos descritos inscreve-se na característica de atividades extracurriculares, a partir de iniciativas individuais de professores bem intencionados e pioneiros, como no caso de escolas no Ceará, e de muitos outros estados, inicitativas que temos notícias em comunicações nos Congressos, Encontros de Informática Educativa ou nas listas de discussão, mas dos quais não tivemos os dados disponibilizados para uma análise mais profunda. Essas iniciativas acabam ficando restritas às práticas individuais de professores nas escolas e não têm força para mudar a prática coletiva.
Creio que poderia, ainda, ter um terceiro grupo, no qual eu incluiria os projetos de Francês, da PUC-SP e de Inglês da USP-SP, em que as professoras incorporaram a telemática na sua prática educativa, atuaram conjuntamente com os alunos na construção de seus saberes, de alunos e professores , uma vez que ambas, também, aprenderam durante esse processo comunicacional, novos conteúdos e novas estratégias. Entretanto, essa prática não fez parte de uma política educacional maior das instituições como um todo. Embora, tenham um peso significativo: o de terem sido bem sucedidas e poderem servir de exemplos para pressão junto aos que tomam decisões nessas mesmas instituições.
O projeto pedagógico telemático com alunas do curso de Pedagogia, na FE-USP, talvez se insira no primeiro grupo, pois embora não haja um programa formal de formação inicial de professores em novas tecnologias aplicadas à Educação, existem já, algumas disciplinas e um grupo de professores preocupados em desenvolver nessas disciplinas essa capacitação para seus alunos. Bem como, a administração atual da faculdade tem se preocupado em viabilizar o acesso a essas tecnologias por parte dos professores e dos alunos de pós-graduação.
b) quanto ao sobre o que, para quê, e por quê:. Nos projetos pedagógicos telemáticos do Chile e da Colômbia, percebe-se uma preocupação em capacitar professores para que eles usem a telemática como mídia para a sua prática comunicacional com seus alunos , com seus pares e para seu auto-desenvolvimento. Ambos projetos pedagógicos telemáticos desenvolvem temas locais como que para reafirmar a personalidade da cultura latino-americana. Por exemplo, no software La Plaza, essa metáfora foi escolhida por ser um local típico das cidades latino-americanas e, através deles a preservação de instituições, como o museu, o centro cultural, os quiosques (bancas de jornais e revistas), por exemplo. Nesses ambientes tradicionais, os professores e alunos são levados a conhecer a sua história e a do mundo, através do correio, se comunicam, expressam a sua característica latino-americana para o resto do mundo. A meu ver, esses projetos.pedagógicos telemáticos têm essa característica porque fazem parte de um programa educacional mais geral.
Nessa mesma categoria, incluem-se os projetos pedagógicos telemáticos brasileiros desenvolvidos pelos pesquisadores das universidades e secretarias de Educação citados no item anterior. Um projeto como o "De Olinda a Olanda", por exemplo, insere-se na prática pedagógica de toda a escola e por todo o período letivo, com objetivos muito claros de construção coletiva do conhecimento que lhe tem pertinência, que desenvolve habilidades e talentos específicos de cada estilo de aprendizagem. Não utiliza só a telemática, mas faz uma verdadeira rede de mídias , fazendo com que o aluno perceba que a comunicação escolar não está descolada da comunicação social. Os projetos telemáticos da Bahia e de Pernambuco que trabalham a capacitação do professor na utilização das novas tecnologias de comunicação na educação, também estão preparando os professores para que durante essa formação, eles se apropriem dessas tecnologias e descubram como, quando e para quê usar cada uma, ou várias integradas na sua prática de ensino e aprendizagem.
Já na Guatemala e no Peru, como nos exemplos temporários e pontuais pelo Brasil, os projetos pedagógicos telemáticos parecem ser atividades extra-curriculares organizadas por professores criativos da área de língua ou de informática, ou por pesquisadores universitários que pesquisam as atuações de alunos e não se atentam, nessas pesquisas, para as atuações de professores. Geralmente esses projetos locais se ligam aos projetos pedagógicos telemáticos organizados por entidades transnacionais como o KidLink, Kidsnet e outros, cujos temas são mais gerais, como "rainforests", ou "culinária", etc, e, em geral, ligados às ciências naturais e exatas (Biologia, Física, Química). Esses projetos pedagógicos são esporádicos, não sistematizados e não se incorporam às práticas comunicacionais educativas nem da escola nem dos professores como um todo.
Levando-se em consideração as categorias deste item, o projeto pedagógico telemático com os alunos de Pedagogia da FE-USP preocupou-se em desenvolver a apropriação de conhecimentos de informática básicos e de telemática com os conteúdos desenvolvidos na disciplina em que o projeto se desenvolveu e a partir da reflexão do trabalho desses conteúdos com as outras mídias utilizadas no decorrer do curso, para que as alunos, futuros professores , vivenciassem como alunos o uso dessas tecnologias e refletissem sobre sua aprendizagem para poder determinar que uso fariam dela em suas práticas educacionais em sala de aula, para sua formação contínua e para comunicação com seus pares
c) quanto aos materiais, linguagens/textos informáticos:
Nos projetos pedagógicos telemáticos no Chile e na Colômbia parece haver uma preocupação sistematizada dentro dos programas de utilização das novas tecnologias de informação e comunicação em relação a escolha e disponibilização dos materiais, das linguagens e dos textos informáticos para professores e alunos. Percebi, nos dois projetos que há uma preocupação em familiarizar o professor com esses materiais antes que ele os utilize com os seus alunos. Entretanto pelos dados disponibilizados, não posso afirmar que isso esteja realmente acontecendo em escala maior, ou se se restringe apenas às escolas-piloto. Tentei consultar as "home-pages" de ambos os projetos na WWW e não estão atualizados ( a do Chile, o relatório data de março de 1995; a da Colômbia está em construção).
Ema relação a materiais, linguagens e textos informáticos, as mesmas observações dos itens anteriores são válidas. Os projetos pedagógicos telemáticos processuais preocupam-se em pesquisar, indicar bibliografias, bancos de dados, sítios na WWW, além de apresentações em Encontros, Seminários e Congressos que estabelecem aquele trabalho de rede, a que me referi no capítulo 2, de modo que os professores e pesquisadores que já estão mais experientes com essas novas tecnologias de comunicação compartilham com os novatos os seus saberes. Esse é um dos pontos altos da lista brasileira EDUCA, que me referi no item 3.2.8, deste capítulo.
Quer nos projetos pedagógicos telemáticos do Peru e Guatemala, quer nos projetos pedagógicos telemáticos brasileiros temporários os dados disponibilizados não me permitem fazer essa análise. O que se pode inferir é que, em nome do construtivismo, algumas experiência esporádicas, aproveitam-se da motivação dos alunos para saírem da rotina escolar e da sua curiosidade para trabalharem projetos pedagógicos telemáticos que respondam aos objetivos de pesquisas pontuais, de experiências mercadológicas de grandes empresas de computadores ou fabricantes de software, mas que, não alteram os materiais, linguagens ou textos comunicacionais da escola.
Nesta categoria, o projeto pedagógico telemático com os alunos de Pedagogia da FE-USP, procurou trabalhar com materiais informacionais que lhes eram disponibilizados na Universidade e orientando-os, para as possibilidades do mercado, caso pudessem tê-los em suas casas. As linguagens usadas, por esta pesquisadora e pela sua orientadora, puderam corresponder às convicções de ambas na integração de mídias , cada qual cumprindo a sua função, quer na comunicação escolar com aluno e/ou com seus pares, quer na sua formação contínua.
d) quanto aos professores atuantes, alunos atuantes, modos educativos e comunicacionais de atuação: As informações sobre os projetos pedagógicos telemáticos do Chile e da Colômbia disponibilizados não só nos questionários, nas redes, em relatórios, mas também em conversas pessoais com pesquisadores desses dois países indicam que os professores atuam já no planejamento de projetos pedagógicos telemáticos mais específicos, as trocas de informações com seus pares mais quanto a operacionalidade do que em relação aos conteúdo. O que pode ser natural, num momento de familiarização com um processo comunicacional novo. Os alunos parecem ser atuantes, nas pesquisas, nas sínteses e nos envios de relatos pela rede, quer dizer na prática comunicacional interativa com seus colegas de todo o mundo. Pretende-se uma construção conjunta do conhecimento por parte do aluno e do professor.
Nos projetos pedagógicos telemáticos estudados neste trabalho e desenvolvidos na Bahia, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e em São Paulo, a atuações dos professores é o objetivo maior, decorrente dela a atuação do aluno e, se possível, da comunidade. Não se entenda com essa afirmação que se está voltando ao professor, senhor do saber. Essa atuação do professor é uma nova atuação, dentro dos paradigmas educacionais comunicacionais de construção conjunta do saber. Para ser o orientador, para propiciar opções aos alunos , o professor tem que ter competência e proficiência na sua área de saber, na utilização das tecnologias de comunicação disponibilizadas ou em vias de sê-lo, para poder ter uma atuação efetiva junto ao aluno. Inferi, dos meus estudos, que essa é uma prática inicial nesses projetos pedagógicos telemáticos a que me tenho me referido, neste item até aqui.
Por outro lado, a partir sempre do estudo feito, a impressão que tenho é que na Guatemala e no Chile e nos casos pontuais já citados do Brasil, os professores que acompanham alguns chamados projetos pedagógicos telemáticos são passivos, alguns são coletores de mensagens, outros observadores. Os alunos trocam mensagens como a tradicional prática de "pen-pal", agora conhecida como "key-pal", já que eles substituíram a caneta pela tecla do computador, ou realizam as tarefas indicadas apelos coordenadores das instituições que promovem esses projetos sem transferir o conhecimento para o currículo estudado na escola.
No projeto pedagógico telemático com os alunos de Pedagogia da FE-USP, a minha atuação e a da Profa. Maria Fusari caracterizam-se por fornecer aos alunos os elementos essenciais para que eles pudessem chegar a uma posição própria diante das interrelacões da mídia TV com outras mídias escolhidas por eles através de suas próprias atuações enquanto professores nos projetos realizados com a professora Maria Fusari, e à experimentação do correio eletrônico, na Internet como alunos, aprendendo a conhecer essa tecnologia utilizando-se daquele conteúdo no projeto pedagógico telemático, realizado sob minha coordenação; as suas atuações passaram de fascínio e descoberta, para reflexão e utilização da mídia para uma comunicação educativa com seus pares, reconstruindo suas mensagens a partir das mensagens recebidas dos alunos de Comunicação de Santos.
Os relatos e as análises que explicito a seguir, incluem-se, evidentemente, no conjunto de projetos pedagógicos telemáticos em desenvolvimento na América Latina /Brasil. Destaco-os no item 3.3 pelo fato de eu os acompanhar mais de perto em seus desvelamentos.
3.3 Projetos Pedagógicos Telemáticos do Núcleo de Pesquisas de Novas Tecnologias de Comunicação Aplicadas à Educação da USP - A Escola do Futuro - : acompanhando atuações comunicacionais em andamento
Em 1988, um grupo de pesquisadores coordenados pelo prof. Dr. Fredric Michael Litto deu origem ao laboratório onde se investigam as novas tecnologioas de comunicação aplicadas à educação e onde se originou o Projeto Escola do Futuro. Este projeto recebeu uma dotação do Projeto BID/USP ((Banco Interamericano de Desenvolvimento) e, tanto enviou pesquisadores brasileiros para centros de Excelência no exterior (Universidade de Michigan, Massachusets Institute of Technology, Israel, Canadá, Europa), como trouxe especialistas para ministrarem palestras, oficinas pedagógicas e cursos para os educadores e comunicadores brasileiros. Desenvolveu uma série de atividades junto à área acadêmica e às escolas de Ensino Fundamental e Médio e no ano de 1993, desvinculou-se da Escola de Comunicações e Artes e tornando-se o Núcleo de Pesquisas de Novas Tecnologias de Comunicação Aplicadas à Educação - A Escola do Futuro da USP, respondendo à Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo.
Com apoio financeiro do CNPq, especialistas, professores e estudantes de engenharia, física, biologia, matemática, psicologia, educação, comunicação pesquisam, criam, experimentam, avaliam produtos educacionais "a fim de redimensionar os valores humanos, aprofundar as habilidades de pensamento e tornar o trabalho entre mestre e aluno mais participativo e motivante".
Os grupos de estudo e trabalho desse centro de pesquisa são compostos assim: Multimídia Interativa que se dedica à produção de videodiscos e CD-Roms; Ensino de Ciências Via Telemática que será estudado neste capítulo e que desenvolve projetos na área de ciências ligando escolas via redes internacionais de computadores; BBS Escola do Futuro que oferece o serviço de uma Revista Eletrônica via Internet e telefonia; Ensino de Humanidades Via Telemática que, também, será estudado mais adiante neste capítulo e desenvolve projetos interdisciplinares em escolas via redes de computadores ; Grupo de Expressão Audiovisual que desenvolve a produção estudantil de vídeos, relacionados com seus estudos com apoio da informática ; Holografia Pedagógica e Produção de Material Didático que estuda a produção de hologramas para o ensino da ciência e da tecnologia e produção de slides e transparências; o Grupo Surveys que desenvolveu um levantamento de dados sobre o uso da informática nas escolas técnicas brasileiras; a Midiateca, Centro de Informação que trabalha com a Documentação - registro, divulgação e controle bibliográfico de material relacionado às novas estratégias pedagógicas
Tomando por base, então, as categorias de análises assumidas neste trabalho, relato, em seguida, alguns aspectos dos seguintes projetos pedagógicos telemáticos, desenvolvidos ou em desenvolvimento, por equipes de trabalho da "Escola do Futuro", USP:
3.3.1 "Rede Guri"- Projeto Pedagógico Telemático em Escolas de Ensino Fundamental (São Paulo/Brasil);
3.3.2 Ensino de Ciências via Telemática - Projetos Pedagógicos Telemáticos em Ciências da Natureza com alunos , em Escolas de Ensino Fundamental e Médio (São Paulo/Brasil);
3.3.3 Ensino de Humanidades via Telemática - Projetos Pedagógicos Telemáticos em Ciências Sócio-culturais com Professores, em Escolas de Ensino Fundamental e Médio (São Paulo/Brasil)
3.3.1
"Rede Guri"- Projeto Pedagógico Telemático em Escolas de
Ensino Fundamental (São Paulo/Brasil)
Em 1990, o professor Berlinck iniciou um projeto denominado Rede Guri como pesquisa para seu mestrado na Escola de Comunicações e Artes e desenvolveu-o no NICA, Núcleo de Informática Comunicações e Artes da ECA, com pesquisadores de A Escola do Futuro (então um projeto do Laboratório de Tecnologias da Comunicação , sob a coordenação do Prof. Dr. Fredric M. Litto, na ECA). Participaram professores e alunos do Ensino Fundamental e Médio de escolas particulares e públicas do Estado de São Paulo em comunicação com alunos de escolas da Califórnia (EUA). No Brasil, o professor Berlinck, coordenava o projeto contando com a participação do Colégio de Apliacação da FE-USP e do Colégio Santo Antonio de Lisboa, da zona leste de São Paulo; na Califórnia, a Profa. Bonnie Price da Californian Technology Project envolvia outras pessoas como Donald Beck, e Michael Oppenheimer (responsável pelas traduções) e as escolas Manual Arts High School e John Muir School for Humanities Studies, de Los Angeles, nos Estados Unidos.
Os alunos , de 11 a 14 anos, de 7a e 8a séries, estudaram em suas escolas com seus professores de Português, História e Geografia, o conceito de cultura (cultura pessoal, familiar, comunitária, padrões étnicos, responderam a questionários que orientaram-nos para escreverem as mensagens que foram trocadas via BITNET, a partir do NICA, na ECA-USP, pois o acesso às redes nessa época era ainda muito limitado e era necessário o deslocamento dos alunos até a USP.
Houve um grande interesse por parte dos alunos o que provocou a procura por parte de outras escolas, de informações para participar de uma nova versão do projeto. BERLINCK (1993) enfatizou a necessidade de professores e orientadores acompanharem os alunos nas pesquisas e da participação de órgãos públicos para que o trabalho tenha as condições materiais necessárias para se desenvolver. Dentre as dificuldade, BERLINCK (1993) assinala falta de conhecimento na utilização das redes, os problemas entre os protocolos das redes, diferença entre o semestre escolar brasileiro e o americano.
Há pouca informação sobre a real participação dos professores nesse projeto. Em 1991, cheguei a participar de uma das sessões de envio de mensagens via BITNET, no Núcleo de Informática de Comunicações e Artes, da Escola de Comunicações e Artes da USP. Pelo que observei nessa sessão, os professores apenas acompanhavam e observavam os alunos. Eram os alunos e não os professores que atuavam no computador escrevendo e enviando as mensagens.
A partir dessa primeira experiência, sob coordenação científica do prof. Dr. Fredric M. Litto e orientação do Prof. Berlinck A Escola do Futuro passou a organizar outros projetos como o "Fast Plant", com Israel e Estados Unidos.
3.3.2.1 O Projeto "Fast Plant";
3.3.2.2 Ecologia
das Águas;
3.3.2.3 Projeto Biogás;
3.3.2.4 Energia Solar;
3.3.2.5 Plantas
Carnívoras;
3.3.2.6 Projeto
Sky
Em 1993, iniciava-se o grupo Ensino de Ciências via Telemática,
sob a orientação do Prof. Uri Marchaim, professor visitante
do Migal Galilee Technological Center, Israel. Os pesquisadores, alunos
de cursos técnicos do Ensino Médio, de graduação
e de pós-graduação, desenvolvem pesquisas tanto de
conteúdo programático quanto de aplicações
de tecnologias da comunicação às suas práticas
tanto de pesquisa quanto pedagógicas. Em novembro de 1995, o grupo
de Ciências via Telemática contava com 26 pessoas, sendo um
coordenador geral, 5 pesquisadores na área de Informática,
7 na área de apoio pedagógico, 8 pesquisadores na área
de apoio científico, 5 pesquisadores como monitores regionais e
a secretária do grupo responsável por toda a parte administrativa.
Os componentes desse grupo são professores de Biologia, Física
e Química, professores e estudantes de Pedagogia, de cursos técnicos
do Ensino Médio (segundo grau).
Em 14 de outubro de 1993, iniciou-se o "Fast Plant" II, sob a coordenação do Prof. Dr. Uri Marchaim, com um período de preparação de monitores (pesquisadores da Escola do Futuro) e coordenadores e professores das escolas parceiras maior, incluindo conteúdo e parte operacional, o projeto "Ensino de Ciências via Telemática" envolveu cerca de 20 escolas de Ensino Fundamental e Médio do Brasil, escolas dos Estados Unidos e Israel. O projeto desenvolveu um trabalho experimental de Botânica e Ecologia cujos resultados eram compartilhados via BITNET e INTERNET. O objetivo principal era desenvolver uma melhor compreensão da ciência e a análise de dados científicos. Ao mesmo tempo que permitia elevar o nível de educação em ciências e de consciência ecológica, desenvolvia habilidades de manuseio do computador, bem como a coleta e a manipulação de dados. Em relação aos professores, desenvolveu-se um programa em serviço para aumentar a sua proficiência no ensino de ciências e capacitá-los a um contínuo aprender ao longo da sua atividade de magistério. Aprenderam, com orientação de pesquisadores da Escola do Futuro, envolvidos no projeto, a acessar a BITNET e INTERNET para poderem contactar especialistas e colegas em outras instituições e regiões. Foram, também, orientados a trabalharem interdisciplinarmente com Inglês, Português e Estudos Sociais ( História e Geografia). O projeto se desenvolvia com a participação de professores voluntários e com os alunos que não só recebiam material pela rede de computadores mas que também participavam ativa e colaborativamente enviando correio eletrônico, coletando dados e realizando discussões na comunidade escolar. Os interesse dos professores da Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, escola pública municipal de Ensino Fundamental e Médio do município São Caetano do Sul-SP, viabilizou a realização do projeto nessa escola, pois viram nele uma nova forma de fazer seus alunos aprenderem e balizaram seus trabalhos "convergindo todos os conhecimentos curriculares para o sucesso do projeto" . Alguns professores perceberam as possibilidades interdisciplinares da utilização da tecnologia de comunicação, utilizando, por exemplo, as redes de computadores apara acessar banco de dados e incorporar essa pesquisa junto às demais atividades realizadas com os alunos, também, com objetivo de preparar um "novo profissional" solicitado pela sociedade.
3.3.2.2 Ecologia das ÁguasEm 19 de agosto de 1993, 30 professores e 58 alunos de 15 escolas de Ensino Fundamental e Médio, da Grande São Paulo-SP, conveniadas com o Ensino de Ciências via Telemática participaram de um "Dia Ecológico". Foi uma expedição à região da Represa Guarapiranga, onde os alunos, orientados pelos professores, coletaram água de diversa lagoinhas, riachos que desaguavam na represa, conversaram com os moradores da região, analisaram as amostras com um "kit" apropriado, chegaram a alguns resultados e à conclusões sobre poluição ambiental. Essa expedição rendeu muita discussão entre alunos e professores nos dias seguintes via Internet. Esse dia fez parte do projeto "Ecologia das Águas", do Ensino de Humanidades via Telemática, da Escola do Futuro-USP, que se propôs a fazer o monitoramento de parâmetros ecológicos de corpos d'água, estudando-se o nível de oxigênio dissolvido na água, teor de nitratos e fosfatos, favorecida pelo projeto de despoluição planejada pelas autoridades estatais. Na Escola Municipal Profa. Alcina Dantas, de São Caetano do Sul-SP, 14 professores e 45 alunos do Ensino Médio, coletaram amostras d'água no Ribeirão dos Meninos, naquela cidade, rio muito poluído, que segundo os professores, é uma "verdadeira escola em céu aberto, onde alunos e professores descobrem e se entristecem com as riquezas e a destruição do meio ambiente". O roteiro de pressupostos básicos, organizado pelos professores e que orientou os trabalhos desenvolvidos em 1994 consta de: construção do conhecimento a partir da realidade de professores e alunos; desenvolvimento de conceitos interdisciplinares; abertura de fóruns de discussão com alunos e professores, administração da escola e pais; palestras com educadores e profissionais da área; e orientação para o aluno aprender a aprender.
De acordo com BRUMBAUGH, MARCHAIM e LITTO (1994:44), os diretores das escolas eram peças fundamentais para o desenvolvimento desses projetos nas instituições de ensino, uma vez que eles decidiam sobre a disponibilidade de professores para participarem do projeto bem como sobre a maneira como o computador seria usado na escola. Dependendo da localização da rede de computadores, o diretor indicava "importância e o impacto do projeto na escola. Embora muitas tenham sido as dificuldades técnicas de acesso à BITNET/INTERNET e a integração dos professores de ciências com os de informática, constatou-se que as escolas que não desenvolveram o trabalho de interconexão pela rede, não conseguiram manter o interesse dos alunos ao longo de projeto.
Em 1994, O ensino de Ciências via Telemática apresentou um projeto para desenvolver um trabalho com os Cursos Técnicos do EnsinoMédio ( Segundo Grau) em que pretendia estudar a possibilidade de utilizar os recursos computacionais, inclusive a Telemática, nos cursos técnicos, tomando por base a Escola Técnica Federal de São Paulo. A proposta apresentada pelo coordenador Científico da Escola do Futuro, Prof. Dr. Fredric M. LITTO (1994) com base nos projetos sugeridos pelos pesquisadores do Ensino de Ciências via Telemática sob a consultoria do Prof. Uri Marchaim, e do Prof. Dr. Nélio Bizzo, da FE-USP, incluindo três áreas principais que seriam a avaliação, explorando o conhecimento do aluno, a simulação, promovendo o desenvolvimento do conhecimento do aluno e a modelagem, que seria a orientação da construção do conhecimento do aluno. Dessa forma os trabalhos têm como objetivos: a realização de projetos "nas disciplinas científicas que possam gerar dados intercambiáveis via redes de computadores" (1994:32); o estímulo aos professores e alunos para utilizarem a Internet ; interligar as escolas técnicas pela Internet e conectá-las a outras escolas bem como aos centros de pesquisa no exterior.
Os conteúdos desenvolvidos se referem às disciplinas de Física, Biologia e Química sob a orientação dos professores das escolas e dos pesquisadores da Escola do Futuro da USP. Esse projeto, junto aos de outros grupos, conseguiu bolsas de estudos de Iniciação Científica, que permitiram introduzir alunos dos cursos técnicos do Ensino Médio e alunos de Graduação, na prática da pesquisa científica; as bolsas de Mestrado permitiram o envolvimento de alunos de pós-graduação tanto na pesquisa quanto no desenvolvimento dos projetos; a bolsa de professor visitante garantiu a vinda de especialista do exterior com a sua contribuição para trocar com a experiência e a pesquisa desenvolvidas pelos pesquisadores da Escola do Futuro da USP.
Foram realizados cursos de verão para a preparação dos professores e pesquisadores tanto nos aspectos técnico-operacionais quanto nos pedagógico-didáticos; o curso de verão de 1994, sob a coordenação da Profa. Sulamita Ponzo de Menezes, consultoria do Prof. Uri Marchaim, e realizado com a orientação do biólogo Prof. Paulo Eduardo Souza Pereira, preparou-os para o desenvolvimento do "Fast Plant".
A partir de agosto de 1994, a coordenação passou a ser exercida pelo prof. Dr. Nélio Bizzo, da FE-USP. Um terceiro projeto, "A Produção de Biogás", desenvolve a pesquisa do poder energético de resíduos orgânicos, possibilitando a integração de diversas disciplinas como a Física, a Biologia e a Química, além de poder desenvolver paralelos com os chamados Estudos Sociais, História e Geografia.
O curso de verão de 1995 versou sobre Informática e Estatística, coordenado pelo Prof. Dr. Nélio Marcos Bizzo e com a participação de toda a equipe do Ensino de Ciências via Telemática, tinha o objetivo de preparar o participante para aplicar as noções básicas de estatística utilizando as planilhas eletrônicas, editores de texto e as redes de computadores. O curso utilizou exemplos de relatórios, tabelas parciais reais que apresentavam problemas e erros.
Em novembro de 1995, o Grupo de Ciências via Telemática trabalhava com 31 escolas públicas e privadas, 84% no Brasil e 16% no exterior, desenvolvendo, além dos anteriores, outros projetos: Biogás, Energia Solar, o Plantas Carnívoras e o Projeto Sky.
Houve uma mudança fundamental no Grupo, que foi a criação do apoio pedagógico, responsável pela pesquisa e acompanhamento pedagógico dos projetos nas escolas, já que a utilização da informática e da telemática impõem novas atitudes e nova postura dos professores. Houve também a criação de quiosques de atendimento e treinamento nas regiões distantes da Escola do Futuro da USP, de modo a terem autonomia, sendo o primeiro criado no Estado do Paraná, junto a Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus. Nos seminários, o pesquisador Carlos Alberto Ortega de Carvalho trabalha com a metodologia de avaliação dos projetos pedagógicos telemáticos e faz com que os professores apresentem suas experiências e discutam com os colegas de outras escolas. Durante a implantação e o desenvolvimento dos projetos a equipe de apoio pedagógico propõe-se a identificar quais as contribuições os projetos trazem para os alunos , para a construção da prática pedagógica e para a escola ; são aplicados questionários, analisados os relatórios dos projetos elaborados pelos alunos e feitas observações dirigidas em sala de aula.
O "Projeto Biogás" é coordenado pela pesquisadora Ana Cristina de Palma Camargo, do Ensino de Ciências Via Telemática da Escola do Futuro USP. Esse projeto é realizado em parceria com o GEPEQ, CESP (Centrais Elétricas de São Paulo) e Zoológico e tem a participação de escola públicas e particulares. Este projeto vem sendo desenvolvido desde 1994. No segundo semestre de 1994, 12 escolas públicas e particulares, de Ensino Fundamental participavam do projeto, entre elas a E. M. Profa Alcina Dantas Feijão de São Caetano do Sul-SP, escola pública de Ensino Fundamental, com 15 alunos e dois professores da oitava série.
No primeiro semestre de 1996, participam 11 escolas com aproximadamente 350 alunos de Ensino Fundamental e Médio (primeiro e segundo graus) em escolas de São Paulo, São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo e Curitiba, no estado do Paraná. Conta com a participação de professores de Biologia, Química. Física e Matemática.
O projeto tem como objetivo estudar os parâmetros experimentais que influenciam a produção de uma mistura de gases, Biogás, que se compõe de metano e gás carbônico, "através da digestão anaeróbica de resíduos orgânicos diversos.
Os biodigestores são montados com sucata (garrafas plásticas, rolhas furadas com tubos acoplados, mangueira de borracha). Como essa montagem é simples e barata, tanto escolas particulares quanto públicas as podem participar.
A participação dos professores , neste trabalho pedagógico telemático, compreende a orientação dos alunos para desenvolverem um projeto autônomo, estimulando-os a procurar o conhecimento através da experimentação científica, criando no aluno uma visão crítica de análise de dados e desenvolvendo na escola o hábito "de acesso à Internet (para trocas de dados, dúvidas e experiências)" (PALMA:1996).
Os alunos trabalham com um biodigestor miniatura que tem um funcionamento idêntico ao biodigestor real. Acompanham a biodigestão com três temperaturas diferentes: com a temperatura ambiente, com a temperatura de 37 graus C, em que há a digestão mesofílica) e com a temperatura de 55 graus C (digestão termofílica). Eles têm que medir a "produção diária de gás de uma determinada biomassa, trabalhando com alimentos diferentes"; realizar análises químicas e biológicas do resíduo da biodigestão, isto é, verificar a qualidade do gás produzido, do adubo orgânico, a quantidade de material orgânico no resíduo e a presença de bactérias patogênicas. Dessa forma além de estudarem microbiologia, os alunos podem também desenvolver uma atitude crítica com conhecimento em relação à reciclagem do lixo.
Os alunos da Escola Municipal Alcina Dantas, de São Caetano do Sul-SP, continuam a pesquisar verificando outros tipos de alimentos para manterem os biodigestores ativos
Como resultados até o momento, a pesquisadora relata o envolvimento dos alunos na discussão dos temas citados, sua criatividade na construção dos biodigestores bem como de painéis demonstrativos apresentando questões significativas a respeito de Biogás. PALMA relata, ainda, que a maior dificuldade é o acesso à rede Internet por parte das escolas. A pesquisadora tem como perspectiva reavaliar as análises químicas e com base nas análises do primeiro semestre de 1996 e fazer novas proposições.
3.3.2.5 Plantas Carnívoras
O "Projeto Plantas Carnívoras" é um projeto, também
em andamento, coordenado pela pesquisadora Lilian E. B. Ladeira com a participação
de professores e alunos de escolas de Ensino Fundamental, particulares
e públicas. No segundo semestre de 1995, houve a participação
de 17 escolas com aproximadamente 250 alunos. No primeiro semestre de 1996,
o número subiu para 23 escolas públicas e particulares em
São Paulo, nos municípios de São Bernardo do Campo,
São Caetano do Sul e Osasco (SP), Rondonópolis (MT) e Curitiba
(PR).
O objetivo do "Projeto Plantas Carnívoras", segundo relato da pesquisadora, é estudar tópicos tais como crescimento, desenvolvimento, morfologia e outros atributos das plantas, adaptações ao meio ambiente, História da Ciência e Darwin, distribuição da planta pelos diversos continentes, etc. a partir de experiências com mudas de Drosera binatta e Drosera filiformes e de vasos com Drocera muscipila e outras espécies de Drocera (planta carnívora). O projeto dura, em média, dois meses e meio, tempo necessário para se acompanhar o desenvolvimento das plantas e observar as características das diferentes espécies, para se analisar os dados coletados pelos alunos e realizar reuniões de discussão com os professores e alunos.
A pesquisadora desenvolve esse projeto realizando, inicialmente, uma orientação dos professores sobre detalhes técnicos do programa, depois uma visita com professores e alunos ao Playcenter para conhecer a estufa das plantas carnívoras e assistir a palestra do Prof. Maurício Piliackas. No acompanhamento do projeto, a coordenadora utiliza diferentes mídias : um vídeo sobre plantas carnívoras, os serviços da Internet (conversas "on-line" com os alunos e correio eletrônico com alunos e professores, e lista de discussão e relatórios escritos.
O "Projeto Sky" realiza-se com alunos de 1a a 4a série do Ensino Fundamental com escolas públicas e particulares de São Paulo e de outras regiões do Brasil.3.3.2.6 Projeto Sky
Em 1995, antes de se iniciar o projeto, os professores Nélio M. V. Bizzo e Henriquez Gaston Alberto Concha, mestrando da FE-USP, coordenador do Projeto Sky, coordenaram um seminário com os professores de Ciências das escolas de Ensino Fundamental conveniadas ao Ensino de Ciência via Telemática da Escola do Futuro USP. Nesse seminário foram abordadas questões referentes à metodologia e aplicações didáticas do projeto (montagem, medidas, tratamento dos dados e convenções para o envio de dados); ao conhecimento teórico relacionado com a Geografia e a Física.. Foi fornecido aos professores uma apostila e um software sobre o assunto. Planejou-se, também, o cronograma para o projeto que deveria começar em agosto e terminar em dezembro para se ter todo o período da primavera (no Hemisfério Sul/outono no Hemisfério Norte). Ficou, ainda, planejado com os professores uma visita ao Planetário de São Paulo.
Os alunos são orientados para observar o céu e coletar dados que trocam com alunos de escolas de ensino fundamental do Hemisfério Norte. As informações referentes à variação das estações do ano nos dois hemisférios serão disponibilizadas todos os dias e as crianças poderão acompanhá-las pela rede de computadores. As crianças têm, no computador, um protocolo de coleta de dados, de fácil preenchimento, que permite as séries iniciais do Ensino Fundamental trocar suas informações, pela rede de computadores.
Os pesquisadores iniciam seu projeto com uma orientação dos professores em cursos de formação e constataram que o conhecimento em ciências de muito professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, era bastante precário, verificando-se conceituações científicas erradas, sendo pois fundamental essa preparação teórica para o sucesso do projeto.
Em todos esses projetos os pesquisadores concluíram que o apoio pedagógico se faz necessário não apenas no início do projeto, mais ao longo de todo o trabalho. O grupo pesquisa e avalia a necessidade de modificações, adaptações tanto nos métodos (procedimentos, atividades) de ensino e aprendizagem quanto no material didático, que provou ter de ser adequado tanto em relação à linguagem quanto à profundidade nos diferentes níveis em que foi trabalhado. Constataram ainda que para haver mudança de postura e atitudes, o acompanhamento contínuo das atuações de professores e alunos é fundamental e, mais ainda, tem de ser feito por especialistas em formação contínua de educadores (RELATÓRIO, 1995:20).
Em paralelo com a preparação pedagógica em relação ao conhecimento como especialista de conteúdo, faz-se necessária uma orientação para a utilização da Informática e da Telemática nos Projetos. Essa orientação inclui a formação e o suporte ao professor e ao aluno na utilização da Internet como meio de comunicação. O grupo de apoio também pesquisa e disponibiliza novas ferramentas para melhorar a comunicação entre as escolas. Há também a pesquisa e a organização de bancos de dados para serem acessados via rede.
Os usuários utilizam-se do correio eletrônico, através do programa Pine , para que as escolas possam trabalhar com arquivos de textos e arquivos binários. Outros serviços usados pelos professores , alunos e pesquisadores do Ensino de Ciências via Telemática é a conversa pelo computador (Talk), a teleconferência, a pesquisa em WWW, Gopher.
O Grupo Ensino de Ciências via Telemática, da "Escola do Futuro" - USP, possui também uma conta "Cópias" onde ficam arquivadas todas as mensagens que foram trocadas entre os seus participantes para servirem de material para a criação de um banco de dados e para uso estatístico.
Além dos encontros preparatórios e de treinamento, a comunicação via Internet, os pesquisadores realizaram visitas às escolas para acompanhar os experimentos de perto, esclarecer dúvidas com professores e coordenadores e orientar a continuidade do projeto. Reuniões para o fechamento de projetos foram também realizadas, ora envolvendo apenas cada escola , ora agrupando escolas. Para 1996, optou-se por reunião de várias escolas para aumentar o ganho de aprendizado e troca de experiências.
Os pesquisadores do Ensino de Ciências via Telemática apresentaram como problemas mais freqüentes referentes acesso por linha discada por excesso de ruído na linha, por lentidão na transmissão, por número de linhas insuficiente, por obsolescência da central telefônica.
Quanto aos problemas com os usuários, professores e alunos o principal é a falta de conhecimento de informática e de Internet.
O que se constata a partir do acompanhamento destes três anos de trabalho do Grupo Ensino de Ciências via Telemática, é que ele prima por um enfoque muito mais científico no rigor da palavra, no sentido em que as atitudes da pesquisa científica são acompanhadas, orientadas, desenvolvidas. Quanto aos paradigmas educacionais e comunicacionais dos seus projetos, percebe-se uma preocupação, principalmente em relação ao início do projeto, nos períodos de preparação e formação, mas sempre mais correlacionados com os experimentos em questão e nem tanto com os processos comunicacionais educacionais como um todo. A resistência e enfrentamento de dificuldades comunicacionais interpessoais nessa situação é menos comum, já que os pesquisadores fornecem os elementos necessários para o desenvolvimento do projeto, não requerendo a busca, gerenciamento, análise dessas informações como responsabilidade do professor.
Por outro lado, consta-se também que os resultados dos projetos desse tipo, experimentais, são mais mensuráveis, concretos, visíveis e podem imediatamente ser transformados pelas escolas em "elementos de publicidade mercadológica" e podem oferecer resultados financeiros imediatos a essas instituições. O mesmo não acontece com a tanta facilidade e rapidez, quando se trata de projetos que visam modificar a filosofia e conceituação pedagógica , a didática, a visão do mundo, da comunicação e da educação dos professores. Os projetos que se voltam para esse tipo de modificação, que só ocorre a Médio e longo prazos com concretizações mais lentas, são na "Escola do Futuro" da USP os desenvolvidos pelo grupo denominado Ensino de Humanidades via Telemática, que são apresentados nesta seqüência.
3.3.3 Ensino de Humanidades via Telemática - Projetos Pedagógicos Telemáticos em Ciências Sócio-Culturais com Professores, em Escolas de Ensino Fundamental e Médio (São Paulo/Brasil)
Em 1991, na "Escola do Futuro" da USP, onde eu participava como pesquisadora colaboradora, reencontrei, o professor Richard Boyum, adido cultural e English Teaching Officer da USIS, United States Information Service, no Brasil, sediado no Consulado Americano, que eu contactara sobre uso das redes de computadores no ensino de Inglês, na Conferência Laurels (para coordenadores e diretores de escolas de Inglês) no Rio de Janeiro, e iniciamos a coordenação conjunta do GETEL (Grupo de Estudos de Teleinformática e Ensino de Línguas). O objetivo do GETEL era interligar professores de línguas (Português e línguas estrangeiras) através das rodovias eletrônicas, para que pudessem ter uma formação contínua, troca de experiências, esclarecimento de dúvidas e desenvolver projetos com seus alunos alcançando seus pares em todo o mundo.
Constatei a necessidade de se desenvolver um trabalho de base, de sensibilização, junto aos professores , antes de colocá-los em projetos telemáticos, pois, a sua maioria absoluta ainda não tinha contato com o computador, não estavam acostumados a trabalhar em rede e só conheciam o novo paradigma educacional teoricamente. Era preciso enredá-los com seus colegas de outras disciplinas nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. Outros grupos, em outras regiões do Estado e do país, também, estão caminhando essa mesma trilha: integração dos professores na escola em que ensinam em projetos multidisciplinares.
Minha experiência como professora de História, Educação, Moral e Cívica, Português, Inglês e Francês, punha-me a vontade para estender a experiência a outros professores. Com outros pesquisadores educadores da Escola do Futuro, da Faculdade de Educação, do Departamento de Letras Modernas da FFLCH da USP e da UNICAMP, iniciei reuniões de estudo com professores de várias áreas das chamadas Ciências Humanas; uma vez que já existia um grupo Ensino de Ciências via Telemática, decidi com o aval do coordenador Científico da Escola do Futuro USP, iniciar o Ensino de Humanidades via Telemática. O objetivo básico desse grupo é o da formação contínua de professores na utilização das tecnologias de comunicação aplicadas à educação, em particular, a telemática.
Muitos professores , de diversas disciplinas, estavam apáticos, conformados e desiludidos, limitando-se a falar e a escrever no quadro de giz. Dispus-me a ajudá-los a "abrir os armários" e utilizar as tecnologias de comunicação que lhes facilitam o trabalho educativo e seduzir os alunos a participarem ativamente na construção de sua aprendizagem. Meus colegas e eu passamos a trabalhar com os professores como se eles fossem alunos, e ainda hoje mantemos esta prática nas oficinas pedagógicas. Possibilitamos-lhes oportunidades para colocarem as mãos nos equipamentos, nos programas; experienciarem e sentirem a descoberta. O que percebemos, atualmente, é que se transformaram em um grupo fascinado e curioso, descobrindo o novo e redescobrindo o papel, o lápis, o gravador, o vídeo e o retroprojetor.
Outro obstáculo enfrentado para o uso efetivo de redes de computadores por professores não só de Línguas, mas de várias outras disciplinas, nas escolas é que, em geral, não há uma rede de comunicações interna, regional ou nacional, quanto mais internacional.
Iniciamos, então a preparação de projetos que pudessem envolver os professores e seus alunos , utilizando um acesso que seria aberto para a escola junto à "USPNET" enquanto o projeto durasse. Isso porque as redes de comunicação são otimizadas pelo uso das rodovias eletrônicas, entretanto, se não houver a prática real de compartilhar, a integração e a interação da de professores e alunos e a disposição geral de troca, essas rodovias estarão congestionadas com mensagens vazias e inoportunas. Cabe aos professores em todos os níveis a difusão dessa prática comunicativa, construtiva e colaborativa entre seus pares e seus alunos.
Em cada uma dessas escolas, houve uma oficina pedagógica inicial com professores de todas as disciplinas. Na escola de São José dos Campos, na Escola de Atibaia, na escola de São Bernardo do Campo, todos os professores de ensino infantil (pré-escola) e de Ensino Fundamental (1a a 8a séries) participaram das atividades desenvolvendo tarefas individualmente, em grupo por área ou em grupo com colegas de outras áreas.
O Grupo Ensino de Humanidades via Telemática da Escola do Futuro - USP tem desenvolvido desde 1994, os projetos telemáticos pedagógicos, que passo a descrever a seguir:
3.3.3.2 Brasil/Portugal (Des)encontros de Culturas;Este projeto contou com a participação de duas escolas de Ensino Fundamental e Médio, uma pública outra particular em 1994. Outras escolas se incorporaram em uma nova fase, com outra característica em 1995, mas não aconteceu em 1996, pois o projeto que gerenciava essa comunicação telemática não teve continuidade em Portugal e algumas escolas passaram a participar de outros projetos isoladamente.
3.3.3.3 Educando para a Cidadania
33..3.4 Leituras do mundo contemporâneo
3.3.3.5 Redes de Valores Humanos;
3.3.3.6"Time Capsule",
3.3.3.7 "Is There a Hemispheric Youth Culure".3.3.3.2 Brasil/Portugal (Des)encontros de Culturas
Os professores de História, Português e Geografia do Colégio Santa Cecília, em Santos e da EEPSG "Armando Araujo", no bairro da Moóca, em São Paulo, e duas escolas em Portugal, o Colégio Marquês de Pombal, em Lisboa, e o Colégio Antonio Costa, em Almada, negociaram alguns temas, que fossem comuns aos dois países, para serem estudados durante aquele ano. Decidiram-se por vários temas, mas na verdade trabalharam apenas o seguintes: Independência do Brasil; D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal. Trocaram algumas mensagens sobre as "Lendas brasileiras" e sobre "O modo de vida do jovens brasileiros e Portugueses".
As etapas do projeto compreenderam a negociação dos temas, a coleta e a análise de dados, a troca de dados via telemática, e correio regular, a avaliação e o acompanhamento contínuos além de elaboração de produtos a serem trocados no final do projeto.
Os alunos de 6a série do Ensino Fundamental e 1a série do Ensino Médio, de Santos e os alunos de 8a série de São Paulo definiram com seus professores os temas a serem trabalhados e iniciaram a coleta de dados, orientados pelas professoras Maria Cristina da Silva Pereira, de Geografia e Claudia Coelho Hardagh Camargo, de História. Em São Paulo, o professor de História e as professoras, de Português e Inglês acompanharam os alunos (houve mudança de professores ao longo do ano).
Os alunos da 6a série do Ensino Fundamental e da primeira série do Ensino Médio, do Colégio Santa Cecília, de Santos, entrevistaram o cônsul português, descendentes de portugueses e um empresário português que moravam em Santos. Entrevistaram jovens santistas e videogravaram os lugares que eles freqüentam e as suas diversas formas de lazer. Coletaram dados em livros, revistas, enciclopédias, nas bibliotecas e nos museus; emprestaram livros de colegas; criaram histórias em quadrinhos sobre a independência do Brasil; prepararam um mapa situando a cidade de Santos em São Paulo, no Brasil e na América Latina e enviaram-no, via rede de computadores, para Portugal. Integrados que estavam os professores de História, Geografia Português e Artes, a produção de seus alunos também foi integrada. Produziram textos jornalísticos sobre porto de Santos, sua inauguração e sua importância e histórias em quadrinhos com produção artística e textual. A cada quinze dias esta pesquisadora reunia-se coma coordenadora pedagógica , e com os professores participantes para orientação das atividades, esclarecimento das dificuldades técnicas de envio de mensagens. Ao longo do trabalho, essa orientação também era dada, quando necessária, através da Internet, de fax e de conversas telefônicas. Este trabalho se desenvolveu como atividade extracurricular, com encontros com os alunos voluntários fora do período escolar, mas os professores de História e Geografia (e, em algumas atividades, o de Artes) remetiam a todos os alunos as tarefas de coleta de dados, análises e conclusões incorporando-as em sua prática na sala de aula das 6as séries do Ensino Fundamental e da 1a série do Ensino Médio dessa escola.
Os professores e alunos brasileiros receberam mensagens dos coordenadores do Projeto Minerva de Portugal. Em meados de novembro de 1994, os alunos de Portugal enviaram aos alunos brasileiros algumas perguntas em relação a visão da colonização e da independência que os alunos brasileiros haviam formado a partir de suas pesquisas e que haviam enviado nas suas produções para Portugal.
A falta de mensagens dos professores de Portugal em resposta às indagações de nossos professores deram-nos a entender que os coordenadores do projeto como os professores João Freitas Carvalho e a Profa. Rosario Oliveira estavam de fato compromissados, mas que havia pouca participação dos professores portugueses no projeto que não deveria ser comum à sua prática de sala de aula. O mesmo acontecia aqui com alguns professores. Aqueles que de fato implementaram o projeto, não deixando apenas nas mãos dos alunos , colheram muitos bons resultados.
Os alunos da 7a série do Ensino Fundamental e 2 a série do Ensino Médio (6 a e 1 a em 1994) continuaram suas correspondências com Portugal para esclarecerem as dúvidas sobre a colonização brasileira com as professoras de Geografia (Cristina) e Português. (Irene) A 6 a. série do Ensino Fundamental iniciou o projeto Educando para a Cidadania, mas não realizaram o Encontro Folclórico pois a programação curricular já estava pronta em dezembro de 1994 e não haveria possibilidade de incluir essa atividade. Os alunos fizeram pesquisas orientados pelos professores de Geografia (Cristina) e História (Marco). Tanto professores quanto alunos enviaram muitas mensagens e resultado de pesquisa para Portugal, inclusive por correio regular. Desmotivaram-se, em seguida, porém desmotivados pois as respostas vieram esporádicas e superficiais. Enviamos uma avaliação no início de 1994 e outra em junho de 1994 para Portugal, mas parece que eles estavam fazendo uma reformulação nos projetos. Em outubro de 1994, os alunos receberam cartões postais e cartas pelo correio regular, solicitando que a correspondência continuasse por essa via, uma vez que as duas escolas portuguesas do projeto estavam sem modem. Professores e alunos entusiasmaram-se e prepararam as respostas que enviaram via correio regular. Algumas mensagens dos alunos brasileiros estão reproduzidas no Anexo 5. A troca de mensagens entre professores, praticamente, não existiu. Nossos professores ficaram desanimados (em todas as escolas) pela falta de respostas dos professores portugueses às suas mensagens. Apenas a coordenadora Rosario de Oliveira enviava retorno de mensagens às escolas. Esta foi uma dificuldade que levou-me a repensar os projetos para o ano seguinte e insistir nessa pesquisa sobre a atuação dos professores.
Na Escola Estadual Armando Araujo, no bairro da Moóca, em São Paulo, em relação às trocas com Portugal, os alunos e professores desenvolveram trabalho semelhante, em ritmo muito mais lento, dentro das condições mais limitadas características atuais das escolas públicas. Esta pesquisadora não conseguiu trabalhar com os professores desta escola pública, o mesmo número de horas que trabalhou com os professores da escola particular, pois, as 12 horas previstas tinham que constar no planejamento do ano de 1994, no final de 1993, quando ainda não conheciam este projeto. A reunião quinzenal com os professores, também, não aconteceu, pois não havia tempo disponível quer no planejamento da escola quer devido à atividades desenvolvidas pelos professores fora dessa escola. A escola também não contava com um computador, o que obrigava um de seus professores a transmitir as mensagens, preparadas por seus alunos na escola, usando o seu computador em sua casa, já que ele tinha acesso à Internet.Outras vezes as mensagens eram enviadas pelo correio pela diretora ou levadas pelo pesquisador que visitava EEPSG "Armando Araújo" à Escola do Futuro USP, onde elas eram digitadas por esse pesquisador e enviadas para Santos e Portugal. Quando as mensagens de Santos ou de Portugal chegavam, via Internet, elas eram impressas e entregues à diretora da escola que as fazia chegar até os professores e alunos. A direção da EEPSG Armando Araújo conseguiu, com a Secretaria da Educação, um microcomputador PC286 usado e com recursos da APM (Associação de Pais e Mestres) adquiriu um modem 2.400bps (velocidade bastante lenta, que na época era muito mais barato do que um modem de 9.600bps, muito mais rápido), mas não tinha assessoria técnica, que foi em algumas ocasiões dispensada pelo professor que possuía um computador, a nível de colaboração). No decorrer do projeto, houve troca dos professores responsáveis por problemas de saúde e não havia, nessa escola, uma coordenadora pedagógica que intermediasse a orientação do Ensino de Humanidades via Telemática para os professores.
Guardando as proporções em relação às dificuldades e obstáculos encontrados pela escola pública, constatou-se que os professores participantes abriram sua visão para uma nova postura comunicacional com seus alunos e construíram um conhecimento em conjunto em relação a esse projeto, não só referente a conteúdos, mas principalmente em relação à postura diante do conhecimento. Os alunos de ambas as escolas decidiram pesquisar para mudar os preconceitos encontrados sobre a sua cultura. Entretanto, a maioria dos professores manteve-se distante e não participou do projeto. No capítulo 4, voltarei a tratar dessa questão tentando apresentar algumas justificativas para esse fato e sugestões para que a situação se reverta.
Em 1995, a Escola Terra Mater, de Ensino de Educação Infantil (pré-escolar) e Fundamental, de São Bernardo do Campo e a EEPSG "Armando Araujo", escola pública estadual, de pré-escola a 3o ano de Ensino Médio, já participante do projeto telemático em 1994, receberam a proposta para participarem do projeto "Autores Portugueses e Brasileiros" e estudarem um autor português e um autor brasileiro, trocando informações literárias, culturais e históricas a partir desses autores. Os professores de Português e História da Escola Terra Mater e da EEPSG Armando Araújo e decidiram realizar, com seus alunos , uma pesquisa sobre Saci Pererê, a partir da obra de Monteiro Lobato, integrando-a ao currículo da 5a série, em que estudavam, nessas escolas, a formação do homem brasileiro. Os da alunos 5a série leram a lenda do Saci Pererê, investigaram outros autores que tinham diferentes versões do Saci, motivados e orientados pelos professores, leram, ainda, outras lendas no mesmo livro de Monteiro Lobato, tais como "Boitatá", "A mãe d’água", "Curupira, e realizaram um trabalho, não só escrito, mas ilustrado, sobre os índios, seus costumes e seu papel na formação do homem brasileiro. Como o Saci é um sincretismo religioso das culturas negra e indígena, a professora de História fez com seus alunos essa ligação. Pesquisaram, no semestre segundo, sobre o negro, a vinda para o Brasil, sua cultura e sua influência na cultura brasileira. Na EEPSG "Armando Araújo", no segundo semestre, as professoras de História e Português aproveitaram essa pesquisa para o trabalho do Encontro do Folclore do projeto Educando para a Cidadania.
Em ambas as escolas, alguns alunos enviavam algumas mensagens via Internet relatando as suas descobertas a outros alunos, mas todos pesquisaram e participaram da elaboração do material que foi enviado a escola de Portugal por correio regular. Mas esse projeto não se realizou por completo, pois as mensagens vindas de Portugal eram soltas, descoladas de um projeto principal, antes, dentro do que eles estavam estudando lá no momento sem fazer ligação com o que se propunha aqui. Os professores brasileiros reclamavam da falta de respostas e participação mais efetiva dos seus colegas portugueses. A maioria das mensagens que não eram de alunos, eram enviadas pelos coordenadores do Projeto EDUCOM e não de professores das escolas envolvidas. Os professores das escolas brasileiras perderam o estímulo e, passaram a dar prioridade a outras atividades em suas escolas.
É importante que se relate que nem todos os alunos das quintas e sextas séries trocavam mensagens telemáticas, mas todos acabavam por realizar a pesquisa já que essas professoras incorporavam o assunto à pratica de sala de aula e esses alunos pesquisaram e participaram da elaboração do material que foi enviado a escola de Portugal por correio regular.
Em ambas as escolas, os problemas com a comunicação via Internet foram freqüentes uma vez que nenhuma das duas tinha pessoal de informática dando suporte ao uso da telemática. Novamente, o trabalho de pesquisa e as atividades comunicacionais em sala de aula e no laboratório de informática foram mais produtivos e significativos na escola particular, ainda mais que nessa escola há uma coordenadora pedagógica de 5a e 6a séries a intermediar as orientações desta pesquisadora com os professores. O encontro meu ou de outros pesquisadores do Ensino de Humanidades via Telemática com os professores da Escola Terra Mater era semanal ou quinzenal e com os professores da EEPSG "Armando Araújo", semestral.
Uma observação que deve ser destacada em relação ao projeto desenvolvido em São Paulo em escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio (a que já me referi, de passagem, na página 146), é que todo o trabalho de acompanhamento da escola se fez mais diretamente com a direção da EEPSG "Armando Araújo" e com as professoras responsáveis pelo laboratório da EESG Brasílio Machado. Não havia disponibilidade de tempo na escola para encontros com os professores. Devido às limitações da autonomia do diretor da escola em relação ao desenvolvimento dos professores, esse foi um obstáculo não encontrado nas escolas particulares. O desenvolvimento do trabalho e a integração dos professores a ele foram muito mais tranqüilos nas escolas particulares, uma vez que o diretor podia convocar os professores para reunião extra, para palestra ou oficina pedagógica e, essas reuniões eram remuneradas, fator que já incentivava a participação do professor. Os moldes em que o projeto foi instalado nas escolas particulares permitia que os professores fossem responsabilizados pelo andamento do projeto. Já na rede pública, uma vez que os professores nem sempre participavam da implantação e havia no decorrer de um semestre letivo mudança de professores de disciplinas envolvidas, a responsabilidade pelo projeto na escola ficava muito diluída e confusa.
Os alunos de 6a série, do Ensino Fundamental, na Escola Terra Mater, na EEPSG Amando Araújo e os alunos de segunda série do Ensino Médio da EESG Brasílio Machado, realizaram pesquisas no primeiro semestre quanto às suas origens étnico-culturais. Através de questionários organizados pelos professores , e aplicados a seus pais e parentes, constataram que, em São Bernardo do Campo (SP), por exemplo, a maioria deles era descendente de italianos, o segundo grupo era de portugueses, o terceiro de japoneses e o restante formado por outras nacionalidades ou naturalidades fora de São Bernardo do Campo. Essa pesquisa apresenta não só a origem, mas informações sobre período, causa da saída do lugar de origem, estado civil, onde se estabeleceu ao chegar, que profissão ou ocupação passou a exercer. Coletadas as informações, os alunos analisaram essas informações com os professores e construíram gráficos e chegaram a conclusão de quais grupos eram os mais representativos. Esses dados eram discutidos pelos alunos com seus professores de acordo com a pertinência à disciplina de cada um.
Passaram, então, para a segunda fase: descobrir qual foi a contribuição de cada grupo para a cultura brasileira em termos de alimentação, jogos e brincadeiras, festas e práticas religiosas, lendas e mitos. Foram enviadas mensagens, via correio eletrônico, a outros estados e ao "Kidleaderportuguese" solicitando colaborações para o trabalho. Entretanto, durante esse período, houve problemas com o provedor que ficou fora do ar justamente nesse período.
Seguiu-se, então, para a terceira fase, o Encontro Folclórico, em cada escola. Na Escola Terra Mater, todos os professores e todos os alunos da escola, da pré-escola à 8a série, integraram-se em quatro grupos: Itália, Portugal, Japão e Brasil. Os professores discutiram entre si um roteiro e, daí, um planejamento e orientaram os alunos que trouxeram livros, mapas, alimentos e peças típicas desses países e das cinco regiões do Brasil para decorar as salas de cada grupo. Os alunos enviaram mensagens às outras escolas convidando-as a participar e explicando quais os critérios utilizados para a preparação do Encontro. Prepararam apresentações do material pesquisado para os participantes do Encontro (alunos, pais, professores e convidados) tanto em forma escrita como em forma oral.
Na Escola Terra Mater, a professora de Desenho Geométrico, trabalhou com os alunos , esse tema com o software "Cabri Geomètre", Depois, para contextualizar no Educando para cidadania, a professora promoveu um trabalho com Pipas com seus alunos de 7a. série e eles fizeram as pipas, estudaram as suas origens e apresentaram-nas no dia do Encontro do Folclore junte com uma apostila ligando essas diversas facetas das pipas. Na Figura 5, os alunos e a professora no dia do Encontro do Folclore, em São Bernardo do Campo-SP.
Os alunos do ciclo básico do Ensino Fundamental (1a à 4a série) apresentaram danças folclóricas típica bem como as alunas da sétima série que apresentaram danças típicas do Nordeste (uma delas, Pastorinhas com influência portuguesa ); um grupo de capoeira foi convidado a se apresentar. Os alunos escolheram trazer para suas salas, aparelhos toca-fitas para ter música típica como fundo musical todo o tempo da exposição como pode se sentir, observando-se o vídeo.
Parte da realização do Encontro foi gravada em videocassete pelos próprios alunos e montaram uma fita para ser copiada e enviada para as outras escolas do projeto e as de Portugal. Dessa forma os professores e alunos integravam as diversas mídias na sua apresentação: livros típicos ou informativos sobre a cultura em questão, jornais antigos, fotos antigas de imigrantes ao chegarem ao Brasil, mapas e "posters" das regiões de onde os imigrantes vieram.
Figura C - Alunos e Professora de Desenho Geométrico fazendo Pipas com software "Cabri Geomètre"
Por sua vez, a EESG Brasílio Machado já havia planejado a comemoração dos 50 anos de existência da escola e decidiu-se a incorporar o "Educando para a Cidadania" às comemorações, o que foi interessante pois não ficou sendo um projeto extracurricular, mas integrado às atividades da escola.. Foram escolhidos os alunos da 2a série do Ensino Médio (segundo grau), voluntários, que se reuniriam fora do horário de aula para enviar as mensagens e preparar a comunicação via Internet. Com questionários preparados pelos professores de Geografia, Biologia, Inglês e Educação Física realizaram a primeira parte do Educando para a Cidadania, pesquisando com seus pais as suas raízes. Sob a orientação da professora de Geografia e História a primeira preocupação foi com a localização macro e micro da Escola, fizeram mapas situando a escola no bairro, na cidade, no estado, no país e no continente; com a professora de Matemática, organizaram os dados estatísticos: gráficos de barra e "pie" com os dados referentes à chegada de seus antepassados à região; já com o professor de Biologia, dentro do programa de Genética, elaboraram um heredograma (para indicar o genótipo e fenótipo dos alunos) no computador. A professora de Português orientou-os na redação das cartas, mensagens, e o conto que enviaram aos colegas portugueses. Uma das atividades era enviar via redes de computadores a síntese dos dados coletados para as outras escolas por computador. Durante a comunicação com Portugal, houve pesquisa e troca de mensagens com professores e alunos daquele país, sobre "Tiradentes e Revolução dos Cravos" e sobre a música de Chico Buarque de Holanda, "Navegar", em paralelo ao projeto. Os alunos voluntários, orientados pelas professoras Ana Cristina Vilibor, Zenilde Foschini e Neusa Mercadante e de seus colegas de sala, prepararam material com mapas, gráficos, fotos e postais que foram entregues ao Prof. João Carlos de Freitas, de Portugal, participante do Educar 95, onde esta pesquisadoras e as professoras citadas apresentaram os resultados do referido Projeto. Dentro da comemoração dos 50 anos da EESG Brasílio Machado, o Encontro Folclórico foi incluído na Gincana Comemorativa, realizada com a participação de toda a escola nos dias 26, 27 e 28/10/95.
Muitos foram os problemas enfrentados já nessa primeira fase: a) resistência dos professores, sendo difícil o envolvimento de todos os professores mesmo dos que, inicialmente, se comprometeram; b) greve de professores no mês de abril; c)pouco equipamento e obsoleto, no laboratório: em quatro computadores, dois não funcionavam e um tinha um "drive" com problemas; d) modem de 2.400bps que não possibilitava comunicação rápida; e) falta de um técnico de informática para dar suporte necessário; f)linha telefônica de uso da secretaria, pouco tempo disponível para o projeto; g) provedor da USP em fase de manutenção esteve muito tempo fora do ar.
A Escola Livre Opção de São José dos Campos passa a integrar o grupo e escolas conveniadas com o Ensino de Humanidades em setembro de 1996 e logo após a oficina pedagógica de sensibilização dos professores às novas tecnologias de comunicação aplicadas à pratica pedagógica, a direção e os coordenadores pedagógicos decidem iniciar, ainda em 1995, um pequeno projeto pedagógico telemático com Portugal.
Os professores, de Português, História e de Informática, a coordenação e a direção se reuniram e elaboraram um planejamento com cronograma para o período de 01 a 30/11, com o objetivo de iniciar os professores na prática pedagógico-telemática.
Duas professoras, de Português e de História, e seus 24 alunos da 6a série B, do Ensino Fundamental, de 12 a 13 anos de idade, discutiriam com o alunos portugueses da Escola Secundária Anselmo Costa, questões referentes ao sistema de governo dos dois países, após se apresentarem com mensagens pessoais (tanto de professores para professores, quanto de alunos para alunos). Conforme programado, as mensagens dos professores seguiram eletronicamente pela Internet no dia 7/11 de 95 e as dos alunos no dia 09/11/95, no dia 17/11 foi enviado a primeira síntese sobre sistema de governo. O planejamento dos professores foi muito cuidadoso, preocupando-se em apresentar orientações bastante claras para os professores participantes e para a professora cuja responsabilidade era dar suporte técnico aos colegas.
A segunda versão do Educando para a Cidadania está em fase de desenvolvimento e conta com a participação das escolas particulares de Ensino Fundamental: Escola Terra Mater, em São Bernardo-SP, com 12 professores de 5a à 8a séries, três coordenadoras pedagógicas, de 1a à 4a (que desenvolve uma versão para 2a à 4a série, que denominamos Culturas Teleconectadas), de 5a e 6a séries e de 7a e 8a séries e a diretora do Ensino Fundamental de 5a. a 8a série; a Escola Livre Opção, de S. José dos Campos, com 33 professores ( 3 de pré-escola , 12 de 1a à 4a séries, 17 de 5a à 8a séries e 1 de Informática), duas coordenadoras pedagógicas e a diretora da escola; a Escola Integrada de Educação Infantil e de Ensino Fundamental CEFI, em Atibaia, com 24 professores (2 de pré-escola, 12 de 1a a 4a séries, 10 de 5a à 8a séries), uma coordenadora pedagógica, um responsável pelo laboratório de Informática e a diretora da escola.
O planejamento do projeto foi elaborado em conjunto com esses professores em reuniões presenciais. Em cada uma das escolas, chegou-se a um roteiro muito semelhante que reunimos, em consenso num só. Os professores foram orientados e conseguiram perceber que o projeto pedagógico telemático não deveria estar desvinculado do currículo escolar, ao contrário, deveria trazer esse currículo a ter pertinência para professores e alunos. Optou-se por construir em cada escola um mural onde, ao longo do ano, seriam construídos os mosaicos referentes às outras cidades, conforme as informações fossem chegando. Essas informações poderiam ser mandadas tanto via Internet, quanto por outras mídias tais como vídeo, áudio, desenhos, através do correio regular. Os professores também sugeriram que se realizassem visitas com caravanas de uma escola para outra.
Durante os meses de março a junho, alguns professores trocaram mensagens via correio eletrônico sobre as atividades que estavam desenvolvendo nas diversas disciplinas que ensinam, relatando suas experiências com seus alunos. Alguns diretores das diversas escolas também utilizaram-se do correio eletrônico para trocarem informações sobre os planejamentos e atividades programadas para 1966. A WWW, também, foi acessada em algumas disciplinas em algumas escolas do projeto. A escola de Ensino Fundamental CEFI, de Atibaia-SP, elaborou a sua página (home-page) na WWW, que foi conectada à "home-page" do Ensino de Humanidades via Telemática. No mês de abril de 1996, integraram-se a este projeto Educando para a Cidadania, alunos de 6a série de duas escolas de Ensino Fundamental estrangeiras, uma, a Willow Street School, em Truro Nova Scotia, no Canadá, sob a orientação de John Elliot, professor na Nova Scotia Teachers College, e outra, Perkins Elementary School, em San Diego-CA (EUA) com a orientação do Prof. Robert Germano. Os alunos canadenses enviaram suas apresentações em Inglês e elas foram trabalhadas nas escolas com a orientação dos professores de Inglês; os alunos da San Diego (EUA), por serem de origem hispânica, enviaram as mensagens escritas em espanhol. Os alunos brasileiros trabalharam essas mensagens e alguns responderam em Inglês (segunda língua dos alunos de San Diego (EUA)) e outros responderam em Português. Os alunos de San Diego responderam a mensagem em espanhol e incorporaram algumas palavras em Português. Segundo GERMANO (1996, correio eletrônico), os alunos de San Diego ficaram muito estimulados por entenderem as mensagens que os alunos brasileiros mandaram em Português. Essas mensagens eram uma discussão sobre cidadania e os alunos de San Diego quiseram responder sobre o problema que eles enfrentam como imigrantes, nos EUA, e falaram sobre a legislação que obriga as escolas a denunciarem as famílias dos alunos que estão ilegalmente nos Estados Unidos. Os professores das escolas participantes tiveram um assunto instigante para trabalhar com seus alunos. Esta é uma comunicação educativa para a construção da reflexão e do saber. No Anexo 5 mensagens dos professores e alunos das diversas escolas brasileiras e de professores e alunos das escolas estrangeiras (canadenses, estadunidenses e portugueses).
Na EESG Brasílio Machado, o trabalho foi desenvolvido com a participação de 3 professoras, de Português, Geografia, Inglês com a coordenadora do Laboratório de Informática e alunos voluntários. Essa escola já desenvolvia o seu próprio jornal o que era produzido pelos alunos com orientação de professores.
Na Escola Terra Mater, participaram, inicialmente, 4 professoras, de Português, de História, de Geografia e de Matemática. de 5a e 6a. séries, que incentivaram seus alunos na criação de um jornal escolar com a temática "A Criança no Brasil", em virtude de estarem próximos do Dia da Criança, 12 de outubro. Todos os alunos das 5a e 6a. séries participaram. Após a escolha do tema, em consenso entre professores e o coordenador do projeto, a proposta foi levada pela professora de Português, Lourdes Fernandes de OLIVEIRA, e os alunos, segundo ela, "sentiram-se desafiados a executar um trabalho de pesquisa, análise e redação de um assunto tão próximo a eles" (1995:2). A professora orientou a divisão dos grupos, a delegação de responsabilidades, de tarefas individuais, envolvendo as diversas disciplinas e o conteúdo curricular já trabalhado durante o ano. A professora de Português também orientou a seleção de materiais, chamando atenção dos alunos para a pertinência, qualidade, importância e exclusividade das matérias publicadas por eles para que os jornais de cada classe fossem únicos, não repetitivos. Quando toda a parte de preparação, leitura, seleção e rascunho estava pronta, a professora OLIVEIRA passou a orientá-los na montagem do jornal, seguindo critérios estabelecidos pelos próprios alunos. Então, os alunos passaram para a revisão final, trocando-as diversas partes entre os grupos. Finalmente pronto, os jornais passaram a circular pelas diversas salas de aula e serviram de estímulo para que outros jornais fossem criados com outros temas. Nessa edição de outubro de 1995, a professora OLIVEIRA foi a única acompanhar todo o processo até o final, mas contou com a colaboração de outros professores na orientação da redação das matérias referentes às suas disciplinas específicas. Em abril de 1996, todos os professores das 5a às 8a séries envolveram-se na orientação para a elaboração do jornal referente ao "Trabalho", não só desenvolvendo o tema trabalho relacionado com seus conteúdos específicos, mas também, na escolha e na seleção dos elementos entre todas as produções que constariam do encarte especial que acompanharia o exemplar do jornal institucional da escola do mês de maio. Nesse trabalho, os professores foram orientados, mais uma vez, pelo coordenador do projeto "Leituras...", Gilberto Martins. Os alunos puderam desenvolver e expressar seu estilo individual de aprendizagem , uma vez que além de texto, o jornal impresso tinha também ilustrações em desenho, fotos, gráficos. Houve uma edição 'falada" apresentada para os colegas e uma edição "mural", exibida no pátio da escola. Os professores mostraram assim que estavam incorporando em suas práticas algumas das idéias estudadas a partir de, por exemplo, GARDNER (1994), sobre a Teoria das Múltiplas Inteligências, em que outras habilidades devem ser reconhecidas. Para o segundo semestre de 1996, o prof. Gilberto Martins estará orientando os professores na elaboração do jornal eletrônico, discutindo as diversas linguagens específicas a cada uma das mídias (mural, impressa, televisiva, telemática ).
Pudemos observar que o comprometimento dos professores com o projeto variou de pessoa a pessoa. Entretanto, de forma mais, ou menos, intensa, todos se envolveram orientados pela coordenação pedagógica , e pelo coordenador do projeto, em um trabalho curricular. A preparação para o projeto telemático pressupõe um entendimento por parte do professor de seus objetivos, características e efetividade na prática pedagógica. Têm-se por básico que o projeto telemático, via rede de computadores, não deve ser levado como modismo ou estratégia de marketing, mas para atingir objetivos educacionais. Fez-se, então fundamental, o desenvolvimento de um jornal impresso, antes de se passar para a produção do jornal eletrônico. A coordenação do projeto trabalhou, pois com os professores, para que começassem a se aperceber das diferenças de linguagem jornalística quando as mídias são diferentes, de modo que esses professores possam desenvolver autonomamente, no futuro, outros projetos.
Um dos problemas que se apresentaram no desenvolvimento deste tipo de projeto com escolas do Hemisfério Norte é que os semestre escolares são diferentes. Os alunos das escolas estadunidenses estavam saindo em férias quando nossos alunos começavam a responder as suas mensagens. Não havia resposta e havia uma grande frustração. Para o projeto de 1996, já se levou essa diferença em consideração. Nos quadros 8 e 9, as mensagens dos professores e dos alunos da escola particular de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, Escola Terra Mater, de São Bernardo do
Quadro 7 - Projeto Time Capsule - Decisões dos alunos de Nova York (EUA) - 1o semestre de 1995
From: "Academic Support Center" <ASC@POSTBOX.CSI.CUNY.EDU>
Organization: The College of Staten Island To: ibdccort@cat.cce.usp.br Date: Fri, 2 Jun 1995 16:09:08 Subject: time capsule Priority: normal X-Mailer: Pegasus Mail v3.1 (R1a) Message-Id: <457F2971848@POSTBOX.CSI.CUNY.EDU> Status: R Marie Barthelemy -a video tape of every year's events for the last decade
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Quadro 8 - Projeto TIME CAPSULE - Decisões dos Monitores de Nova York/EUA - 1o semestre de 1995
If we, tutors at Terra Mater School, in Sao Bernardo
do Campo, Brazil, were to bury a capsule to be opened 1000 years from now,
we would for sure like to include in it:
..some Cds like Villa Lobos', Elis Regina's, Chico Buarque's, Vinicius de Moraes', Caetano Veloso's, Raul Seixas', Tonico e Tinoco's, Chitaozinho e Xororo's, Milton Nascimento's, Tom Jobim' Luis Gonzaga's. ..some books which portrait some of our flowers and animals, and some others like Erico Verissimo's, Euclides da Cunha's, Jorge Amado's, Monteiro Lobato's, Machado de Assis', Carlos Drummomd de Andrade's. _ some newspapers like Folha de Sao Paulo and O Estado de Sao Paulo and some magazines like Veja, Isto e, Geografica Nacional and others. _ some Mauricio de Souza's comic books ( Monica, Cebolinha, Chico Bento) _ some photographs of Brazil, picturing our big cities, our countryside, our coast. _ some Brazilian films like Dona Flor e seus dois maridos, O Pagador de Promessas, Carlota Joaquina and some television short series like O Tempo e o Vento, Comedias da Vida Privada, Agosto, Grandes Sertoes Veredas. We would also include some historical soap operas like Escrava Isaura and Os Imigrantes. |
Quadro 9 -Projeto Time Capsule - Decisões dos alunos da 7a série da Escola Terra Mater de São Bernardo Campo-SP - 1o semestre de 1995
If we, here in Brazil, in the 7th grade, were to bury
a capsule to be opened 1000 years from
now, we would for sure like to include in it: - a PC ( 486 )
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Campo - SP. As mensagens dos alunos estadunidenses e brasileiros com as sugestões para a "Time Capsule" foram colocadas na WWW, numa "home-page" da CSI, mas por motivos técnicos ficou por algum tempo apenas.
No dia 23 de agosto de 1995, no auditório do CCBEU-Santos , apresentamos o projeto "Is There a Hemispheric Youth Culture" para 80 alunos de 14 a 20 anos, dos cursos básico, intermediário e avançado, para os professores da escola , para a coordenadora de cursos e para as bibliotecárias, além dos diretores da Instituição presentes. Dos 80 alunos, 34 enviaram as mensagens para o grupo de Nova York, no mesmo dia. Durante a semana seguinte os demais alunos prepararam no ‘Learning Center do CCBEU-Santos as mensagens para serem enviadas, já que os mesmos alunos e monitores que participaram do Time Capsule de Nova York voltariam às aulas no período de 1 a 25 de setembro. Nas primeiras semanas, houve problemas técnicos e políticos na CSI/CUNY e as mensagens eram raras. No CCBEU-Santos, a coordenadora de cursos, a bibliotecária, e a profissional responsável pelo acesso a Internet estavam integrados no projeto; participavam das reuniões mensais que eu realizava na escola para orientação e estavam em permanente contato, por telefone, fax e correio eletrônico. Os alunos reuniam-se com os professores às sextas-feiras para ler as mensagens recebidas pelo correio eletrônico, discutir o perfil do jovem brasileiro e começar a descrever o perfil do jovem americano a partir das mensagens recebidas. Depois redigiam mensagens coletivas para enviarem aos colegas de Nova York e os que desejavam continuaram a enviar mensagens pessoais. Nessa escola também houve mudança de professores envolvidos com este projeto, inclusive da coordenação que passou para a Profa. Eveline Cavalcante. Ainda como motivação, mostrei aos professores e alunos do CCBEU-Santos, um "video-letter" feito por alunos da PUC-São Paulo e da University of New York, que recebemos de Lilly Dias, do setor de Multimídia da College of Staten Island. Comentamos o vídeo e os alunos decidiram realizar algo parecido para enviarem para seus colegas de Nova York.. Os alunos e professores reuniram-se muitas outras vezes, realizaram o vídeo mostrando a casa de um dos alunos, a escola e alguns lugares típicos de Santos para enviar para Nova York. O vídeo foi realizado pelos alunos sob orientação dos professores envolvidos. É importante destacar essa participação dos professores que estiveram sempre presentes, como orientadores, respeitando a autonomia de seus alunos, mas disponibilizando seu apoio quando necessário. A avaliação, no dia 01/12/95, dessa fase do trabalho, mostra um amadurecimento dos alunos e professores. Criticaram a superficialidade das mensagens dos alunos estadunidenses, a demora nas respostas, as dificuldades técnicas e organizacionais que ocorreram naquela ponta, mas uniram-se para continuar, mesmo no período de férias a se comunicarem com os alunos estadunidenses e tentarem conseguir mais informações para uma reflexão mais profunda sobre o tema. Uma das sugestões iniciais foi a de se decidir se elaborariam, como produto final, um boletim eletrônico com versão impressa ou se criariam uma lista de discussão sobre a cultura jovem com seus colegas de Nova York. No Anexo 3C, foto dos alunos e a pessoa encarregada pelo envio das mensagens, por correio eletrônico, via Internet, na Biblioteca do CCBEU-Santos-SP. Nesse mesmo momento, professores e outros alunos continuavam discussão e redação das mensagens no "Leacrning Center"(Laboratório de Computadores).
Em março de 1996, participei de outra reunião na CUNY (Nova York-EUA), com os novos participantes do Projeto "Is There a Hemispheric Youth Culture", ainda sob a coordenação geral do Prof. Bill Bernhardt, dentro do programa "Office of Freshmen Programs" da College of Staten Island (CSI), CUNY, NovaYork (EUA), com alunos do Ensino Médio e Superior (secondary and pos-secondary) de Nova York. Os responsáveis pelos quatro grupos participantes eram: Devon Blinth pelos alunos da Liberty Partnership; Vivian Campbell, pelos alunos do STEP (Programa de Iniciação em Ciência e Tecnologia); Bill Bernhardt pelos alunos do primeiro ano da CSI para a participação dos alunos de Inglês da College of Staten Island. e Mira ErIckson, diretora do English Language Institute, CUNY, pelos alunos de Inglês como segunda língua. No Brasil, o projeto era re-editado pelo CCBEU-Santos , sob a coordenação da Profa. Eveline Cavalcante, tendo a colaboração da bibliotecária Neube e da analista Alessandra Neris, nesse momento, administradora da rede CCBESANT, pois a diretoria da escola estimulada com o interesse de professores e alunos com os resultados do projeto "Is There a Hemispheric Youth Culture" de 1995, adquiriu equipamento e supriu-se de uma linha de 64k ponto a ponto com a FAPESP-SP e tornou-se provedora educacional na Baixada Santista-SP, a partir de janeiro de 1966.
Quando os coordenadores e professores se apropriam da metodologia de desenvolvimento de projetos pedagógico telemáticos, trabalhando em conjunto com a equipe técnica e com os profissionais das bibliotecas - que já são midiatecas - passam a trabalhar autonomamente e desenvolver os seus próprios projetos, referindo-se aos centros difusores para consultas quando não conseguem resolver os problemas por si. Isto foi o que aconteceu com o CCBEU-Santos , que no primeiro semestre de 1996, desenvolveu em paralelo com o "Is There a Hemispheric Youth Culture" três outros projetos: um com alunos da Slovenia, outro, no A Collage Culture (que já nos referimos no início deste capítulo) e um terceiro com o CCBEU de Porto Alegre, que eles denominaram Pampas. A Profa. Eveline Cavalcante coordenou todos os quatro projetos e teve co-coordenadores entre seus professores, para cada um dos projetos.
Ainda, os resultados nessa escola foram tão positivos que a coordenadora de cursos, a bibliotecária, a administradora da rede e alguns professores participaram da ABLA96 (4th Biennial Convention of the Association of Binational Centers of Latin America), que aconteceu de 15 a 19 de julho de 1996, em Salvador-BA, fazendo apresentações sobre esses quatro projetos.
Os resultados que o projeto têm apresentado são bem positivos, pois os alunos brasileiros têm escrito muito mais em Inglês no dia a dia (algumas desses escritos estão reproduzidos no Anexo 5), pesquisando mais sobre sua cultura para contar aos seus colegas norte-americanos; os professores de Inglês têm coletado um farto material autêntico que poderá ser utilizado em outras áreas. A esse respeito, escreve BERNHARDT (1996:3-6) "Acho que fica claro o que os alunos de Nova York conseguiram com sua participação em um projeto deste tipo em termos de crescimento da consciência internacional, maior "insight" na sua própria cultura e um senso de competência em lidar com as tecnologias emergentes. Entretanto, acredito que nós que participamos como professores/facilitadores também aprendemos algo com nossa participação..."
O que podemos observar é que, quando professores e alunos têm um projeto comum, com objetivos, método e procedimentos de desenvolvimento definidos, além do objetivo de se comunicar com seus pares de outras escolas, professores de diferentes disciplinas e seus alunos de diferentes idades, todos realizam um trabalho de construção colaborativa de aprendizagem bem sucedido.
Resumindo, os projetos pedagógicos telemáticos realizados na Escola do Futuro USP compreendem dois grupos distintos que nomeei, para descrevê-los, como grupo "Ciências da Natureza", o grupo dos projetos pedagógicos telemáticos do Ensino de Ciências via Telemática, mais o primeiro, Rede Guri, e grupo"Ciências Sócio-Culturais", projetos pedagógicos telemáticos do Grupo de Ensino de Humanidades via Telemática. Depois de analisá-los, a partir das categorias que estabeleci para a realização deste trabalho, passo a caracterizá-los a seguir:
a) quanto ao quando, que nível escolar, de onde com quem onde: O projeto pedagógico telemático Rede Guri, no seu experimento "Fast Plant", de 1991/1992, iniciou a sistemática dos projetos pedagógicos telemáticos do Grupo Ensino de Humanidades via Telemática que o sucedeu. Um grupo de pesquisadores ligados à Escola do Futuro propõe à escolas o desenvolvimento de projetos de ciências experimentais, com kits para a experimentação ou com a confecção de dispositivos para que essa experiência possa acontecer, entre escolas do Brasil, Israel e Estados Unidos. A participação dos professores até o ano de 1994 era voluntária e sua preparação esporádica. As experiências foram realizadas e os dados foram trocados entre alunos do Ensino Fundamental e Médio desses três países. A partir de 1994, passou-se a ter uma preocupação maior quanto a preparação de professores de Ciências do Ensino Fundamental e Médio quanto a operacionalidade técnica (informática) do projeto e quanto a proficiência em relação ao conteúdo.
Em 1994, o primeiro projeto pedagógico telemático do Grupo Ensino de Humanidades via Telemática tem inicio com duas escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, mas não com os alunos , com os professores , através de oficinas de sensibilização com o objetivo de auxiliar a reflexão sobre a aplicação das novas tecnologias de comunicação e o resgate das "velhas" (do lápis ao projetor de diapositivos). Oficinas que já vinham se repetindo desde 1991, mas não como parte de projeto pedagógicos. A mudança do paradigma comunicacional e educacional, repensando o trabalho em rede ( a que me referi no capítulo 2), norteia as leituras e debates sobre as múltiplas inteligências de GADNER (1994), dos tótens de talentos do Calvin TAYLOR (1989) e a partir de 1995, sobre as tecnologias da inteligência apresentadas por LÉVY (1991) e MACHADO (1995), entre outros. Apenas quatro professores em cada escola , no ano de 1994 se dispuseram a acompanhar de fato os projetos e trabalharem eles com os alunos. Denomino estes projetos de processuais, pois não são os resultados imediatos da realização de tarefas e atividades científicas que indicam o sucesso do projeto, mas a mudança nas atitudes, na postura, na concepção de educação dos professores que indicarão os resultados. No ano de 1995, o número de escolas subiu para quatro, uma escola estadual de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, que continuou o projeto, mas diminuiu a participação dos professores (apenas dois), cerca de 20 alunos, uma escola estadual de Ensino Médio nova no projeto, com a participação esporádica de sete professores e contínua de três, com cerca de 200 alunos, e duas escolas particulares, uma de Educação Infantil, Fundamental e Médio, que continuava, com a atuação de três professores, e cerca de 40 alunos ; e outra de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, em que todos os professores do Ensino Fundamental, participaram, não em tudo, mas ao longo do ano, com duas coordenadoras pedagógicas intermediando, com cerca de 150 alunos. Em agosto de 1995, conveniou-se um centro binacional de ensino de Inglês de Santos, com cujos professores, eu estava trabalhando desde fevereiro, no programa de sensibilização à utilização das tecnologias de comunicação aplicadas ao ensino de línguas, preparando-os para o projeto telemático no segundo semestre, que foi realizado com cinco professores, um coordenador, um bibliotecário, um analista de informática e cerca de 80 alunos (cerca de 50 flutuantes e 30 fixos do Brasil e com um coordenador, 4 monitores e dez alunos de Nova York (EUA). Em novembro, duas escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, começaram a participar dos projetos, na fase de sensibilização dos professores, durante o primeiro semestre de 1996, professores (de Informática, Música e Teatro) da Escola Técnica Federal se interessam em integrar o projeto com seus alunos, por iniciativa própria..
b) quanto ao sobre o que, para quê, e por quê: As escolas compartilhavam esporadicamente as informações sobre as pesquisas realizadas em relação à temática ligadas às disciplinas de História, Geografia, Artes, Língua Portuguesa, Ciências e Matemática, que estavam sendo desenvolvidas segundo o plano escolar da escola. Os dados eram coletados e compartilhados via telemática, fax, correio regular. Embora o Grupo seja de Ensino de Humanidades, os projetos pedagógicos telemáticos em 1996 conseguiram envolver todos os professores , mais ou menos atuantes como vamos ver, mas todos de certa forma comprometidos no planejamento anual; descobriram aos poucos as possibilidades de conexão dos projetos com os conteúdos curriculares que têm de dar conta dentro daquele calendário escolar estabelecido. Essas trocas serviram para gerar discussões sobre temas da atualidade, sobre visão histórica, sobre uso aplicado da Matemática, por exemplo, monitoradas pelos professores e pelos coordenadores pedagógicos quando as escolas os têm. Muitas vezes frustram-se, os participantes, principalmente os alunos , pela falta ou demora de resposta. Porque demoravam? Essa é uma análise para a próxima categoria.
c) quanto aos materiais, linguagens/textos informáticos: O grupo "Ciências da Natureza" disponibilizou seminários, apostilas e apoio informático para os coordenadores das escolas. Os seminários eram disponibilizados, num determinado período a professores e coordenadores. Esse tipo de formação responde às necessidades e objetivos desse tipo de projeto, o "Ciências da Natureza". Só esses seminários gerais já não são suficientes para os projetos pedagógicos telemáticos processuais. Durante observações feitas em visitas a algumas escolas onde esses projetos se realizavam, conversando com alguns pesquisadores, assistindo um dos "treinamentos" de manipulação de rede dado por especialista em informática, não professor com formação em didática, pude inferir que, em muitas escolas participantes dos projetos pedagógicos telemáticos experimentais, como em outras que estão se "informatizando" sem apoio pedagógico, o controle do laboratório de Informática na escola e o acesso à Internet, fica restrito ao profissional de Informática, ou ao professor encarregado de cuidar do laboratório e muitas vezes o seu relacionamento com os professores é conflitante. Professores com formação em didática e técnicos de informática ou professores leigos não usavam o mesmo código de comunicação o que tinha influência direta na atuação dos professores de que tratarei no próximo item. Por outro lado, os pesquisadores da área de ciências, tendo contas de acesso à Internet, no domínio "cat.cce.usp.br, até 1995 e "spider.usp.br", a partir de março de 1996, podiam acompanhar diariamente os projetos realizados nas escola a distância, conectando-se e verificando o movimento. O mesmo já era dificultado, para o grupo de "Ciências Sócio-Culturais", ou Ensino de Humanidades via Telemática, pois a maioria dos pesquisadores só tem conta de acesso no domínio "piaget.futuro.usp.br" que vem sendo configurado desde 1994 e, freqüentemente, tem problemas de acesso, devido à qualidade do equipamento e ao tipo de configuração dos acessos à rede, que, por exemplo, não pode ser acessado diretamente, por linha discada, só por acesso via telnet ("login" remoto). As dificuldades operacionais acabam afetando o desenvolvimento comunicacional e pedagógico do projeto, mas essa é uma fase comum também aos projetos telemáticos internacionais de que se tem conhecimento.
O problema referente à compreensão da linguagem entre professores e profissionais da área de informática ou que passam a se especializar em informática, também, aconteceu com alguns pesquisadores do "Ciências Sócio-Culturais", mais especificamente, o Grupo Ensino de Humanidade via Telemática, que precisaram ou ser afastados ou serem reorientados para poderem se comunicar com os professores, já que no Ensino de Humanidades via Telemática, pretende-se desenvolver o trabalho com o professor. Esta pesquisadora procurou cuidar para que nas oficinas de sensibilização preparatórias para os projetos nas escolas, estivessem presentes os responsáveis pelo laboratório de computadores ou pelo único computador da escola , para que houvesse uma interatividade entre os mesmos e não se preocupassem em disputar poder ou domínio das máquinas, mas que cada um desempenhando a sua função dessem o apoio necessário ao trabalho do aluno. Não tem sido fácil, pois, trata-se de conceitos, preconceitos, sentimentos arraigados que levam tempo para serem alterados.
d) quanto aos professores atuantes, alunos atuantes, modos educativos e comunicacionais de atuação: As atuações de professores e alunos nos dois grupos de projetos telemáticos se revelaram também distintos. No "Ciências da Natureza", o projeto se preocupa com o grau de proficiência do professor na sua disciplina específica, pois o conteúdo curricular ou específico dos experimentos é necessário e fundamental para a sua realização e os pesquisadores envolvidos nos diverso projetos pedagógicos experimentais estavam preparados para suprir qualquer deficiência por parte do professor. A atuação de orientação e coordenação fica mais sob responsabilidade do pesquisador do Ensino de Ciências via Telemática do que do professor. Os alunos são atuantes como coletadores e analisadores de dados, na redação das mensagens, na confecção de diapositivos, isto é, as fases da experiência e o produto final são responsabilidades do aluno. Os professores que naturalmente são dinâmicos, criativos, ou que trabalham em escolas que já tem um novo paradigma educacional e comprometem seus professores nas inovações, envolvem-se, participam, assumem o gerenciamento do projeto na escola.
Nos projetos pedagógicos telemáticos do grupo "Ciências Sócio-Culturais", a preocupação central é ajudar o professor a atuar como coordenador, gerenciador do projeto e orientador de seus alunos. Nestes dois anos, avaliei e reavaliei, reformulei ações e junto com os pesquisadores do Ensino de Humanidades, vimos trabalhando passo a passo, muitas vezes pressionando o professor. Os que, como já disse anteriormente, são atuantes, abrem-se às novas possibilidades, mas a maioria precisa ser trabalhada, motivada, cobrada. Percebi a necessidade de ter tudo muito sistemático, organizado e planejado. É uma fase inicial para aprenderem a andar com as próprias pernas, a serem autônomos.
Muitas vezes procurei delegar atividades e responsabilidades e durante todo o tempo em que me mantinha ausente, nada acontecia, até a minha volta ou a de outro pesquisador interferisse. Alguns professores esperam receitas prontas em moldes adequados às suas necessidades.
Mas as atuações efetivas se revelaram criativas; professores , coordenadores e bibliotecários das escolas participantes dos projetos pedagógicos telemáticos do Ensino de Humanidades via telemática tiveram encontros presenciais no fim do primeiro semestre de 1996, compartilharam suas pesquisas, resultados de suas atividades e fizeram um planejamento conjunto para o segundo semestre de 1996. Muitos já trocavam idéias, planos de aula, sugestões via correio eletrônico, via fax. No encontro presencial de julho de 1996, os professores e coordenadores constataram que a comunicação educativa local, em cada escola , foi muito mais efetiva do que a que aconteceu telematicamente, não só devido às dificuldades técnicas, mas devido a essa aprendizagem necessária de compartilhar produções, saberes e experiência.
A atuação dos alunos também foi muito intensa, só que a responsabilidade do projeto acontecer não está principalmente na realização da pesquisa e de tarefas pelos alunos, mas acima de tudo na construção conjunta dos resultados dos projetos por diretores, coordenadores pedagógicos, bibliotecários, profissionais de informática e alunos. Todos comprometidos com a formação de uma sociedade mais justa e com desigualdades menos gritantes.
Para concluir essa caracterização, os projetos pedagógicos telemáticos em "Ciências da Natureza", são tão necessários quanto os em "Ciências Sócio-Culturais" e atingem objetivos específicos e articuláveis. O objetivo dos grupos de Ensino de Humanidades via Telemática e de Ensino de Ciências via Telemática é de realizarem projetos conjuntos nas mesmas escolas a partir de 1997. Já existe um acordo oficioso entre pesquisadores dos dois grupos para que haja um planejamento conjunto com esse objetivo. Historicamente, estudiosos das "Ciências da Narureza", e estudiosos das "Ciências Sócio-Culturais", trilham caminhos paralelos, como se elas não pudessem integrar-se, num trabalho colaborativo de igual valor, sem competições excludentes. Os pesquisadores da Escola do Futuro componentes dos dois grupos "Ciências da Natureza", e "Ciências Sócio-Culturais", acreditam que será possível, não só desenvolverem um trabalho conjunto, como, também, com os outros pesquisadores da Midiateca, da Expressão Audiovisual, da Holografia, da Multímidia, da BBS e assim, contribuindo com outras mídias e outras instituições trabalhar para uma melhor educação no futuro próximo.
No Capítulo 4, procuro analisar algumas das semelhanças, diferenças, presenças e ausências nas atuações de alunos e professores nos projetos telemáticos fora ou dentro da América Latina e sugerir algumas possibilidades que nós, brasileiros, considerados pelos estrangeiros como um povo com a sensualidade, o sentimento, a emoção à flor da pele, podemos aproveitar essas características e trabalhar a comunicação educativa presencial e telematicamente.