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PEDAGOGIA
E EDUCAÇÃO FÍSICA
Edson Luiz
Linczuk
edson.Linczuk@utp.br
Pedagogia,
FCHLA
Universidade
Tuiuti do Paraná
Muito
mais que estabelecer uma relação entre a Educação
Física e a Pedagogia, este estudo pretende demonstrar como a Educação
Física contribui ou pode contribuir no processo de aprendizagem
em todos os níveis escolares, dentro de seus valores e conteúdos,
que acredita-se corresponder com os objetivos educacionais da Pedagogia.
Para tanto, iniciar-se-á buscando uma definição do que é a Educação Física, diferente das definições tradicionais, como “ ciência que estuda o movimento humano”. MEDINA(1983) citado por OLIVEIRA(1994), define Educação Física como: “ A arte e a ciência do movimento humano que, através de atividades específicas, auxiliam no desenvolvimento integral dos seres humanos, renovando-os e transformando-os no sentido de sua auto-realização e em conformidade com a própria realização de uma sociedade mais justa e livre.” Já para PEREIRA(1988), “ É a parte da educação do ser humano que acontece a partir, com e para o movimento. A educação física é um meio de educação social que ocorre através – e para – a prática consciente, processual, metódica de atividades físicas gímnico desportivas, que valorizam o conhecimento do corpo humano e objetivam o seu desenvolvimento. Educação Física é a educação corporal, via exercitação física, realizada necessariamente sob o prisma pedagógico, de unidade sócio-biológica, que pelo desenvolvimento e treinamento de habilçidades motoras e qualidades físicas, psíquicas e morais que visa a plena elevação cultural, harmoniosa e integral do homem.” GLASER(1981), define Educação Física como: “Um aspecto da educação, por parte de um todo; portanto tem os mesmos fins da educação, isto é, formar o indivíduo física, espiritual e moralmente sadio”. Aqui, rapidamente adota-se o conceito de que a Educação Física pode ser a ciência que estuda a ação humana, tanto do ponto de vista motor quanto social. Estuda o homem como agente transformador, que lança mão de suas ações, movimentos e expressões corpóreas; da sua cultura e consciência corporal em si, para determinar e transformar o mundo e sua vida material. Por isso justifica-se o estudo de conteúdos relacionados à História, Filosofia e Sociologia da Educação Física, nos cursos de Educação Física e Pedagogia. Mas, dentro do processo educativo, como age a Educação Física? É quase de comum acordo entre os estudiosos que analisam todas as faces das Educação Física Escolar, de que a mesma educa por dois processos, ao mesmo tempo similares e ao mesmo tempo tão distintos: Educação para o Movimento e, Educação pelo Movimento. Educação para o movimento, é a utilização de atividades físicas, motoras e recreativas, com o objetivo de desenvolver a motricidade geral do educando. Visa o ensino e o aprimoramento de capacidades físicas (força, velocidade, etc.) e capacidades motoras de base (coordenação, lateralidade, noção espacial), bem como habilidades específicas, no que concerne às técnicas de movimento. A educação centra-se no movimento. Para FREIRE(1992), na educação pelo movimento, o movimento é um instrumento facilitador da aprendizagem de conteúdos ligados ao aspecto cognitivo. O movimento torna-se então, um meio de aquisição e desenvolvimento de objetivos educacionais de ensino, como psicomotricidade, cognição e afetividade, por exemplo. LE BOULCH(1987), acredita que “o objetivo central da educação pelo movimento é contribuir ao desenvolvimento psicomotor da criança, de quem depende ao mesmo tempo a evolução de sua personalidade e o sucesso escolar.” Conforme MATTOS (1999), a “educação pelo movimento visa conjugar os fenômenos motores, intelectuais e afetivos, garantindo ao homem melhores possibilidades na aquisição instrumental e cognitiva, bem como na formação de sua personalidade.” É justamente por intermédio da educação pelo movimento que a Educação Física interage com a Pedagogia no processo educativo, pois ambas visam o desenvolvimento de métodos e processos de ensino que objetivam o desenvolvimento global do indivíduo. Mas, antes de esclarecer de forma mais específica como a Educação Física se relaciona com a Pedagogia e como contribui para a Educação geral...cabe ressaltar que a Educação Física, como ocorre com a Educação, sofre e sofreu influência de tendências e concepções variadas, servindo também aos interesses do estado e instrumento ideológico do sistema econômico dominante. CASTELLANI Fº(1988, p.11.), afirma que a Educação física, muitas vezes, “tem servido de poderoso instrumento ideológico e de manipuilação para que as pessoas continuem alienadas e impotentes diante da necessidade de verdadeiras transformações no seio da sociedade.” Por conseqüência escreve-se quase sempre uma história que é o próprio reflexo dessa situação de dominação que se pretende eternizar. A Educação Física como componente curricular educacional, pode-se dizer que sofreu ampla influência das tendências ou concepções de educação que surgiram e vigoram até hoje na escola. SAVIANI(1998, p. 19), considera como tendências, “determinadas orientações gerais à luz das quais e no seio das quais se desenvolvem determinadas orientações específicas, subsumidas pelo termo correntes”. Dentro de uma concepção de que a Educação Física, como componente educacional, também passou e passa por influências pedagógicas e ideológicas e, que também pode estar à serviço de modelos sociais e políticos dominantes, tentar-se-á relacionar a Educação Física escolar às tendências e concepções pedagógicas vigentes ou que já vigoraram na educação brasileira, com o intuito de verificar a influência dessas concepções no referido campo de estudo. Esta análise se iniciará com a Pedagogia Tradicional, com suas características já descritas anteriormente, de que forma esta influenciou ou influencia a prática do ensino da Educação Física na escola. A Educação Física adentrou na educação brasileira, com fins militares e higiênicos, no Brasil Império a grande maioria dos trabalhos sobre Educação Física, devem-se ao Colégio do Rio de Janeiro(Faculdade de Medicina), que exigia dos candidatos ao diploma de doutor em medicina, uma tese obrigatória. Influenciados pelas teorias de Rousseau e Spencer, muitos dos doutorandos escolhiam a Educação Física como tema de suas teses. CASTELLANI Fº, diz estar a História da Educação Física no Brasil, se confundindo em muitos momentos, com a dos militares.(1988, p. 34). Desde a criação da Academia Real Militar em 1810(dois anos após a chegada da Família Real no Brasil), passando pela fundação da Escola de Educação Física da Força Policial do Estado de São Paulo, em 1910 ( o mais antigo estabelecimento especializado em todo o país), até a criação do Centro Militar de Educação Física em 1922, criado à partir de uma portaria do Ministério da Guerra, somados a outros fatos, marcaram a presença dos militares na formação dos primeiros professores civis de Educação Física. Desta forma, a Educação Física no Brasil, teve suas origens marcadas pela forte influência das instituições militares, que por seu lado, foram influenciadas e “contaminadas” pelos princípios positivistas de manutenção da ordem social para chegar-se ao “Progresso e ao Desenvolvimento” do país. Assim, “a Educação Física no Brasil, desde o século XIX, foi entendida como um elemento de extrema importância para forjar o indivíduo forte, saudável, indispensável à implantação do processo de desenvolvimento do país”. (CASTELLANI Fº, 1988, p.38 e 39). Esta tendência Higienista(Educação do Físico/Saúde Corporal), não deve-se apenas aos militares, mas também aos médicos da época, que dentro da sua produção acadêmica, como já citado anteriormente, em referência a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; também influenciaram nos padrões de conduta física, moral e intelectual da sociedade. Influência esta, que vem da Europa do século XVIII onde a medicina era muito mais como técnica geral da saúde, do que propriamente “serviço das doenças ou arte das curas”, pois o médico de certa forma estabelecia algumas condições morais(higienistas) à família européia. (CASTELLANI Fº, 1988, p. 40-41). A força física, a energia física, transformava-se em força de trabalho; os exercícios físicos então, passam a ser entendidos como “receita” ou “remédio”. O trabalhador, até então, cheio de moléstias acarrentadas pelo seu modo de vida, deveria adquirir um corpo saudável, ágil e disciplinado exigido pela nova sociedade capitalista; desta forma, neste período, a Educação Física correspondeu plenamente aos interesses da classe social hegemônica. (SOARES, 1992, p.51). Foi por influência higienista que os educadores passaram a defender a introdução da ginástica nos colégios, apesar da resistência da elite que via com preconceitos a prática da atividade física, porque valorizava o trabalho intelectual. A Educação Física era, inclusive por seus defensores (como por exemplo Rui Barbosa), algo relacionado apenas ao corpo, separado do espírito e do intelecto, dentro de uma visão dual do homem. O surgimento dos métodos ginásticos na Europa, foi uma necessidade de sistematização dos exercícios físicos formativos. “No Brasil, especificamente nas quatro primeiras décadas do século XX, foi marcante no sistema educacional a influência dos métodos ginásticos e da instituição militar”.(SOARES, 1992, p.53). A educação Física era assim concebida, como atividade exclusivamente prática. Como a prática da Educação Física escolar basicamente iniciou-se com o militarismo e o higienismo, estes possuiam dentro da pedagogia tradicional ampla relevância no sentido da formação do corpo vigoroso e saudável, com suas destrezas bem aprimoradas, com o objetivo de formar o indivíduo “forte” e apto para o trabalho e para o cumprimento das obrigações militares. Basicamente as atividades físicas praticadas na escola em nada distinguiam da praticada nos quartéis, com ampla utilização dos métodos ginásticos europeus e ênfase acentuada nos exercícios calistênicos (repetitivos, sequênciais, formativos, militarizantes), que objetivavam o desenvolvimento das qualidades físicas essenciais como força, velocidade, agilidade, ritmo,etc. Alguns exemplos desses exercícios são o “poli-chinelo”, a flexão de braço, o abdominal, o “canguru”, etc. O professor de Educação Física, então como mero transmissor destes conteúdos, em nada faz com que estes sejam motivantes ou despertem o prazer pela prática, o aluno deve apenas reproduzir e executar corretamente os movimentos orientados pelo professor, de maneira passiva e disciplinada, semelhante realmente a um quartel. Tanto que para isso, algumas “vozes de comando” eram utilizadas na Pedagogia Tradicional, como “esquerda ou direita volver” ou “posição de sentido”, etc. A Pedagogia Tradicional quando lança mão de algum conteúdo que não seja a ginástica formativa militarista, utiliza de desportos tradicionais como o atletismo, a ginástica olímpica, o futebol, voleibol, basquetebol e o handebol. Aqui a avaliação dos conteúdos é somativa e a reprovação, quando ocorre, se efetua por desempenho físico-motor insatisfatório. Assim a Educação Física na Pedagogia Tradicional, nada mais é que uma disciplina potencializadora de saúde para o mundo do trabalho e para o serviço militar. Como conseqüência dessa prática autoritária, ocorre o que chama-se de “alienação do corpo”, limitando a autonomia do aluno em relação a sua criatividade de expressão corporal, condicionando-o à executar as funções criadas pelo sistema. “Historicamente a educação liberal iniciou-se com a Pedagogia Tradicional e, por razões de recomposição da hegemonia da burguesia, evoluiu para a Pedagogia Renovada (Escola Nova).” (MYAGIMA, 1989, p.07). Na 2º fase do Brasil República(1930-1937), as reformas educacionais realizadas em diversos estados brasileiros, nas décadas de 20 e 30, contemplam a Educação Física como componente curricular do ensino primário e secundário. À partir desse momento a Educação Física começou a ser alvo das atenções dos profissionais da educação, além dos militares e médicos; começando assim, o início de um leve distanciamento dos princípios higienistas. Após a Constituição de 1937 (Ditadura Vargas), algumas questões como a Segurança Nacional e o reforço do civismo, fizeram com que a Educação Física assumisse um caráter de “militarização do corpo” mais acentuado (moralização do corpo, aprimoramento eugênico, preparo ideológico do indivíduo por meio do físico -adestramento físico). As práticas físicas, neste período, não mudaram muito no que se refere ao conteúdo dos períodos anteriores, devido ao auge da “Escola Renovada” ter ocorrido na década de 30, onde o Brasil buscava seu desenvolvimento nacional, as influências militaristas, higienistas e eugênicas que predominavam nas décadas anteriores, permaneciam fortes na educação pelas necessidades da época. Com isso, os conteúdos curriculares permaneciam centralizados na ginástica e no desporto, mas, devido aos conceitos de centralização do processo educativo nos interesses e necessidades dos alunos, começa a despontar aqui, o interesse pela Recreação no conteúdo de Educação Física, como agente motivador e catalisador do prazer pela aula de Educação Física, que também lançou mão, além das brincadeiras tradicionais, dos esportes como meio de recreação, motivação e lazer, fruto de conceitos advindos do período Pós-Revolução Industrial. A Recreação atende aos preceitos Escola Novistas do professor (recreador) como mediador e facilitador da aprendizagem e o aluno como um ser ativo, centro do processo; seus interesses, motivações e auto-realização dirigem a aula. A partir do ensino que privilegiou os aspectos metodológicos em contraposição à ênfase dos conteúdos das matérias, introduz-se nos sistemas públicos de ensino a tecnologia educacional, incorporando à prática escolar os recursos fornecidos por esta tecnologia, criando a Pedagogia Tecnicista ou Analítica, caracterizada pela exacerbação dos meios técnicos de transmissão do conhecimento.(MYAGIMA, 1989, p.07). Após o Estado Novo, busca-se a continuidade da ordem sócio-econômica e, com a evolução da República, o positivismo vai sendo aos poucos superado pelo tecnicismo. Termos como “Ordem e Progresso”, vão sendo substituídos por “Segurança e Desenvolvimento”.(CASTELLANI Fº, 1988, p. 103). Já no período pós-guerra, começa a despontar no Brasil a influência do caráter esportivo, que vai firmando-se paulatinamente, à partir do Método de Educação Física Desportivo Generalizado, fazendo com que até hoje, os esportes determinem o conteúdo da Educação Física Escolar. À partir da Pedagogia Tecnicista, no início dos anos 60, passa-se a atribuir à escola, a função de preparar e qualificar tecnicamente os trabalhadores para um futuro trabalho industrial, fruto do “milagre econômico”. Esta teoria desenvolvimentista, sustentava-se no discurso do crescimento econômico e na ascensão social individual, contribuindo assim para o desenvolvimento do Capitalismo, produzindo mão-de-obra qualificada. (RIGO & CHAGAS, CBCE, 1990, p.179). No tecnicismo, a proposta pedagógica em Educação Física é uma proposta competitivista, com os conteúdos centrados primordialmente nos esportes, dentro de uma visão biológica ou biologizante, que objetiva a performance e o rendimento motor. O esporte foi altamente promovido pelo governo brasileiro, nas décadas de 60, 70 e 80, pelos “princípios da racionalidade, eficiência e produtividade” (SOARES, 1992, p.54).; atrelado à Pedagogia Tecnicista. Como o tecnicismo foi implantado na educação, durante o Regime Militar, dentro das premissas de ordem social e fortalecimento do sistema capitalista, em contraposição aos movimentos de esquerda que eram sufocados no país; o conteúdo esportivo na Educação Física veio a atender com plena eficiência aos interesses do poder, em formar jovens “dóceis e saudáveis” e preparados para uma sociedade competitiva. Assim, o tecnicismo busca por meio do esporte, um “campeão”, promovendo a seletividade, reproduzindo valores dominantes, como disciplina e obediência, não estimulando a crítica e a criatividade.(GUILHERMETI, Revista da Educação Física da UEM, 1991, p.14). “O governo militar investiu na Educação Física em função de diretrizes pautadas no nacionalismo, na integração nacional e na segurança nacional, tanto na formação de um exército composto por uma juventude forte e saudável como na tentativa de desmobilização das forças políticas oposicionistas”.(BRASIL, PCN’s, 2000, p.22). No caso da Educação Básica, a iniciação esportiva (à partir da 5ª série), tornou-se um dos eixos fundamentais para a busca de novos talentos que pudessem vir a participar de competições internacionais representando o país. A Educação Física tornou-se elitista e classificatória (categorização). Ao contrário da pedagogia tradicional, aqui o autoritarismo e o controle dos movimentos dos alunos, acontecem de forma mais sutil, visto que os professores trabalham de forma diferente com os diversos grupos de alunos: os que fazem parte das seleções e equipes escolares e aqueles que são rejeitados, por não possuirem condições de atingir os padrões mínimos necessários para fazerem parte da elite esportiva da escola. (RIGO & CHAGAS, Revista CBCE, 1990, p.182). O professor, nesta pedagogia, assume um caráter de técnico esportivo, com o intuíto de melhorar a eficiência motora e física do aluno com ênfase nas técnicas esportivas, e também, formar e selecionar futuros atletas que venham possivelmente a representar a nação Como meio de resistência e contraposição ao Tecnicismo e a ditadura militar, começam a ganhar adeptos no início dos anos 70, as correntes pedagógicas centradas na dialética e nas teorias críticas da educação, ganhando força e maior solidez, por volta dos anos 80; tendências estas, de cunho progressista e interessadas em propostas pedagógicas voltadas para os interesses da maioria da população e democratização da sociedade. Na década de 80, novas tendências começam a surgir na Educação Física: “Como o Brasil não se tornou uma nação olímpica e a competição esportiva da elite não aumentou o número de praticantes de atividades físicas. Iniciou-se então uma profunda crise de identidade nos pressupostos e no próprio discurso da Educação Física, que originou uma mudança significativa nas políticas educacionais.”(BRASIL, PCN’s, 2000, p.23). Dentro das Pedagogias Progressistas, a Educação Física perde sua ênfase no caráter meramente esportivo, e começa a ganhar características de nível histórico, crítico e social, com a introdução de elementos como aulas teóricas sobre os conteúdos, aulas de história e filosofia da Educação Física, além de contextualizações, discussões e análise de textos sobre os conteúdos programados. Coloca-se como necessidade a compreensão da Educação Física enquanto processo educacional no interior do processo histórico de desenvolvimento da sociedade; e, a partir deste entendimento, estabelecer quais os limites e possibilidades de atuação da Educação Física no processo de transformação social. (GUILHERMETI, 1991, p.15). “Considera-se na avaliação que o patrimônio cultural que se expresa nas possibilidades corporais, no acervo de conhecimentos sobre a cultura corporal, se diferencia de acordo com a condição de classe dos alunos.” (SOARES, Coletivo de autores, 1992, p. 105). Os conteúdos são integrados, os domínios psicomotor, cognitivo e afetivo são vistos de uma forma globalizada, visando a expressividade corporal do aluno, dentro de uma formação crítica. Torna-se difícil porém, afirmar que os profissionais de Educação Física, são fiéis na sua prática profissional, a todos os elementos que caracterizam uma pedagogia ou outra. “Se levarmos em conta a educação brasileira tal como se desenvolve em nossas escolas nos dias atuais, veremos que as diferentes tendências...estão, ao mesmo tempo, presentes na prática pedagógica dos professores e educadores em geral...de tal forma que elas se cruzam e interpenetram.”(SAVIANI, 1998, p.40). Algumas respostas carecem de uma teorização mais ampla sobre os fundamentos da Educação Física Escolar, como por exemplo: Quais os valores desenvolvidos pela mesma na escola? Qual a sua real contribuição ao processo educativo? E, quais as relações que podem ser estabelecidas com a Pedagogia? No que se refere aos valores desenvolvidos pela mesma na escola, HURTADO (1988), classifica alguns valores, como: biológicos e fisiológicos (saúde, qualidades físicas e valores estéticos); psicológicos (valores psíquicos ou emocionais); sociais (camaradagem, disciplina, responsabilidade, liderança, etc., valores morais ou éticos). Segundo a “Carta Brasileira de Educação Física” (CONFEF,2000), a Educação Física pelos seus valores, deve ser compreendida como um dos direitos fundamentais de todas as pessoas...e que ao promover uma educação efetiva para a saúde e ocupação saudável do tempo livre de lazer, constitui-se num meio efetivo para a conquista, de um estilo de vida ativo, dos seres humanos. (p.11). É também, um caminho privilegiado de Educação, pelas suas possibilidades de desenvolver a dimensão motora e afetiva das pessoas, principalmente das crianças e adolescentes, conjuntamente com os domínios cognitivos e sociais, e por tratar de um dos mais preciosos recursos humanos, que é o corpo. Segundo o “Manifesto Mundial da Educação Física” (FIEP, 2000), A Educação Física desenvolve valores como educação para a saúde; educação para o lazer; meio de promoção cultural; instrumento contra a discriminação e exclusão social; fator para a cultura da paz; meio de consciência ambiental. A partir desses valores, de que forma a Educação Física pode contribuir com a aprendizagem? Levando-se em conta de que o objeto de estudo da Educação Física é o movimento humano, e é através deste que as pessoas podem se comunicar e se relacionar com o meio (noção espaço-temporal, percepção, atenção...) e com outras pessoas, além de conhecer-se a sí próprio(esquema corporal). Assim , o desenvolvimento motor está altamente relacionado ao desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo, sendo que deficiências em algum destes três aspectos podem causar déficits de desenvolvimento nos demais. É por meio da exploração do ambiente físico, através de seus movimentos básicos, que a criança inicia seu processo de aprendizagem, relacionando-se com situações, objetos e pessoas. Não pode-se portanto, tentar dissociar o aspecto motor do desenvolvimento dos demais aspectos. Uma criança que não tenha desenvolvido de maneira correta sua lateralidade por exemplo, terá sérias dificuldades de definição da dominância homolateral de algum hemisfério cerebral, o que poderá acarretar problemas na escrita e na leitura, em fases de alfabetização. O não desenvolvimento de aspectos como equilíbrio, ritmo, coordenação motora, esquema corporal, noção espacial, dentre outros; aspectos esses desenvolvidos geralmente na educação infantil e nas séries iniciais; pode acarretar inúmeros prejuízos na vida futura de qualquer ser humano, indo além do campo educacional, adentrando inclusive na sua relação com o mundo do trabalho. Outros conteúdos da Educação Física Escolar, também são essenciais na formação do indivíduo, pelos valores que são trabalhados nestes conteúdos, como por exemplo os jogos e as brincadeiras tradicionais, que possuem objetivos pedagógicos que auxiliam na formação do indivíduo, objetivos como: trabalhar a ansiedade; rever os limites; desenvolver a capacidade de realização; desenvolvimento da autonomia; aprimorar a coordenação motora; desenvolver a organização espacial; melhorar o controle segmentar(eficiência mecânica); aumentar a atenção e a concentração; desenvolver antecipação e estratégia; trabalhar a discriminação auditiva; ampliar o raciocínio lógico; desenvolver a criatividade; desenvolver o ritmo corporal, etc. O conteúdo esportivo, apesar de introduzido na escola com objetivos ideológicos, se bem trabalhado com coerência, competência e alguns cuidados com a competitividade e a seletividade, pode desenvolver capacidades e habilidades motoras; condicionamento físico-orgânico; capacidade de raciocínio; formação de valores e comportamentos, que reforçam a moral; a sociabilização; tomadas de decisão; auto-superação, perda da timidez; motivação e auto-realização. As lutas, a dança e o folclore, também possuem enorme valor na formação do aluno crítico, no sentido do desenvolvimento da expressão corporal; do conhecimento histórico das atividades culturais e folclóricas; da criatividade; do ritmo corporal; dos movimentos naturais; dos aspectos afetivos (sensibilidade); harmonia e equilíbrio psicológico. Dentro desses conteúdos, pode haver uma integração entre a Educação Física e a Pedagogia no sentido de que a finalidade principal das duas áreas, como já foi dito anteriormente, é a formação global do indivíduo em todos seus aspectos. Conteúdos como a recreação, os jogos, as brincadeiras, as danças, o folclore e atividades complementares como acantonamento, passeios, etc.; além da própria psicomotricidade, podem ser trabalhados em conjunto por pedagogos e profissionais de Educação Física, numa troca de conhecimentos específicos de cada área, numa integração que só vem a trazer benefícios para ambos os lados, para a Educação e, principalmente para o aluno. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL. Parâmetros Curriculares
Nacionais. Educação Física. Brasília: Ministério
da Educação, 2.000.
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