EJA 1 - Educação de Jovens e Adultos

Funções,  RecomendaçõesPrincípios

Função reparadora: não se refere apenas à entrada dos jovens e adultos no âmbito dos direitos civis, pela restauração de um direito a eles negado – o direito a uma escola de qualidade –, mas também ao reconhecimento da igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano de ter acesso a um bem real, social e simbolicamente importante. Mas não se pode confundir a noção de reparação com a de suprimento. Para tanto, é indispensável um modelo educacional que crie situações pedagógicas satisfatórias para atender às necessidades de aprendizagem específicas de alunos jovens e adultos.

Função equalizadora: relaciona-se à igualdade de oportunidades, que possibilite oferecer aos indivíduos novas inserções no mundo do trabalho, na vida social, nos espaços da estética e nos canais de participação. A eqüidade éa forma pela qual os bens sociais são distribuídos tendo em vista maior igualdade, dentro de situações específicas. Nessa linha, a EJA representa uma possibilidade de efetivar um caminho de desenvolvimento a todas as pessoas, de todas as idades, permitindo que jovens e adultos atualizem seus conhecimentos, mostrem habilidades, troquem experiências e tenham acesso a novas formas de trabalho e cultura.

Função qualificadora: refere-se à educação permanente, com base no caráter incompleto do ser humano, cujo potencial de desenvolvimento e de adequação pode se atualizar em quadros escolares ou não-escolares. Mais que uma função, é o próprio sentido da educação de jovens e adultos.

(  extraído da Proposta Curricular – 2o. segmento, p.18)


Recomendações da 5a Conferência Internacional sobre Educação de Jovens e Adultos (Confintea)

Segundo as orientações da Confintea, a educação de jovens e adultos deve:  

   priorizar a formação integral voltada para o desenvolvimento de  capacidades e competências adequadas, para que todos possam enfrentar,  no marco do desenvolvimento sustentável, as novas transformações  científicas e tecnológicas e seu impacto na vida social e cultural;     

   contribuir para a formação de cidadãos democráticos, mediante o ensino  dos direitos humanos, o incentivo à participação social ativa e crítica, o  estímulo à solução pacífica de conflitos e a erradicação dos preconceitos  culturais e da discriminação, por meio de uma educação intercultural;    

   promover a compreensão e a apropriação dos avanços científicos,  tecnológicos e técnicos, no contexto de uma formação de qualidade,  fundamentada em valores solidários e críticos, em face do consumismo e  do individualismo;    

   elaborar e implementar currículos flexíveis, diversificados e participativos,  que sejam também definidos a partir das necessidades e dos interesses do  grupo, de modo a levar em consideração sua realidade sociocultural,  científica e tecnológica e reconhecer seu saber;    

   garantir a criação de uma cultura de questionamento nos espaços ou centros  educacionais, contando com mecanismos de reconhecimento da validade  da experiência;    

   incentivar educadores e alunos a desenvolver recursos de aprendizagem  diversificados, utilizar os meios de comunicação de massa e promover a  aprendizagem dos valores de justiça, solidariedade e tolerância, para que se  desenvolva a autonomia intelectual e moral dos alunos envolvidos na EJA.  

 

Em seus documentos, a Confintea coloca como princípios da EJA:    

   a inserção num modelo educacional inovador e de qualidade, orientado  para a formação de cidadãos democráticos, sujeitos de sua ação, valendo-se  de educadores que tenham formação permanente para respaldar a  qualidade de sua atuação;    

   um currículo variado, que respeite a diversidade de etnias, de manifestações  regionais e da cultura popular, cujo conhecimento seja concebido como uma  construção social fundada na interação entre a teoria e a prática e o processo  de ensino e aprendizagem como uma relação de ampliação de saberes;     

   a abordagem de conteúdos básicos, disponibilizando os bens socioculturais  acumulados pela humanidade;   o acesso às modernas tecnologias de comunicação existentes para a melhoria  da atuação dos educadores; 

   a articulação com a formação profissional: no atual estágio de globalização  da economia, marcada por paradigmas de organização do trabalho, essa  articulação não pode ser vista de forma instrumental, pois exige um modelo  educacional voltado para a formação do cidadão e do ser humano em  todas suas dimensões;  

   o respeito aos conhecimentos construídos pelos jovens e adultos em sua  vida cotidiana.    

(  extraído da Proposta Curricular – 2o. segmento, p. 20)

 

 

O uso dos recursos didáticos e tecnológicos 

No levantamento realizado com os professores, apresentado na Parte I  deste volume, a falta e a inadequação de recursos didáticos foram destacadas  entre os problemas sérios da EJA. Tais recursos desempenham papel muito  importante no processo de ensino e aprendizagem, desde que se tenha clareza  das possibilidades e dos limites que cada um deles apresenta e de como podem  ser inseridos numa proposta global de trabalho.  

Quando a seleção de recursos didáticos é feita pela equipe de professores  da escola, cria-se uma oportunidade de potencializar o seu uso e escolher,  dentre a vasta gama de recursos existentes, quais são os mais adequados a sua  proposta de trabalho.  

Atualmente, a tecnologia põe à disposição da escola uma série de recursos  valiosos como o computador, a televisão, o videocassete, as filmadoras,  gravadores e toca-fitas, dos quais os professores devem fazer o melhor uso  possível. 

No entanto, também é importante fazer bom uso de recursos didáticos  como quadro-negro, ilustrações, mapas, globo terrestre, discos, livros,  dicionários, revistas, jornais, folhetos de propaganda, cartazes, modelos, jogos  etc. Aliás, materiais de uso social, e não especificamente escolares, são ótimos  recursos de trabalho, pois os alunos aprendem sobre algo que tem função social  real e se mantêm atualizados em relação ao que acontece no mundo,  estabelecendo o vínculo necessário entre o que é aprendido na escola e o  conhecimento extra-escolar.  

Entre os diferentes recursos, o livro didático é um dos materiais de mais  forte influência na prática de ensino brasileira. É preciso que os professores  fiquem atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições que apresentem  em relação aos objetivos educacionais propostos. Além disso, é importante  considerar que o livro didático não deve ser o único material a ser utilizado,  pois a variedade de fontes de informação é que contribuirá para o aluno ter  uma visão ampla do conhecimento.  

Na educação de jovens e adultos, é comum que os professores utilizem  livros didáticos destinados ao ensino de crianças, ou organizem materiais  apostilados. Existe de fato uma carência de material específico destinado a  esse público; no entanto, essas práticas em geral se pautam pela organização  de conteúdos que excluem as necessidades reais de aprendizagem desses  alunos.

(  extraído da Proposta Curricular – 2o. segmento, p. 139-140)

 

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