FFCHLA - Mestrado em Educação e Curso de Pedagogia
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PEDAGOGIA EM DEBATE: CONSIDERAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Maria Arlete Rosa *
Mestrado em Educação
Osiris Manne Bastos **
Regina Bergamaschi Bley ***
Alunos do Mestrado em Educação
Universidade Tuiuti do Paraná


              Este trabalho trata do tema de educação, sociedade  e meio ambiente. O problema abordado busca refletir sobre a constituição da educação ambiental como prática social na dimensão da sustentabilidade e da cidadania no contexto brasileiro na última década? Assim, coloca-se como objetivos conhecer e analisar os aspectos constituidores da educação ambiental enquanto prática social de sustentabilidade no âmbito da cidadania.
               A reflexão em torno dessa temática, passa inicialmente por considerar os elementos explicativos da relação sociedade/educação/meio ambiente, no sentido da educação ambiental, da cidadania e da sustentabilidade. Assim, nesse contexto de educação o conteúdo educativo resulta da construção do conhecimento da relação homem-natureza a partir de sua prática social revestida por valores - históricos, políticos, sociais, econômicos, éticos e culturais entre outras -, constituindo-se como processo de aprendizado na dimensão da sustentabilidade individual e coletiva.
              A década de 70 marca o surgimento da educação ambiental como tema a ser considerado e como objeto de estudo a ser desenvolvido. Assim, como o conceito de meio ambiente, o conceito de educação ambiental é caracterizado pela escassez de trabalhos que aprofundem a compreensão dessa temática, em especial, no meio acadêmico. 
              Trabalhos como o de DIAS(1992), REIGOTA(1995) e SORRENTINO(1995) são referências significativas, tendo em vista que contribuem para a compreensão das determinações, num sentido amplo, da educação ambiental. Estes estudos tratam de aspectos gerais da educação ambiental, na medida que buscam analisar determinados programas de educação ambiental formal ou institucional. 
              Destaca-se o enfoque de SORRENTINO(1995) ao classificar a educação ambiental em quatro grandes correntes: conservacionista - presente nos países mais desenvolvidos, no Brasil sua penetração se dá a partir da atuação de entidades conservacionistas; educação ao ar livre - adeptos de modalidades de esporte e lazer junto à natureza, como: os antigos naturalistas, escoteiros e participantes de grupos de espeleologia, caminhadas, montanhismo, acampamentos. Na dimensão de educação ambiental inclui grupos de “caminhadas ecológicas“ , “trilhas de interpretação da natureza”, “turismo ecológico”  e outros; gestão ambiental - impulsionada no período militar, expressa-se pelos movimentos contra a poluição das empresas e as conseqüências do sistema predador do ambiente e do ser humano e pelos movimentos por liberdades democráticas, com profundas raízes nos movimentos sociais da América Latina; economia ecológica - baseada no conceito do  ecodesenvolvimento de Sachs. Ganhou impulso na metade da década de 80 a partir do documento “Nosso Futuro Comum” (Comissão Brundtland,1987); “Nossa própria agenda” (1989) e a “Estratégia Mundial para a Conservação” - “ Cuidando do Planeta Terra” (IUCN/PNUMA/WWF, 1980 e 1991) e com as diretrizes de atuação dos bancos mundiais e documentos da FAO,UNESCO e outros órgãos internacionais. Aglutinadora por um lado de empresários, governantes e uma parcela das organizações não governamentais e por outro lado daqueles que sempre estiveram na oposição ao atual modelo de desenvolvimento e que acreditam que a primeira vertente é só uma nova roupagem para a manutenção do estado de coisas
         Ainda, a educação ambiental pode ser tratada a partir de dois enfoques. Primeiro, aquela educação realizada por instituições e órgãos públicos, através da formalização de programas de educação ambiental. Nesse enfoque, também se considera a educação ambiental realizada por organizações não governamentais, através de ações ambientais educativas, em que o aprendizado de conteúdo ambiental é preestabelecido, constituindo-se como um curso ou programa de educação ambiental. 
         O segundo enfoque considera a abordagem de educação ambiental, enquanto educação para a cidadania na dimensão ambiental, constituída a partir do contexto das relações produzidas no bojo da sociedade civil, diante do impacto gerado pela ação do poder público e as decorrentes políticas públicas.
         A educação ambiental nesta abordagem considera a prática social como elemento determinante do aprendizado autoconstruído no processo de participação. O resultado deste aprendizado verifica-se na dimensão das relações políticas, configurado pela qualidade da prática social; pela qualidade das ações políticas produzidas; pela qualidade da organização social, política e ambiental; pela qualidade da participação social e política e pelos resultados adquiridos e conquistados na luta pela cidadania. Trata-se da educação ambiental como possibilidade de motivar e sensibilizar o indivíduo a transformar as diferentes formas de participação em fatores potenciais para dinamizar a sociedade e ampliar o controle social sobre a coisa pública. Trata-se de construir uma nova proposta de sociabilidade a partir da educação para a participação e cidadania (ROSA, 1999). 

ALGUNS PRESSUPOSTOS 

         Os paradigmas de análise da problemática ambiental fornecem os subsídios explicativos para se compreender a constituição da educação ambiental  no contexto de tais relações .
         Os antecedentes históricos caracterizam-se como um dos aspectos que contribuem para a compreensão desta temática. Para CASCINO (2000, p. 36), em 1968, registrou-se a primeira produção escrita relevante - “Os limites do Crescimento Econômico” de Dennis L. Meadows - publicada pelo Clube de Roma. Esta obra tratava de questões ambientais e limites para o desenvolvimento humano, da relação entre consumo, reservas dos recursos naturais e minerais e a capacidade e limites do planeta para suportar desgastes decorrentes do crescimento populacional. 
         O estudo buscava examinar a complexidade de problemas que afligiam os povos de todas as nações, como: pobreza em meio a abundância, deteriorização do meio ambiente, perda da confiança nas instituições, expansão urbana descontrolada, insegurança de emprego, alienação da juventude, rejeição de valores tradicionais, inflação e outros transtornos econômicos e monetários.
          Em 1970, outro evento relevante foi o Congresso de Niza que tratava da temática de interdisciplinaridade nas Universidades, cujos resultados foram publicados em 1972 - Conferência de Estocolmo. Evidenciavam a crise ambiental gerada em decorrência do crescimento econômico e populacional, da mudança tecnológica, da exploração dos recursos e da produção de substâncias contaminadoras(LEFF, 1999, p. 113).
           Em 1971, marco importante foi o estudo - Manifesto para a Sobrevivência -, publicado pela revista inglesa The Ecologist, tendo a adesão de renomados cientistas da época. 
           Tais eventos contribuíram para o processo de realização, em 1972, da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo. Este evento é considerado como marco referencial na trajetória da relação educação e meio ambiente. 
            Em 1977, realiza-se a Conferência de Tbilisi, Geórgia. Esse evento sendo marco significativo, estabeleceu referenciais conceituais de meio ambiente, que passou a incorporar os aspectos oriundos das atividades de âmbito social, econômica e cultural entre outras, ou seja, considerou os aspectos decorrentes da ação do homem. 
            Já em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU publicou o documento chamado  Relatório Brundtland -“Nosso Futuro Comum”. Estabelecia o conceito de desenvolvimento sustentável como sendo aquele que, devia atender às necessidades do presente sem comprometer as das gerações futuras, numa tentativa de conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental
            Nos anos 90, a questão do meio ambiente torna-se essencial nas discussões internacionais, nas preocupações dos Estados – e, principalmente, dos grandes centros mundiais de poder.
Em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente a ECO 92, reunindo representantes de 173 países e que, segundo SORRENTINO (1995, p. 21), foram elaborados dois importantes documentos para a história da Educação Ambiental: o “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e capítulo 36 da Agenda 21 que tratou do ‘Fomento da Educação, Capacitação e Conscientização’” . 
          A partir da década de 70, o movimento ecológico surge no Brasil, tendo como influência as intensas manifestações, em torno da questão ambiental, de forma mais global. O Brasil foi o país da América Latina, onde esse movimento desenvolve-se mais cedo e de maneira mais significativa. Tomaram corpo os movimentos ecológicos, que questionavam o modelo de desenvolvimento dominante e, assim, surgindo o “paradigma teórico da ecologia política”(VIOLA, 1987,  p. 68-80).
           Nas últimas duas décadas vêm se construindo um novo paradigma cientifico nas ciências sociais, que considera os recursos naturais do planeta como finitos e sujeitos a sérias degradações. Isso significa estudar os processos sociais no contexto maior da biosfera, considerando-se que as práticas humanas deliberadas afetam o meio ambiente, e têm provocado efeitos negativos não previstos.
           A compreensão da trajetória de construção dos paradigmas analíticos das questões ambientais, constituem-se em mais um dos aspectos explicativos para a constituição da educação ambiental. Neste sentido, destaca-se o movimento de transformação dos paradigmas ao longo da história do homem e da sociedade, tendo como ponto de partida o paradigma dominante do século XVI ao XVII –  paradigma da religião. Tal enfoque legitimou as relações sociais e culturais européias, modificando-se o paradigma da nação, baseado no princípio de que cada Rei impõe a sua nação, chegando no paradigma econômico da sociedade atual, em que os interesses  do mercado globalizado, estão a serviço de um capitalismo que se tornou um modo de produção globalizado. 
           SANTOS (2001, p. 41) considera que “vivemos numa sociedade intervalar, uma sociedade de transição paradigmática, vivendo simultaneamente excessos de determinismos e excessos de indeterminismos”. Para o autor, o paradigma da modernidade está baseado em dois modelos de conhecimento que devem estar articulados e em equilíbrio dinâmico: o conhecimento emancipação - a trajetória entre o colonialismo e a solidariedade - e o conhecimento regulação - a trajetória entre o caos e a ordem. A realização deste equilíbrio dinâmico, entre os dois modelos, foi confiada às três  lógicas de racionalidade: a  racionalidade moral-prática, a racionalidade estético-expressiva, e a racionalidade  cognitivo-instrumental. 
           Constata-se que nos últimos duzentos anos a racionalidade cognitivo-instrumental da ciência e da tecnologia  predominou sobre às demais.  Com isto, o conhecimento-regulação conquistou a primazia sobre o conhecimento-emancipação: a ordem transformou-se na forma  hegemônica  de  saber  e  o caos  na  forma  hegemônica  de  ignorância. Este desequilíbrio a favor do conhecimento-regulação permitiu  a  este ultimo recodificar o conhecimento-emancipação(SANTOS, 2001, p. 79).
             A forma de uso predatório da natureza pelo homem não é recente. Para VIOLA “o que é novo na história humana é a escala dos instrumentos de predação, cujo símbolo máximo são as armas nucleares”. (1987, p. 67). Exemplo significativo foi a explosão da bomba atômica em Hiroshima-Nagasaki, sendo marco de referência da crise ambiental mundial, ao colocar a humanidade frente à sua capacidade de auto-destruição.
            A esse respeito, LEFF(2001) afirma que, a problemática ambiental é de caráter iminentemente social, gerada e atravessada por processos sociais surgidos nas ultimas décadas do século XX - como uma “crise de civilização” -, questionando a racionalidade econômica e tecnológica dominantes. 
Segundo o autor, esta crise tem sido explicada a partir de diversas perspectivas ideológicas: por um lado, percebida como resultado da pressão exercida pelo crescimento populacional sobre os recursos do planeta e por outro, entendida como resultante da acumulação de capital e maximização da taxa de juro a curto prazo “que induzem a padrões tecnológicos de uso e ritmos de exploração da natureza, bem como formas de consumo, que vêm esgotando as reservas de recursos naturais, degradando a fertilidade dos solos e afetando as condições de regeneração dos ecossistemas naturais” (LEFF, 2001, p.59).
           A resolução dos problemas ambientais, de acordo com LEFF, deve considerar a “possibilidade de incorporar condições ecológicas e bases de sustentabilidade aos processos econômicos – de internalizar as externalidades ambientais na racionalidade econômica e os mecanismos de mercado – e construir uma racionalidade ambiental e um estilo alternativo de desenvolvimento, implica a ativação e objetivação de um conjunto de processos sociais”(LEFF, 2001, p. 111). 
           Neste enfoque de meio ambiente a partir da noção de sustentabilidade, considera-se HOGAN, ao afirmar da necessária inter-relação entre a capacidade de suporte criada através da luta pela ampla garantia de qualidade de vida autoconstruída, buscando assegurar o equilíbrio ambiental do meio urbano, almejando a conquista da justiça social no atual quadro institucional de capitalismo de mercado(HOGAN: in CEDEC, 1993, p. 58-70).
            Assim, a noção de sustentabilidade implica em considerar o desenvolvimento sustentável ou economia da sustentabilidade, envolvendo o conceito econômico global, em que a economia como ciência estuda e pesquisa o homem em sociedade na busca pela satisfação de suas ilimitadas necessidades. Sendo as necessidades ilimitadas, o conflito se estabelece diante da lei da escassez dos bens ofertados pela natureza na sua condição de limitados e finitos(PINHO;VASCONCELOS, 2001, p.12-13). Portanto, a utilização racional destes recursos coloca-se como condição vital para a sustentabilidade da espécie humana, evitando que a natureza e o homem entrem em vias de colisão.
           Conclui-se que, a noção de economia da sustentabilidade pode parecer como mais uma adição ao rol de termos inacessíveis aos leigos; como a expressão do modismo desencadeado pela  ênfase sobre o “verde” e ainda, como uma inovação vocabular.
           Talvez ela seja tudo isso, mas seu sentido é claro “trata-se de uma preocupação justificada com o processo econômico na sua perspectiva de fenômeno de dimensão irrecorrivelmente ecológica sujeita a condicionamentos ditadas pelas leis fixas da natureza, da biosfera” ( CAVALCANTI, 1994, p.17).
            Assim, o debate sobre tais questões no âmbito da pedagogia, busca subsidiar a compreensão da temática de educação ambiental, na medida que a educação ambiental esta inserida como conteúdo curricular no contexto dos temas transversais no Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, sendo, portanto, um desafio pedagógico significativo a ser considerado na gestão da educação. 

Bibliografia Recomendada

CASCINO, F.. Educação Ambiental. São Paulo: Senac,1999.
CAVALCANTI, C.. Desenvolvimento e Natureza. Estudos para uma sociedade sustentável. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
DIAS, G. F.. Educação Ambiental – princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1992. 
LEFF,E.. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001. 
______. Educação Ambiental e desenvolvimento Sustentável . in: REIGOTA, M. (org). Verde Cotidiano e o meio ambiente em discussão. São Paulo: DP e A, 1999. 
PINHO, D. B..; VASCONCELOS, M. A. S..(Org.). Manual de Economia. São Paulo: Saraiva, 2001
REIGOTA, M.. Verde Cotidiano e o Meio Ambiente em Discussão. São Paulo: DP e A, 1999. 
ROSA, M.A.. Curitiba: um estudo sobre a prática educativa de sustentabilidade – o caso da Vila Sagrada família. Tese de Doutoramento em História e Filosofia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,1999. 
SANTOS, B. de S.. A transição Paragmática da regulação á Emancipação. Porto: Oficina do Centro de Estudos Sociais, 1979.
SORRENTINO,M. Educação Ambiental e Universidade: um estudo de caso.Tese de Doutorado,Programa de Pós-Graduação em Educação (Área de Concentração:Didática) da Faculdade de Educação da USP, São Paulo, 1995.
VIOLA,E. O movimento ecológico no Brasil (1974 –1986). In: PÁDUA, J.A.. (Org.). Ecologia e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo( IUPERJ), 1987.
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*  Professora do PPG-Ed – Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná. Doutora em Educação pela 
     PUC- São Paulo. Curitiba pinheiral@uol.com.br

 **   Mestrando do PPG – Ed - Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná e Diretor da Faculdade da Lapa/PR
 ***  Mestranda - Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná. Bolsista da CAPES. Curitiba/Paraná. 
          regina.bergamaschi@acad.utp.br         

 
 

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